Além da briga feia de Isaac Newton com o matemático alemão Gottfried Leibniz pela autoria da invenção do cálculo diferencial e integral, a fornalha de vaidades inclui a queda-de-braço entre o francês Luc Montagnier e o americano Robert Gallo pela descoberta do vírus da Aids e a acirrada disputa entre os paleontólogos Donald Johanson e Richard Leakey sobre as espécies que deram origem ao Homo sapiens. Essa última, embora nunca tenha perdido a elegância, já se espalhou por discípulos e seguidores dos mestres.
Nenhum cientista pode ter a pretensão de defender a verdade absoluta. Mas na crônica da ciência não faltam gênios convencidos de que a resposta mais correta está em seu próprio umbigo.
Um dos maiores gênios científicos de todos os tempos, o cientista inglês Isaac Newton (1642-1727), descobridor das três leis do movimento (as chamadas leis de Newton) e da lei da gravidade, entre outras, construiu também a mais poderosa ferramenta matemática já pensada, o cálculo diferencial e integral. Mas não foi o único a realizar a proeza. O cientista e filósofo Gottfried Leibniz (1646-1716) também fez a mesma descoberta por si só, na Alemanha.
Newton fez o cálculo em 1665, dez anos antes do alemão, mas divulgou sua descoberta apenas entre cientistas. Leibniz a desconhecia quando divulgou o seu trabalho, em 1684. Vinte anos antes, portanto.
Na época, a autoria da importante descoberta dividiu os cientistas. Houve ferrenhos defensores de ambos os lados; os ingleses tomaram o partido de Newton e a maioria dos matemáticos dos demais países europeus, o de Leibniz. Só que o gênio inglês passava por cima de qualquer um que ousasse competir com ele, sem cerimônia. Escorado no poder de presidente da mais respeitada instituição científica da época, a Royal Society of London, articulou uma pesada campanha contra o alemão.
Newton decidiu que sua instituição deveria formar uma comissão para investigar a descoberta do cálculo. Mas, quando o relatório foi terminado, simplesmente se apoderou dele e reescreveu-o, em seu benefício, sem que ninguém ousasse criticá-lo. Os colegas tinham tanto medo dele que, desde sua eleição como presidente da Royal Society, em 1703, até sua morte, em 1727, Newton foi sempre reeleito sem enfrentar competidor. Seu poder também era político: foi diretor da Casa da Moeda da Grã-Bretanha (cargo que também ocupou até a morte) e o primeiro cientista a ser ordenado cavaleiro do reino.
Leibniz cometeu o erro tático de xingar de desonesto seu adversário todo-poderoso, em uma carta de 1711 dirigida ao secretário da Royal Society, na qual requeria a paternidade da invenção do cálculo. Newton enfureceu-se a ponto de rechear todos os textos que escreveu sobre o assunto, até a morte de Leibniz, com insultos ao opositor. Também incitou colegas a escrever e publicar textos injuriosos contra ele. E publicou artigos ofensivos ao alemão sob pseudônimo.
Mas não parou aí. Em 1714, o príncipe inglês George I, originário da casa de Brusnwick, na Alemanha, virou rei da Grã-Bretanha. Leibniz era conselheiro e historiador da corte dos Brunswick, em Hannover. Por meio de George I, Newton conseguiu demitir o rival. Na miséria e no ostracismo, o alemão morreu dois anos depois. Só seu ex-secretário compareceu ao enterro.
Em contraste, onze anos depois Newton foi enterrado com honras de chefe de estado na Abadia de Westminster. Pode-se dizer que ganhou a disputa. Mas, aos poucos, a notação criada por Leibniz para o cálculo diferencial e integral provou-se mais ágil.
Acabou vingando e hoje é usada para mandar foguetes ao espaço e criar carros cada vez mas seguros.
Trapaça na descoberta do vírus da Aids?
Em 1983, o cientista francês Luc Montagnier, do Instituto Pasteur, mandou para os Estados Unidos amostras de um novo vírus para o colega americano Robert Gallo, do Instituto Nacional de Saúde americano. No ano seguinte, Gallo anunciou ter descoberto o vírus da Aids. Só não contou a ninguém que a amostra do HIV havia sido cedida por Montagnier.
Durante seis anos o americano sustentou, apesar dos protestos do francês, que sua equipe descobrira o HIV. Mas, depois de muito escândalo e da intromissão dos governos dos Estados Unidos e da França, fez uma retratação pública na revista Nature, em 1991. Disse, aí, ter concluído que o vírus isolado por ele, em 1984, era o mesmo isolado por Montagnier em Paris no ano anterior. E admitiu que suas amostras de sangue tinham sido contaminadas “acidentalmente” pelo vírus de Montagnier.
“Gallo usou o vírus francês”.Disse que sua amostra foi contaminada acidentalmente, mas nunca saberemos a verdade. Mas o detalhe importante é que Gallo recebeu vírus de vários laboratórios. Ele tinha o único capaz de provar que aquele era a causa da doença – e o fez. Montagnier tinha dúvida de que o vírus enviado por ele era capaz de causar a Aids sozinho. Na Nature o americano afirmou: “Não há dúvidas de que foi Montagnier quem primeiro descreveu o HIV. Mas nós fomos os primeiros a provar que se tratava do vírus da Aids”.
Montagnier, entretanto, rechaça a versão. Ele sempre disse que também provou que o HIV era o vírus da Aids. Em 1990, declarou à revista Veja: “Nossa equipe isolou um tipo novo e bem diferente de vírus daquele que Robert Gallo descrevera em trabalhos anteriores. Depois, estabelecemos que ele era a verdadeira causa da Aids por meio de testes em pacientes doentes, e desenvolvemos, pela primeira vez, o Teste Elisa” – usado até hoje para detectar a doença. Quando saiu a retratação na Nature, Montagnier foi duro: “Por que a mentira de Gallo foi sustentada durante tanto tempo?”
Em 1987, os governos americano e francês colocaram panos quentes na disputa dividindo formalmente a paternidade da descoberta e os royalties dos testes anti-Aids. Mas, em 1992, o Departamento de Integridade Científica do Serviço de Saúde Pública, órgão responsável pela apuração da má conduta ética dos cientistas nos Estados Unidos, abriu um processo contra o pesquisador tcheco Mikulas Popovic, um dos colaboradores de Gallo. Popovic foi o autor principal de um artigo publicado na revista Science, co-assinado por Gallo, anunciando a descoberta do HIV. Usou os dados de Montaigner mas não deu crédito. Após três anos de investigação, foi inocentado. Segundo o Departamento, não havia provas que comprovassem a intenção deliberada de utilizar informações fornecidas pelo francês sem citá-lo. Com isso, o processo contra Popovic foi arquivado e decidiu-se não julgar o caso de Gallo também por falta de provas. Ou seja, legalmente o americano foi absolvido.
Foi uma solução diplomática. Uma acomodação. A ética ganhou mais uma cicatriz. A postura de Gallo não foi idônea. Nesse caso, Montagnier acabou com as honras. O americano foi inocentado de fraude, mas sua frase à revista Time quando soube do arquivamento do caso foi sugestiva: “Sinto-me perdoado”.
Como o HIV foi isolado
Luc Montagnier descobriu o vírus da Aids em 1983.
O material pesquisado foi um glânglio de um paciente infectado com uma doença que atingia os homossexuais.
1. Montagnier separou do tecido contaminado vários linfócitos, as células de defesa.
2. Misturou linfócitos com proteína para se multiplicarem. Sabia que dentro deles havia um retrovírus, um vírus que se reproduz com material da célula que invade. Conheciam-se apenas dois retrovírus: um infectava camundongos e o outro, o HTLV, provocava um tipo raro de Leucemia. Ele desconfiava da existência de um terceiro.
3. A amostra foi misturada com manganês, fundamental para a replicação do vírus do camundongo. Nada aconteceu. Depois usou-se magnésio, indispensável para o HTLV. Resultado: ele proliferou.
4. O cientista, então, adicionou anticorpos ao HTLV. Se duelassem, tratava-se do mesmo vírus. Isso não aconteceu, confirmando que era um organismo novo: o HIV.
O Davi americano contra o Golias inglês
Muitos vêem assim a briga dos paleontólogos Donald Johanson e Richard Leakey. Afinal, Johanson disputa contra uma família inteira. Louis (1903-1972) e Mary (1913-1996) Leakey, pais de Richard, foram dois paleontólogos extraordinários. O casal descobriu duas espécies de ancestrais do homem, o Australopithecus boisei e o Homo habilis, que viveram há 1,8 milhão de anos na atual Tanzânia, na África. Agregaram novas peças ao quebra-cabeça da evolução.
A polêmica de Johanson com os Leakey começou em 1974 com a descoberta do fóssil Lucy, na Etiópia, pelo americano. Após a datação, descobriu-se que ela havia vivido há 3,2 milhões de anos. Johanson afirmou que Lucy pertencia a uma nova espécie, a Australopithecus afarensis. Até aqui tudo bem, mas quando propôs uma nova teoria da evolução, estabelecendo seu achado como o ancestral humano mais antigo e sustentando que o Homo sapiens evoluíra a partir do afarensis, Richard pôs a boca no mundo.
Nessa altura de sua vida, Leakey já era mais famoso do que os pais por suas pesquisas na África. Ele foi o paleontólogo que mais descobriu fósseis humanos, entre eles o crânio completo de um Australopithecus boisei, no Lago Turkana, no Quênia, em 1969. Em artigos, conferências e entrevistas, o cientista passou ao ataque, desqualificando a hipótese do adversário. Em 1979, a discussão chegou à primeira página do jornal The New York Times, com Johanson advogando sua tese e Leakey defendendo a sua. Contudo, apesar da paixão, a polêmica nunca descambou para a baixaria. Jamais extrapolou os limites éticos de uma controvérsia entre cientistas civilizados.
A divergência principal é que, para o inglês, as espécies de homens e chimpanzés se separaram ao mesmo tempo do tronco dos primatas, há 7 milhões de anos. Para Johanson, entretanto, os homens não são tão antigos, já que evoluíram do ramo do afarensis, uma mistura de homem com chimpanzé.
Quando o homem se divorciou do chimpanzé?
Os palentólogos Richard Leakey e Donald Johanson estabeleceram linhagens genealógicas diferentes para a evolução da espécie humana.
Homo sp
Segundo Leakey o ancestral do homem surgiu há 7 milhões de anos. Mas seu fóssil nunca foi achado. Ele é identificado genéricamente como Homo sp.
Australopithecus afarensis
Johanson considera-o o primeiro homem. Período: 3,9 a 3 milhões de anos atrás. Altura: entre 1,07 e 1,52 metro. Crânio entre 375 e 550 centímetros cúbicos.
Rivalidade na Ciência
Além da briga feia de Isaac Newton com o matemático alemão Gottfried Leibniz pela autoria da invenção do cálculo diferencial e integral, a fornalha de vaidades inclui a queda-de-braço entre o francês Luc Montagnier e o americano Robert Gallo pela descoberta do vírus da Aids e a acirrada disputa entre os paleontólogos Donald Johanson e Richard Leakey sobre as espécies que deram origem ao Homo sapiens. Essa última, embora nunca tenha perdido a elegância, já se espalhou por discípulos e seguidores dos mestres.
Nenhum cientista pode ter a pretensão de defender a verdade absoluta. Mas na crônica da ciência não faltam gênios convencidos de que a resposta mais correta está em seu próprio umbigo.
Um dos maiores gênios científicos de todos os tempos, o cientista inglês Isaac Newton (1642-1727), descobridor das três leis do movimento (as chamadas leis de Newton) e da lei da gravidade, entre outras, construiu também a mais poderosa ferramenta matemática já pensada, o cálculo diferencial e integral. Mas não foi o único a realizar a proeza. O cientista e filósofo Gottfried Leibniz (1646-1716) também fez a mesma descoberta por si só, na Alemanha.
Newton fez o cálculo em 1665, dez anos antes do alemão, mas divulgou sua descoberta apenas entre cientistas. Leibniz a desconhecia quando divulgou o seu trabalho, em 1684. Vinte anos antes, portanto.
Na época, a autoria da importante descoberta dividiu os cientistas. Houve ferrenhos defensores de ambos os lados; os ingleses tomaram o partido de Newton e a maioria dos matemáticos dos demais países europeus, o de Leibniz. Só que o gênio inglês passava por cima de qualquer um que ousasse competir com ele, sem cerimônia. Escorado no poder de presidente da mais respeitada instituição científica da época, a Royal Society of London, articulou uma pesada campanha contra o alemão.
Newton decidiu que sua instituição deveria formar uma comissão para investigar a descoberta do cálculo. Mas, quando o relatório foi terminado, simplesmente se apoderou dele e reescreveu-o, em seu benefício, sem que ninguém ousasse criticá-lo. Os colegas tinham tanto medo dele que, desde sua eleição como presidente da Royal Society, em 1703, até sua morte, em 1727, Newton foi sempre reeleito sem enfrentar competidor. Seu poder também era político: foi diretor da Casa da Moeda da Grã-Bretanha (cargo que também ocupou até a morte) e o primeiro cientista a ser ordenado cavaleiro do reino.
Leibniz cometeu o erro tático de xingar de desonesto seu adversário todo-poderoso, em uma carta de 1711 dirigida ao secretário da Royal Society, na qual requeria a paternidade da invenção do cálculo. Newton enfureceu-se a ponto de rechear todos os textos que escreveu sobre o assunto, até a morte de Leibniz, com insultos ao opositor. Também incitou colegas a escrever e publicar textos injuriosos contra ele. E publicou artigos ofensivos ao alemão sob pseudônimo.
Mas não parou aí. Em 1714, o príncipe inglês George I, originário da casa de Brusnwick, na Alemanha, virou rei da Grã-Bretanha. Leibniz era conselheiro e historiador da corte dos Brunswick, em Hannover. Por meio de George I, Newton conseguiu demitir o rival. Na miséria e no ostracismo, o alemão morreu dois anos depois. Só seu ex-secretário compareceu ao enterro.
Em contraste, onze anos depois Newton foi enterrado com honras de chefe de estado na Abadia de Westminster. Pode-se dizer que ganhou a disputa. Mas, aos poucos, a notação criada por Leibniz para o cálculo diferencial e integral provou-se mais ágil.
Acabou vingando e hoje é usada para mandar foguetes ao espaço e criar carros cada vez mas seguros.
Trapaça na descoberta do vírus da Aids?
Em 1983, o cientista francês Luc Montagnier, do Instituto Pasteur, mandou para os Estados Unidos amostras de um novo vírus para o colega americano Robert Gallo, do Instituto Nacional de Saúde americano. No ano seguinte, Gallo anunciou ter descoberto o vírus da Aids. Só não contou a ninguém que a amostra do HIV havia sido cedida por Montagnier.
Durante seis anos o americano sustentou, apesar dos protestos do francês, que sua equipe descobrira o HIV. Mas, depois de muito escândalo e da intromissão dos governos dos Estados Unidos e da França, fez uma retratação pública na revista Nature, em 1991. Disse, aí, ter concluído que o vírus isolado por ele, em 1984, era o mesmo isolado por Montagnier em Paris no ano anterior. E admitiu que suas amostras de sangue tinham sido contaminadas “acidentalmente” pelo vírus de Montagnier.
“Gallo usou o vírus francês”.Disse que sua amostra foi contaminada acidentalmente, mas nunca saberemos a verdade. Mas o detalhe importante é que Gallo recebeu vírus de vários laboratórios. Ele tinha o único capaz de provar que aquele era a causa da doença – e o fez. Montagnier tinha dúvida de que o vírus enviado por ele era capaz de causar a Aids sozinho. Na Nature o americano afirmou: “Não há dúvidas de que foi Montagnier quem primeiro descreveu o HIV. Mas nós fomos os primeiros a provar que se tratava do vírus da Aids”.
Montagnier, entretanto, rechaça a versão. Ele sempre disse que também provou que o HIV era o vírus da Aids. Em 1990, declarou à revista Veja: “Nossa equipe isolou um tipo novo e bem diferente de vírus daquele que Robert Gallo descrevera em trabalhos anteriores. Depois, estabelecemos que ele era a verdadeira causa da Aids por meio de testes em pacientes doentes, e desenvolvemos, pela primeira vez, o Teste Elisa” – usado até hoje para detectar a doença. Quando saiu a retratação na Nature, Montagnier foi duro: “Por que a mentira de Gallo foi sustentada durante tanto tempo?”
Em 1987, os governos americano e francês colocaram panos quentes na disputa dividindo formalmente a paternidade da descoberta e os royalties dos testes anti-Aids. Mas, em 1992, o Departamento de Integridade Científica do Serviço de Saúde Pública, órgão responsável pela apuração da má conduta ética dos cientistas nos Estados Unidos, abriu um processo contra o pesquisador tcheco Mikulas Popovic, um dos colaboradores de Gallo. Popovic foi o autor principal de um artigo publicado na revista Science, co-assinado por Gallo, anunciando a descoberta do HIV. Usou os dados de Montaigner mas não deu crédito. Após três anos de investigação, foi inocentado. Segundo o Departamento, não havia provas que comprovassem a intenção deliberada de utilizar informações fornecidas pelo francês sem citá-lo. Com isso, o processo contra Popovic foi arquivado e decidiu-se não julgar o caso de Gallo também por falta de provas. Ou seja, legalmente o americano foi absolvido.
Foi uma solução diplomática. Uma acomodação. A ética ganhou mais uma cicatriz. A postura de Gallo não foi idônea. Nesse caso, Montagnier acabou com as honras. O americano foi inocentado de fraude, mas sua frase à revista Time quando soube do arquivamento do caso foi sugestiva: “Sinto-me perdoado”.
Como o HIV foi isolado
Luc Montagnier descobriu o vírus da Aids em 1983.
O material pesquisado foi um glânglio de um paciente infectado com uma doença que atingia os homossexuais.
1. Montagnier separou do tecido contaminado vários linfócitos, as células de defesa.
2. Misturou linfócitos com proteína para se multiplicarem. Sabia que dentro deles havia um retrovírus, um vírus que se reproduz com material da célula que invade. Conheciam-se apenas dois retrovírus: um infectava camundongos e o outro, o HTLV, provocava um tipo raro de Leucemia. Ele desconfiava da existência de um terceiro.
3. A amostra foi misturada com manganês, fundamental para a replicação do vírus do camundongo. Nada aconteceu. Depois usou-se magnésio, indispensável para o HTLV. Resultado: ele proliferou.
4. O cientista, então, adicionou anticorpos ao HTLV. Se duelassem, tratava-se do mesmo vírus. Isso não aconteceu, confirmando que era um organismo novo: o HIV.
O Davi americano contra o Golias inglês
Muitos vêem assim a briga dos paleontólogos Donald Johanson e Richard Leakey. Afinal, Johanson disputa contra uma família inteira. Louis (1903-1972) e Mary (1913-1996) Leakey, pais de Richard, foram dois paleontólogos extraordinários. O casal descobriu duas espécies de ancestrais do homem, o Australopithecus boisei e o Homo habilis, que viveram há 1,8 milhão de anos na atual Tanzânia, na África. Agregaram novas peças ao quebra-cabeça da evolução.
A polêmica de Johanson com os Leakey começou em 1974 com a descoberta do fóssil Lucy, na Etiópia, pelo americano. Após a datação, descobriu-se que ela havia vivido há 3,2 milhões de anos. Johanson afirmou que Lucy pertencia a uma nova espécie, a Australopithecus afarensis. Até aqui tudo bem, mas quando propôs uma nova teoria da evolução, estabelecendo seu achado como o ancestral humano mais antigo e sustentando que o Homo sapiens evoluíra a partir do afarensis, Richard pôs a boca no mundo.
Nessa altura de sua vida, Leakey já era mais famoso do que os pais por suas pesquisas na África. Ele foi o paleontólogo que mais descobriu fósseis humanos, entre eles o crânio completo de um Australopithecus boisei, no Lago Turkana, no Quênia, em 1969. Em artigos, conferências e entrevistas, o cientista passou ao ataque, desqualificando a hipótese do adversário. Em 1979, a discussão chegou à primeira página do jornal The New York Times, com Johanson advogando sua tese e Leakey defendendo a sua. Contudo, apesar da paixão, a polêmica nunca descambou para a baixaria. Jamais extrapolou os limites éticos de uma controvérsia entre cientistas civilizados.
A divergência principal é que, para o inglês, as espécies de homens e chimpanzés se separaram ao mesmo tempo do tronco dos primatas, há 7 milhões de anos. Para Johanson, entretanto, os homens não são tão antigos, já que evoluíram do ramo do afarensis, uma mistura de homem com chimpanzé.
Quando o homem se divorciou do chimpanzé?
Os palentólogos Richard Leakey e Donald Johanson estabeleceram linhagens genealógicas diferentes para a evolução da espécie humana.
Homo sp
Segundo Leakey o ancestral do homem surgiu há 7 milhões de anos. Mas seu fóssil nunca foi achado. Ele é identificado genéricamente como Homo sp.
Australopithecus afarensis
Johanson considera-o o primeiro homem. Período: 3,9 a 3 milhões de anos atrás. Altura: entre 1,07 e 1,52 metro. Crânio entre 375 e 550 centímetros cúbicos.
Australopithecus africanus
Período: 3 a 2 milhões de anos atrás. Altura: centímetros mais alto que o afarensis. Crânio entre 420 e 500 centímetros cúbicos.
Homo habilis
Período: 2,4 a 1,5 milhões de anos atrás. Altura média: 1,27 metro. Crânio entre 500 e 800 centímetros cúbicos. Usava ferramentas.
Homo erectus
Período: 1,8 milhões a 300 000 anos atrás. Altura: mais de 1,52 metro. Crânio de 750 a 1 225 centímetros cúbicos. Usava ferramentas e fogo.
Homo sapiens
Período: 120 000 anos atrás. Altura: até 1,80 metro. Crânio com 1 350 centímetros cúbicos. Fazia ferramentas, pinturas e instrumentos musicais.
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