História da Paleontologia


A Paleontologia surgiu do esforço e da curiosidade de inúmeros pesquisadores ao redor do mundo. Várias foram as questões-chave para a sua consolidação como ciência. Neste texto serão abordadas as diferentes interpretações dos fósseis ao longo da história, o surgimento da noção de tempo profundo e a estratigrafia, a correlação dos fósseis com a história natural da Terra, o estabelecimento do conceito de extinção, a sistematização da paleontologia como ciência e as implicações das ideias evolutivas na interpretação do registro fossilífero.

Interpretações sobre a Origem dos Fósseis ao longo da História
Ao longo da história, diversos povos tiveram contato com fósseis e os incorporam à sua cultura de maneiras distintas. Tribos paleolíticas utilizavam conchas fósseis, especialmente de moluscos gastrópodes, como ornamentos, o que é evidenciado por achados nas cavernas de Lascaux, na França, de conchas perfuradas para a suspensão por fios, possivelmente utilizados como colares. Na Grécia Antiga, os amonites (moluscos cefalópodes) eram associados a chifres de bode, tidos como símbolos sagrados devido ao deus Júpiter Ammon. Eram conhecidos como Cornu Ammonis – chifres de Amon -, de onde originou-se o nome científico “amonites” posteriormente.
A semelhança dos fósseis com plantas e animais atuais sempre chamou atenção, mas suas particularidades em forma e composição impunham um desafio complexo para autores que tentavam explicá-los. Diversos pensadores gregos, como Xenófanes (556/560 – 470/480 a.C.), atribuíam a presença de conchas fósseis em locais afastados dos oceanos a eventos catastróficos e invasões dos mares que teriam transportado estes materiais para o interior do continente.
O naturalista romano Gaius Plinius Secundus (23/24 – 79), conhecido como Plínio, o Velho, interpretava os fósseis sob uma ótica mística. Ele acreditava que os amonites dourados (devido à piritização) da Etiópia, se colocados embaixo do travesseiro ao dormir, despertariam a capacidade de prever o futuro em sonhos. Plínio também acreditava que dentes de tubarão fossilizados eram pedras caídas do céu durante eclipses lunares. Esses dentes posteriormente seriam interpretados como línguas de cobras, petrificadas pelo apóstolo Paulo durante uma visita às ilhas de Malta. Essas pedras foram chamadas de Glossopetrae – pedras-língua – e eram tidas como capazes de proteger de mordidas de cobras, sendo utilizadas como amuletos de proteção e até colocadas em bebidas para neutralizar o efeito de possíveis venenos.Após a fragmentação do Império Romano do Ocidente e o crescimento do poder da Igreja Católica, as interpretações da natureza nos povos europeus cristãos ficaram marcadas por uma forte visão escolástica, que negligenciava a observação direta da natureza, de modo que pouco progresso foi feito no estudo de fósseis nos primeiros séculos da Idade Média.
Um exemplo do misticismo atribuído aos fósseis durante a Idade Média é o caso dos amonites de Whitby. A lenda conta que a cidade de Whitby, na Inglaterra, já esteve infestada de cobras e estas foram transformadas em pedra pela abadessa Hilda (614 – 680), hoje reconhecida como uma santa cristã. Isto se dá pela associação dos fósseis de amonites com a imagem de cobras petrificadas sem cabeça ou cauda. A falta da cabeça nas cobras petrificadas é, inclusive, associada a ação de outro santo, o monge Cuteberto (634 – 687), que teria lançado um feitiço de decapitação nas cobras.
Avicena (980 – 1037), polímata persa e tradutor de Aristóteles (385 – 323 a.C.), tentou estender a Teoria da Geração Espontânea, organizada por este filósofo grego, para explicar a origem dos fósseis. Para Avicena, estes teriam surgido pela força criativa (vis plastica) que continuamente criaria matéria orgânica a partir de matéria inorgânica. Entretanto, os fósseis seriam tentativas malsucedidas da natureza, tendo produzido a forma, mas não a vida animal de fato. Estas estruturas de pedra semelhantes a organismos eram muitas vezes denominadas ludus naturae, ou brincadeiras da natureza. Alberto Magno (1193 – 1280), um dos maiores teólogos da história ocidental, mais de 200 anos após os trabalhos de Avicena, mantinha uma perspectiva muito parecida sobre a origem dos fósseis, atribuindo-a a uma virtus formativa, uma força na Terra que seria responsável pela origem das plantas e animais.

Já no século XV, Leonardo da Vinci (1452 – 1519) deu um passo importante no entendimento dos fósseis ao interpretar conchas fósseis encontradas em montanhas como sendo registros de animais que ali viveram no passado, em detrimento da hipótese de que teriam sido transportados de oceanos atuais por eventos catastróficos. Para da Vinci, rios de lama teriam alcançado os mares que cobriam as montanhas da Itália e preenchido as conchas de moluscos mortos. Esses depósitos de lama e conchas que preenchiam o fundo dos mares teria então secado e preservado os moldes de conchas antigas.
Girolamo Fracastoro (1478 – 1553) tinha uma visão parecida com a de da Vinci. Durante a construção da cidadela de San Felice, em Verona (Itália), construtores encontraram fósseis de mexilhões (moluscos bivalves) marinhos e pediram para que Fracastoro explicasse tal maravilha. O italiano desprezava a ideia da vis plastica defendida por Avicena e também considerava que a ideia de que os animais ali encontrados teriam sido trazidos pelo dilúvio era impossível, visto que tal evento resultaria na aparição de mexilhões de água doce, não marinhos, e que estes estariam espalhados pela superfície, não enterrados profundamente como se via. Para Fracastoro, a única explicação era de que aqueles eram registros de animais que teriam vivido ali onde eram encontrados.
Já no século XVII, Nicolaus Steno (1638-1686) desvendou o mistério das glossopetrae ao dissecar a cabeça de um tubarão moderno e comparar a morfologia de seus dentes às místicas “pedras-língua”, mostrando que eram praticamente idênticos. Robert Hooke (1635-1703), contemporâneo de Steno, utilizando-se de um microscópio rudimentar, comparou detalhadamente plantas e moluscos fósseis a espécimes atuais, mostrando que as explicações mágicas sobre a origem dos fósseis eram infundadas. Hooke inclusive chegou a considerar que os espécimes muito diferentes dos seres atuais poderiam ser formas extintas, mas no geral ao se deparar com tais exemplares era comum imaginar-se que eram espécies ainda não descobertas, o que era sustentado, no caso dos seres marinhos, pela vastidão dos oceanos ainda muito pouco explorados.
John Woodward (1665-1728), paleontólogo inglês, também era adepto da ideia de que fósseis tinham uma origem orgânica. Em sua obra Um ensaio sobre a História Natural da Terra e corpos terrestres (1695), ele descreve fósseis, rochas e minerais de sua coleção, se opondo fortemente a concepção de que fósseis eram meras imitações ou tentativas malsucedidas de criar a vida, colocando que representavam de fato faunas e floras pretéritas. Porém, o autor supunha que esses registros haviam sido carregados para sua posição presente através de um Dilúvio Universal, ideia fundamentada a partir da literatura bíblica judaico-cristã e sustentada pelo movimento protestante que vinha crescendo na Europa.
Mesmo com a existência de visões como as de Da Vinci, Fracastoro, Steno, Hooke e até os autores que defendiam a teoria do dilúvio bíblico, como Woodward, ainda existiam no século XVIII vários pensadores que não aceitavam a ideia de que os fósseis tinham como origem os seres vivos e preferiam defender a posição de que estes eram originados da matéria inorgânica. Esta ideia perdeu força com um evento muito peculiar ocorrido na Alemanha em 1726. Johannes Bartholomew Beringer (1667 – 1738), um professor na Universidade de Wüzburg, publicou um trabalho com descrições ilustradas de diversos fósseis, com vários espécimes de Muschelkalk, Triássico Médio da Alemanha. Junto aos espécimes triássicos eram descritas também formas peculiares, sóis, luas, estrelas e até letras hebraicas, interpretadas e ilustradas como sendo fósseis. Acontece que os alunos de Beringer, que já não acreditavam nas ideias aristotélicas da Geração Espontânea, esconderam no sedimento essas formas produzidas artificialmente e enganaram o professor de modo a fazê-lo descobri-las em campo. Foi só quando o próprio nome de Beringer foi encontrado entre essas formas que ele então percebeu o que havia ocorrido. O professor tentou comprar os exemplares de seu trabalho e destruí-los, mas em 1767 uma nova versão foi publicada, eternizando o caso como uma estranha curiosidade da ciência e parte da história da Paleontologia. Com isso, a ideia da Geração Espontânea como explicação para a origem dos fósseis foi fortemente desacreditada e estabeleceu-se a noção de que fósseis eram provenientes de seres vivos.A Idade da Terra e a Estratigrafia
Tão importante para a história da Paleontologia quanto o estabelecimento de uma origem orgânica para o registro fossilífero foram as investigações sobre a idade da Terra e as metodologias desenvolvidas para estudá-la. Até o século XVII a única ideia amplamente aceita sobre a idade da Terra era baseada nos textos bíblicos. Em 1658, foi publicada a obra Os Anais do Mundo, trabalho do Arcebispo irlandês James Ussher (1581-1656), que se utilizou das escrituras judaico-cristãs para estimar a idade da Terra, concluindo que esta teria cerca de seis mil anos, tendo ocorrido o primeiro dia da Criação em 23 de outubro de 4004 a.C. O conceito de uma Terra jovem ia ao encontro das explicações diluvianas para o aparecimento de fósseis marinhos no ambiente continental e era, portanto, amplamente aceito por pensadores desta corrente.
Entretanto, materiais como as Glossopetrae intrigavam o já citado Nicolaus Steno. Ter identificado que as “pedras-língua” eram na verdade dentes de tubarão não foi suficiente para o dinamarquês. Como era possível um corpo sólido, como um dente de tubarão, ser encontrado contido em outro corpo sólido, como uma rocha? Esta e outras questões levaram à publicação de 1669 intitulada De solido intra solidum naturaliter contento dissertationis prodromus, ou Introdução a um discurso sobre um corpo sólido incluído de forma natural dentro de outro corpo sólido. Entre questões como os fósseis e os cristais, Steno explicou a formação e as características dos estratos, as camadas de rocha por ele observadas, em especial na Toscana (Itália). O autor compara depósitos fossilíferos a rochas não-fossilíferas, chegando à conclusão de que estas representam um tempo anterior ao surgimento dos organismos vivos, quando a Terra era envolvida por um oceano universal. As camadas homogêneas e de granulometria fina seriam, então, representativas dos depósitos mais antigos, enquanto as camadas que apresentassem heterogeneidade na granulometria e composição e a presença de fósseis, corresponderiam a depósitos mais recentes. Por mais imprecisa que fosse tal definição, Steno já estava interpretando as camadas de rocha como sendo depósitos correspondentes a um determinado período da história da Terra e cujas características forneciam informações a respeito do seu ambiente de formação. Este é o conceito fundamental da Estratigrafia, ciência que estuda a sucessão das camadas de rocha (estratos) e os eventos que as formaram. Mas o autor vai ainda mais além e define três princípios que são até hoje tidos como a base da Estratigrafia:
Princípio da Horizontalidade Original: as partículas sedimentares de um fluído acomodam-se sob a influência da gravidade, portanto as camadas são originalmente depositadas horizontalmente. Desta forma, qualquer camada que esteja inclinada ou perpendicular ao horizonte deve ter sofrido perturbação posterior à sua formação.
Princípio da Superposição de Camadas: em uma sucessão de estratos, não tendo havido deformações, o estrato mais antigo posiciona-se mais abaixo e os estratos sucessivamente mais jovens posicionam-se acima. Originalmente a ideia de Steno era de que os estratos iniciais teriam sido formados a partir da precipitação do oceano universal e posterior acumulação de sedimentos, de forma que durante sua formação somente água estaria acima. O próximo estrato se formaria então apenas quando o primeiro estivesse consolidado, originando assim o empilhamento das camadas. A ideia de um oceano universal e a limitação da formação de estratos a somente ambientes aquosos não encontra fundamentação atualmente, mas o princípio de acumulação de sedimentos mais jovens sobre uma camada mais antiga e já consolidada se mantém. Daí a importância desse princípio.
Princípio da Continuidade Lateral Original: todo estrato deve cobrir o mundo todo ou ser limitado lateralmente por outro depósito sólido. Ampliando um pouco o conceito original, entendemos que os estratos se estendem em todas as direções até que sua espessura chegue a zero ou seja limitado por sua bacia deposicional. Outras tentativas de explicar a sucessão dos estratos geológicos foram feitas após o trabalho de Steno. John Woodward, também anteriormente citado, utilizava o evento do Dilúvio Universal para tanto. O autor inglês colocava que anteriormente ao Dilúvio, a conformação da superfície da Terra era semelhante ao que observamos hoje e que a biodiversidade também pouco se diferenciava da atual. O interior da Terra havia sido preenchido com água, que subitamente rompeu através da crosta e ergueu-se acima das montanhas mais altas. A crosta terrestre teria se desintegrado completamente com esse evento, mas as formas de vida e os metais permaneceram intactos. O material da crosta desintegrada teria então afundado e formado a sucessão estratigráfica com as rochas mais pesadas na base e os depósitos mais leves nos horizontes superiores. Fósseis mais pesados teriam sido incorporados aos estratos mais basais, abaixo dos estratos contendo fósseis mais leves como equinodermos. Nos estratos mais de topo estariam ossos de seres humanos, animais quadrúpedes, peixes, conchas e plantas. Após o dilúvio nenhum outro evento catastrófico semelhante teria ocorrido e as chuvas e os rios teriam carregado o material da superfície, que teria sido depositado nas planícies aluviais e no fundo do oceano. As ideias de John Woodward, entretanto, não encontram fundamentação atualmente, visto que as explicações de Steno para a formação dos estratos é muito mais próxima do que observamos na realidade, tendo sido fundamentais para o estabelecimento da Estratigrafia como conhecemos e estudamos no presente.
Um dos problemas que a teoria de Nicolaus Steno enfrentava no contexto de sua época era que os mecanismos que formariam os estratos demandavam tempo. Sendo o conceito da Terra jovem bem estabelecido e aceito no século XVII, como os estratos poderiam se formar a partir da deposição dos sedimentos em seis mil anos?
James Hutton (1726-1797) ampliou ainda mais essa discussão indo de encontro aos conceitos fundamentados pelos textos bíblicos. Suas observações da natureza, especialmente das rochas e minerais, levou a publicação de seu trabalho denominado de A Teoria da Terra (1788), em que aborda tópicos como a origem das rochas, a formação da Terra, erupções vulcânicas e faunas e floras antigas. Mas o ponto mais relevante de seu trabalho trata dos processos de denudação (exposição) das estruturas da superfície terrestre. Hutton descreve o efeito de agentes químicos e físicos na destruição das rochas, a ação da água no transporte dos sedimentos para os oceanos e sua posterior acumulação para a formação das camadas de rocha. O autor demonstra a dimensão do tempo necessário para que ciclos de destruição e construção feitos por agentes tão lentos possam se completar, formando a sucessão estratigráfica e as formações geológicas que observamos hoje. Para provar seu ponto, chama a atenção para a insignificância das mudanças ocorridas na superfície terrestre durante a escala de tempo histórico. Tais conclusões deram origem a um dos princípios que fundamenta a ciência da Geologia, o Uniformitarismo: os processos geológicos que atuavam no passado longínquo da Terra seriam os mesmos observados atualmente, de modo que a história do planeta é feita de múltiplos eventos de soerguimento, denudação e deposição. Assim, se fortalecia a ideia de um tempo geológico profundo, que posteriormente seria confirmado diretamente através das datações radiométricas iniciadas por Clair Patterson na década de 1950.
A Bioestratigrafia e a Estruturação da Paleontologia como Ciência
Durante o século XVIII o interesse pelo campo de estudos que tratava das rochas e minerais estava aumentando exponencialmente. Abraham Gottlob Werner (1749 – 1817) sistematizou pela primeira vez esse crescente ramo da ciência, o qual inicialmente chamou de “Ciência das Montanhas”, alterado posteriormente para “Geognosia”. Werner considerava que a Geognosia compreendia a identificação mineral das rochas, a determinação de sua posição estratigráfica, espessura e condições sob as quais foram originadas, bem como o posicionamento estratigráfico dos fósseis. Sob o termo “Geologia”, sugerido por Jean-André Deluc (1727-1817), Werner mantinha somente as especulações teóricas sobre a origem e história da Terra.
Por mais importante que tenha sido essa sistematização inicial do estudo das rochas e minerais, a Geognosia de Werner tinha alguns problemas. A sucessão cronológica de membros individuais de uma formação não podia ser determinada com precisão e os fósseis eram raramente utilizados para a identificação estratigráfica, que acabava por se utilizar mais frequentemente das características minerais das rochas.
Foi William Smith (1769-1839) quem primeiro conseguiu arranjar e identificar em ordem cronológica os estratos de rocha de acordo com os fósseis neles encontrados. O inglês confeccionou um mapa geológico da Europa em 1801 (publicado de forma completa em 1816) se utilizando principalmente de conchas fósseis. Os trabalhos anteriores, que se baseavam majoritariamente em características minerais dos estratos, dependiam muito de camadas contínuas de rocha; Smith, por se utilizar dos fósseis, conseguia correlacionar estratos não contínuos, podendo cobrir uma área mais extensa do território europeu. Assim nascia o ramo da Bioestratigrafia, a correlação estratigráfica de camadas de rocha por seu conteúdo biológico (os fósseis). William Smith é considerado também o “pai da Geologia Histórica”.
Um trabalho realizado independentemente de Smith em 1808 e que chegou a conclusões semelhantes foi o dos franceses Georges Cuvier (1769-1832) e Alexandre Brongniart (1770-1847), que avaliaram os estratos de rocha de uma seção da Bacia Sedimentar de Paris, notando uma sucessão cronológica das camadas acompanhadas por desaparecimentos e aparecimentos de grupos de fósseis, avançando das camadas da base (mais antigas) para o topo (mais recentes).
O nascimento da Bioestratigrafia trazia finalmente o conhecimento de que a investigação da flora e da fauna fóssil era um elemento-chave no estudo das formações rochosas. A identificação e correlação dos estratos de rocha só poderiam ser precisos se utilizassem tanto as características minerais das rochas, quanto o conteúdo biogênico nelas presentes. Com tais fatos estabelecidos, o estudo dos fósseis atraiu a atenção de cada vez mais pesquisadores, elevando-o à posição de uma disciplina científica independente. Essa nova ciência foi nomeada Paleontologia quase que simultaneamente por Henri Marie Ducrotay de Blainville (1777-1850) e Johann Fischer Von Waldheim (1771-1853) no ano de 1834.
Cuvier, Catastrofismo e o Conceito de Extinção
Georges Cuvier foi um naturalista francês, cuja importância para a sistematização da Paleontologia como ciência é quase imensurável. Já nas décadas finais do século XVIII, no início de sua carreira, vivendo na cidade de Fécamp, na Normandia, Cuvier realizava coletas de espécimes com os quais produzia análises anatômicas e chegava a conclusões compartilhadas através de cartas com ex-colegas e professores. Também se interessava por mineralogia e fazia observações geológicas das formações do litoral normando. Teve contato com os trabalhos de Werner e de autores como Romé de L’isle (1736-1790), Jean-Claude de La Métherie (1743-1817) e René Just-Haüy (1787-1789).
Cuvier ganhou notoriedade com suas correspondências e publicações nas quais expressava suas ideias e observações sobre anatomia. Em 1794 foi aceito como membro da Sociedade de História Natural de Paris e em 1795 foi nomeado como suplente para a cadeira de Anatomia dos Animais no Museu de História Natural de Paris. Tendo acesso à coleção do museu, Cuvier pôde ampliar consideravelmente seu conhecimento em anatomia e até abril de 1796 apresentou 18 trabalhos sobre anatomia comparada.
No mesmo mês de abril de 1796, Georges Cuvier apresentou o sumário de seu primeiro trabalho envolvendo uma espécie fóssil, no qual comparou ossadas e dentes de três espécimes de proboscídeos (grupo dos elefantes, mamutes e mastodontes), concluindo que tratavam-se de três espécies distintas, duas viventes e uma desaparecida. É preciso contextualizar que a extinção de uma espécie inteira não era um conceito estabelecido no final do século XVIII, e mesmo materiais fósseis consideravelmente diferentes de qualquer ser vivo atual eram tratados com ressalva, geralmente levando à conclusão de que estariam vivos em algum lugar remoto do planeta, o denominado argumento do “fóssil vivente”. Cuvier contornou esse argumento ao utilizar nos seus trabalhos espécies animais que, caso vivas atualmente, dificilmente não seriam notadas, como por exemplo as do grupo dos já mencionados proboscídeos.
Seis dias após a polêmica apresentação de seu trabalho com proboscídeos, Cuvier apresentou outro trabalho com uma espécie fóssil e que também teve muita repercussão. O autor francês analisou um esqueleto fóssil de uma espécie não identificada, montado em Madrid por Juan-Bautista Bru de Ramón (1740-1799). O material era proveniente da Argentina, embora no título de seu artigo, Cuvier classificou erroneamente como proveniente do Paraguai. Tal fato poderia ser interpretado como uma demonstração de como Cuvier não dava tanta relevância para o ambiente em que o animal vivia, tendo como foco de seu trabalho as características anatômicas.
Cuvier concluiu em sua análise que o fóssil representava uma espécie distinta de qualquer outra, seja fóssil ou vivente, a qual nomeou de Megatherium americanum. Este foi provavelmente o primeiro fóssil a receber uma denominação binomial lineana (gênero e espécie). Em uma versão do artigo publicado na revista Monthly Magazine, ainda no ano de 1796, foi adicionada a ilustração do esqueleto feita por Ramón em que mostrava o animal como um quadrúpede. Cuvier não faz referência alguma a esse aspecto no trabalho, mas relaciona o animal fóssil às preguiças atuais, as quais possuem um hábito de vida arborícola.
Era do conhecimento de Cuvier que a fim de analisar e comparar anatomicamente todas as espécies fósseis existentes, como era de sua ambição, seria necessária a criação de uma rede de compartilhamento de informações por seguidores de sua metodologia de pesquisa, que havia sido bem definida na sua obra Quadro elementar da história natural dos animais, de 1798, na qual descreve com detalhamento as leis da Anatomia Comparada, que lhe permitiam reconstruir os animais a partir de materiais fósseis incompletos.
Tendo ganhado notoriedade internacional com os diversos trabalhos publicados nos anos finais do século XVIII, e principalmente com a enorme circulação de seu livro, Cuvier ascendeu dentro da academia científica francesa, sendo nomeado para a cadeira de História Natural no Collége de France. Isto permitiu com que o autor divulgasse suas ideias para um público maior, culminando no seu apelo feito em uma sessão da Academia de Ciências em 1800 para a criação de uma comunidade científica que adotasse seus métodos de pesquisa com anatomia comparada, de modo a incorporar de vez os fósseis na ciência da Geologia. Cuvier desejava que tal comunidade lhe enviasse ilustrações de materiais de vários lugares do mundo para que ele pudesse descrevê-los e compará-los às espécies viventes e fósseis. Esse movimento contribuiu para a sistematização da paleontologia como um campo científico que agora possuiria uma metodologia, um paradigma e uma comunidade que o adotava.
Mas as contribuições de Cuvier foram ainda mais longe. No seu trabalho de 1808, com Brongniart, em que classificaram os estratos rochosos das formações dos arredores de Paris, o autor focou sua atenção para as sucessões faunísticas que se apresentavam. Em cada camada estratigráfica era possível observar determinadas espécies fósseis que desapareciam nos estratos superiores, onde novos grupos de seres apareciam. Alguns estratos mostravam claramente ambientes marinhos, com a presença de amonites e belemnites, ou mexilhões e ostras. Outros eram claramente terrestres e continham ossadas de grandes quadrúpedes. A esta mudança nos organismos encontrados em cada camada, Cuvier deu o nome de Sucessão Biótica. O francês também interpretou que os limites entre as camadas representavam eventos catastróficos, responsáveis por extinguir as formas anteriores e alterar o ambiente em que os estratos se formavam, de maneira súbita. Assim nascia a teoria de Cuvier que mais tarde ficaria conhecida como Catastrofismo, um conceito que, por mais impreciso que possa ser atualmente, estabelecia de vez a ideia da extinção de espécies inteiras, hoje fundamental para o estudo da paleobiologia.
Teorias Evolutivas e a Paleontologia
Nas primeiras décadas do século XIX o estudo dos fósseis se consolidava como a chave para o conhecimento da vida no passado geológico. A comunidade científica que se criou a partir dos discursos de Cuvier, se empenhava em comparar anatomicamente os animais atuais e fósseis com o foco de encontrar novas espécies extintas, diferentes de todos os seres viventes. As ideias do Catastrofismo pressupunham que os seres vivos eram imutáveis e que uma sucessão biótica ocorria quando uma catástrofe dizimava a fauna anterior, dando lugar aos seres do próximo momento geológico. Isto teria ocorrido até cerca de seis mil anos atrás, período da última catástrofe, cujos sobreviventes seriam os seres observados no presente.
Apesar de ser o paradigma da paleobiologia no século XIX, o fixismo (seres vivos imutáveis) de Cuvier não era aceito por todos os pesquisadores. Jean Baptiste de Lamarck (1744-1829) defendia um ponto diferente, uma ideia evolutiva. Em sua obra Philosophie Zoologique ou Filosofia Zoológica de 1809, Lamarck propôs que os seres progridiriam de forma gradual em direção a uma maior complexidade e perfeição. As mudanças nas plantas e animais se daria através da lei do uso e desuso, de modo que as estruturas sofreriam alterações morfológicas por serem ou não utilizadas e essas novas características são transmitidas para os seus descendentes.
Lamarck traz o exemplo das girafas para ilustrar sua teoria. Para ele, os ancestrais das girafas teriam pescoço curto e as patas traseiras e dianteiras com comprimento proporcional. Porém, eventualmente, precisaram alcançar folhas mais altas; as sucessivas tentativas teriam feito, então, com que o seu pescoço se alongasse e suas patas dianteiras ficassem maiores que as traseiras. Esses caracteres adquiridos por um indivíduo seriam transmitidos para seus descendentes.Este paradigma de mutabilidade das espécies ficou conhecida como Transformismo (em oposição ao Fixismo).
Cuvier e Lamarck discordavam em diversos pontos nas suas proposições. A ideia transformista para a explicação da sucessão biótica desafiava o conceito de organização que era a base da Anatomia Comparada. Para Cuvier, o nível de transformação na organização de um ser que era necessário para haver especiação não era possível de ser alcançado, pois inviabilizaria a própria organização. Seria, de acordo com o autor, reduzir a nada toda a História Natural. Por outro lado, Lamarck negava veementemente a possibilidade da extinção. Para ele os seres não eram extintos, apenas se transformavam. Nesse embate de ideias prevaleceram as proposições de Cuvier, de modo que o fixismo foi amplamente adotado em toda primeira metade do século XIX.
Mas foi através dos trabalhos de Charles Robert Darwin (1809-1882) que as teorias evolutivas ganharam força. Entre 1831 e 1836, Darwin esteve a bordo do navio do governo inglês H.M.S. Beagle, que tinha como principal objetivo a produção cartográfica da América do Sul. Na condição de naturalista, Charles Darwin pôde fazer as mais diversas observações da biodiversidade de lugares como as Ilhas Galápagos, a Patagônia e o Brasil. Seus registros da viagem foram publicados em um diário de bordo junto ao capitão do navio, Robert Fitzroy (1805-1865), em 1836, e em um volume separado em 1839.
Entre os materiais encontrados por Darwin durante a sua viagem estavam os fósseis. Em uma passagem de seu livro A Origem das Espécies, ele relata fósseis de um animal semelhante a um crocodilo, encontrados na terra avermelhada dos pampas argentinos, além de dentes de tubarão e conchas de espécies extintas localizadas na base de falésias. No território uruguaio, Darwin adquiriu um crânio quase completo de um grande mamífero fóssil, posteriormente descrito como Toxodon platensis.
As observações de Charles Darwin levaram-no a consideração de que os seres vivos se modificam com o tempo (transformismo), pensamento semelhante ao de Lamarck. Em 1838, teve contato com a obra de Thomas Robert Malthus (1765-1834) An Essay on the Principle of Population ou Um ensaio sobre o princípio da população, de 1803, que coloca que as populações humanas crescem em progressão geométrica, enquanto a oferta de alimentos cresce em proporção aritmética. Darwin não observou a veracidade desse conceito na natureza, entretanto. Existia certa constância no tamanho das populações de seres vivos, ao mesmo tempo em que era observada uma variabilidade entre os seres, inclusive em características essenciais para sua adaptação ao ambiente. Alguns indivíduos, por conta dessas características, morriam precocemente, enquanto outros tinham uma maior longevidade e conseguiam produzir descendentes férteis. O inglês concluiu então que deveria existir uma luta pela vida, onde os mais adaptados sobreviveriam e transmitiriam suas características vantajosas para os seus descendentes. Tal processo foi denominado de Seleção Natural, mecanismo base de sua teoria evolutiva.
Para a ocorrência das modificações nos seres propostas por Darwin, seria necessário um longo período de tempo e um ambiente relativamente calmo, livre de catástrofes. Daí suas ideias diferiam de vez do Catastrofismo de Cuvier e se assemelhavam mais às ideias de James Hutton e Charles Lyell (1797-1875). Desta forma, a modificação era direcional, lenta e gradual, ocorrendo através da seleção natural. Neste período, Darwin já se fundamentaria na ideia de uma Terra mais antiga do que se imaginava, com base nos primeiros estudos envolvendo a meia-vida de elementos radioativos.
Ao longo das décadas de 1840 e 1850, Darwin trabalhou na organização de sua teoria, tendo escrito um manuscrito de 35 páginas em 1842, ampliado para 230 páginas em 1844. Mas o naturalista inglês tinha receio de expor suas ideias publicamente. Em parte, esse receio pode ser explicado pelo evento da publicação da obra Vestiges of the Natural History of Creation ou Vestígios da História Natural da Criação, de 1844, publicada anonimamente pelo jornalista escocês Robert Chambers (1802-1871), que trazia premissas evolutivas baseadas nas ideias lamarckistas. O livro foi duramente criticado pelos cientistas da época, inclusive por Adam Sedgwick (1785-1873), mentor de Darwin em Cambridge. Aliado a isto estava o fato de que Darwin pretendia trazer concepções biológicas totalmente livres de conceitos religiosos, o que causaria comoção na comunidade científica e na sociedade em geral.
Em 1858, entretanto, Darwin recebeu um manuscrito que o incentivou a publicar suas ideias. Alfred Russel Wallace (1823-1913), um jovem naturalista inglês enviou-o seu trabalho On the tendency of varieties to depart indefinitely from the original type ou Da tendência das variedades de se afastarem indefinidamente do tipo original, onde descrevia o mesmo mecanismo da seleção natural, apesar de não ter utilizado o mesmo termo. Darwin impressionou-se com a semelhança das duas ideias, elaboradas independentemente. Seu trabalho, que vinha sendo organizado há quase 20 anos, possuía um embasamento maior, com mais exemplos e observações, mas Wallace merece o crédito de coautor da ideia da seleção natural.
Os dois apresentaram seus resultados de forma conjunta à Linnean Society ainda em 1858 sob o título de On the Tendency of Species to form Varieties; and on the Perpetuation of Varieties and Species by Natural Means of Selection ou Sobre a tendência das espécies em formar variedades e Sobre a perpetuação das variedades e espécies por meio da seleção natural. Em 1859, Darwin publicou seu trabalho completo, intitulado On the Origin of Species by Means of Natural Selection or the Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life ou A Origem das Espécies por Meio da Seleção Natural ou a Preservação das Raças Favorecidas na Luta pela Vida, um dos trabalhos mais importantes e influentes da história da ciência.
Em seu livro, Darwin fornece o embasamento teórico para sua Teoria da Evolução por Seleção Natural, oferecendo diversos exemplos provenientes de sua experiência como naturalista durante várias décadas. Argumentos utilizados por Cuvier contra as ideias evolutivas de Lamarck, como a falta de espécies intermediárias no registro fossilífero, são respondidos; Darwin coloca que o registro fossilífero é imperfeito e a dinâmica geológica da Terra se encarregaria de apagar parte das formas intermediárias, registrando apenas alguns instantes da história.
Por mais revolucionárias que as ideias de Darwin fossem na época, sua aceitação não veio de imediato. O paradigma do fixismo de Cuvier estava bem estabelecido e os mecanismos para explicar a modificação das espécies não foram descobertos pelo naturalista inglês, tendo ele recorrido a ideias de Lamarck como o uso e desuso. Grandes paleontólogos do século XIX como Edward Drinker Cope (1840-1897), responsável por inúmeras descobertas fascinantes na Paleontologia de Vertebrados, contestavam sua teoria, preferindo adotar as ideias lamarckistas, em um movimento que ficou conhecido como neo-lamarckismo. O rival de Cope, Othniel Charles Marsh (1831-1899), igualmente brilhante no seu trabalho com paleovertebrados, foi, entretanto, um dos pioneiros em adotar as ideias evolucionistas de Darwin, que reconheceu as descobertas de Marsh como o melhor suporte para sua Teoria da Evolução, em uma carta enviada ao professor em 1880.
Foi no começo do século XX que a teoria de Darwin ganhou uma aliada importante: a genética. A divulgação dos trabalhos de Gregor Johann Mendel (1822-1884) em 1900, apresentados originalmente em 1865, trazia matematicamente o conceito da variação genética em populações com reprodução sexuada (neste caso, as famosas ervilhas, além de outras plantas). À luz dessa nova área das ciências biológicas a teoria de Darwin foi reinterpretada a partir de 1940 com os trabalhos de autores como Fisher, Simpson, Huxley e Dobzhansky, dando origem ao neodarwinismo ou a Teoria Sintética da Evolução, sustentada até hoje por inúmeros trabalhos de ecologia, genética, filogenia etc.
Da Caça aos Dinossauros ao Século XXI
É inegável que hoje a imagem da Paleontologia para a sociedade em geral está fortemente ligada aos dinossauros. Esses animais condensam aquilo que há de mais encantador na superfície da ciência paleontológica: são gigantes e misteriosos. Seus registros mais antigos datam de mais de 220 milhões de anos, mas sua aparição para os paleontólogos aconteceu relativamente tarde. A primeira publicação oficial de fósseis de um dinossauro data de 1824, com o Megalosaurus de William Buckland (1784-1856). Gideon Mantell (1790-1852) já havia encontrado em 1822 dentes que seriam publicados em 1825 sob o nome de Iguanodon. Mas esses animais só seriam conhecidos como “dinossauros” a partir de 1842, quando Richard Owen (1804-1892) cunhou o termo Dinosauria (cujo significado é “lagartos terríveis”).A descoberta de répteis gigantes rapidamente interessou os paleontólogos de todo o mundo, mas ganhou uma importância ainda maior nos Estados Unidos. O oeste estadunidense, ainda pouco explorado pelos não-nativos do continente, era uma oportunidade perfeita para aqueles que caçavam fósseis de dinossauros. Edward Cope e Othniel Marsh travaram uma verdadeira guerra na busca por descrever espécies novas de dinossauros gigantes, no que ficou conhecida como a “Guerra dos Ossos”, que gerou verdadeiras histórias de velho-oeste, com incursões nas terras áridas de Montana, sabotagens e conflitos com povos originários.
Durante o século XIX os museus de história natural se consolidaram como o grande destino dos materiais fósseis coletados. Marsh enriqueceu muito a coleção do Peabody Museum of Natural History da universidade de Yale (em New Haven). Henry Fairfield Osborn (1857-1935), o paleontólogo que com a ajuda de Barnum Brown (1873-1963) descreveu o Tyrannosaurus rex, possivelmente o fóssil mais famoso da história, ajudou a alavancar as pesquisas paleontológicas do American Museum of Natural History, em Nova Iorque.
Os dinossauros também ganharam espaço na cultura popular no início do século XX com a obra de sucesso do escocês Arthur Conan Doyle, intitulada O Mundo Perdido (1912), onde descreve a incursão do professor Challenger às misteriosas terras da América do Sul, que preservaram a biodiversidade do passado geológico, promovendo aventuras com pterodáctilos e alossauros. O sucesso dos dinossauros no entretenimento aumentaria com a adaptação cinematográfica de O Mundo Perdido em 1925, o clássico King Kong de 1933 e principalmente o icônico Jurassic Park de 1993 (baseado no livro de mesmo nome de 1989), que trouxe os grandes répteis à vida na tela do cinema e influenciou uma geração inteira de paleontólogos com seus modelos animatrônicos encarnando uma nova versão destes animais. Com esta franquia, popularizaram-se as ideias de Robert Bakker (1945), quem questionou a visão dos dinossauros como répteis obsoletos e revolucionando a paleontologia de vertebrados e renovando o interesse popular na paleontologia em um movimento conhecido como o Renascimento dos Dinossauros (Dinosaur Renaissance).
A paleontologia se desenvolveu fortemente durante o século XX, estruturando-se cada vez mais como uma ciência independente. Seu objeto de estudo tornou-se cada vez mais amplo e os estudos cada vez mais específicos, abarcando desde grandes vertebrados até microfósseis. Áreas como tafonomia, paleoicnologia e micropaleontologia ganharam cada vez mais espaço e o ensino da paleontologia nas universidades se espalhou por todos os continentes. Técnicas modernas, como a datação radiométrica das rochas, proporcionaram dados mais precisos sobre a idade das rochas e fósseis, revolucionando o conhecimento estratigráfico da Terra.
Atualmente, a Paleontologia é uma ciência sólida, que atrai um grande número de estudantes em todo o mundo. Com a facilidade na divulgação das pesquisas, o conhecimento paleontológico tem caráter mais universal, e a reconstrução da história da vida na Terra se torna cada vez mais completa. Novas técnicas laboratoriais como a tomografia computadorizada, as análises químicas e a paleohistologia vêm permitindo interpretações cada vez mais precisas dos fósseis. O futuro dessa ciência que, tão competentemente remonta nosso passado, parece ser, de fato, muito promissor!

Pesquisa pode criar pílula anti embriaguez



Pesquisadores australianos descobriram que as células do sistema imunológico no cérebro têm um papel decisivo na forma como as pessoas reagem à ingestão de álcool.
Por incrível que possa parecer, e por mais óbvias que sejam as mudanças de comportamento após a ingestão de álcool, os mecanismos de atuação da substância no organismo não são bem conhecidas até hoje.
O Dr. Mark Hutchinson e seus colegas da Universidade de Adelaide afirmam que sua pesquisa mostra mais um indício claro de que os efeitos do álcool são resultado de uma resposta imunológica do organismo.

Resposta imunológica ao álcool
Segundo os pesquisadores, a resposta imunológica pode explicar as alterações bem-conhecidas da ingestão do álcool, como a dificuldade de controlar a musculatura envolvida no andar e no falar.
“Este estudo tem implicações significativas para o nosso entendimento de como o álcool nos afeta, mostrando que ele possui tanto uma resposta neuronal quanto uma resposta imunológica,” disse Hutchinson.
Segundo o médico, a descoberta pode ajudar a identificar indivíduos com maiores riscos de desenvolver problemas neurológicos e danos ao cérebro devido ao consumo regular de álcool.
Mas o efeito mais interessante da pesquisa parece ser uma possibilidade de suprimir os efeitos da ingestão de álcool – uma espécie de pílula “fique sóbrio”, que combata os efeitos da bebedeira.

Pílula da sobriedade
Os pesquisadores estudaram o efeito do bloqueio de receptores do tipo toll no cérebro de camundongos, depois que os animais ingeriam álcool.
Receptores tipo toll (TLR: toll-like receptors) são proteínas que fazem parte do sistema imunológico inato.
“Os resultados mostraram que o bloqueio desta parte do sistema imunológico, tanto por drogas quanto geneticamente, reduz os efeitos do álcool,” explicou Hutchinson.
Ele acredita que um tratamento similar pode dar os mesmos efeitos em humanos.
“Medicamentos voltados para esse receptor específico – o receptor tipo toll 4 – podem ser úteis para o tratamento da dependência alcoólica e de overdoses de álcool”.

História do Alcoolismo


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Para a Igreja, as bebidas alcoólicas levavam à loucura. Mas nativos e escravos apreciavam – e muito – as aguardentes
A aguardente de cana exercia um efeito devastador sobre a comunidade indígena. Esta foi a mensagem que o padre alemão João Brawer – que participava de uma missão na aldeia de Ibiapaba, no Ceará – escreveu em carta enviada à rainha portuguesa D. Maria Ana em 1750. Segundo o religioso, a bebida roubava toda a vontade própria dos índios, era “fonte de muitas desordens, pois com ela se ferem e matam uns aos outros” e houve até “quem, na embriaguez, vibrou a si próprio umas poucas facadas no ventre”. O uso do álcool era incentivado pelos colonos, que tinham a nítida intenção de transformar os nativos em uma mão de obra que jamais questionaria as vontades de seus senhores.
Mas, entre os tupinambás, a embriaguez ritual provocada pelo cauim – uma bebida fermentada à base de mandioca, milho e frutas – era absolutamente normal em festas, casamentos, funerais e até em decisões políticas. Nas cauinagens, algumas iniciativas consideradas agressivas eram toleradas, como brigar entre guerreiros da mesma tribo e atear fogo às malocas. Aqueles que cometiam o maior número de desatinos mereciam mais consideração dos companheiros, pois os índios acreditavam que a bebida, de certo modo, conservava o seu equilíbrio psíquico. Mas os missionários cristãos não pensavam do mesmo modo.
Uma das razões pelas quais os jesuítas aportaram na costa brasileira a partir do século XVI foi servir ao aparelho ideológico da Coroa lusitana. Aliando elementos da cultura dos nativos com preceitos cristãos europeus, os religiosos compuseram um código de doutrinas morais que deveria ser um instrumento de controle social. Quanto ao consumo de álcool, “moderação” era o termo que melhor se aplicava à conduta que eles julgavam ser ideal. Combater as bebedeiras estava na ordem do dia.
Mas, na contramão do que a Igreja aconselhava, a oferta de aguardente se espalhou pelo território luso-americano a partir da metade do século XVIII. A novidade desestabilizou os povos nativos e obrigou os jesuítas a controlar a disseminação do álcool para que pudessem dar continuidade à catequese. Os religiosos até recorreram a um visitador inquisitorial, como no caso da carta do padre Brawer.
O ideal da moderação foi herdado do moralismo cristão medieval de São Tomás de Aquino (1225-1274), filósofo escolástico para quem o álcool era a causa de todos os pecados e vícios. Este modelo de conduta foi sintetizado pelo agricultor lusitano Vicênio Alarte em 1712, em texto que fazia referência ao vinho: “a primeira vez, quando se come, era necessário para a sede; a segunda, para a alegria; a terceira, para o deleite; e a quarta, para a loucura e desatino”. Ou seja, havia um limite tolerável para o consumo do vinho que, quando ultrapassado, levava à loucura – que era um desvio moral, não uma doença.
Além de fazer parte dos rituais cristãos, o vinho era tido como energizante e possuidor de efeitos terapêuticos. Também prevalecia na América portuguesa uma certa valorização do vinho europeu em detrimento da aguardente local. O cirurgião lisboeta Luís Gomes Ferreira defendeu, em 1735, que “não há coisa alguma nelas [nas Minas] que seja mais prejudicial à saúde, assim de pretos como de brancos, como é a dita aguardente (…); quando queremos afirmar que uma coisa não presta para nada dizemos que é uma ‘cachaça’”. Representantes do poder português, os médicos e cirurgiões só aceitavam que a aguardente proveniente doReino fosse utilizada como remédio, para combater doenças pulmonares, gota e hidropisia. Mesmo assim, essas restrições não impediram que as aguardentes aparecessem na sociedade colonial em circunstâncias que não interessavam às autoridades.
A própria circulação do álcool extrapolou as aldeias indígenas. De acordo com os relatos do jesuíta italiano João Antônio Andreoni (1649-1716), que visitou os engenhos baianos na virada para o século XVIII, havia uma orientação para que os escravos evitassem a garapa azeda, um produto clandestino e alcoolizado, e preferissem a doce, um derivado não alcoólico. O jesuíta achava que, para resolver o problema da embriaguez dos cativos, a melhor solução era fazer com que os senhores determinassem as datas mais adequadas para se beber – dias santos e feriados – e que substâncias poderiam ser ingeridas nessas ocasiões. Para o padre, era importante que o senhor se tornasse uma espécie de tutor dos negros e os fizesse admitir as vantagens de manter a sobriedade.
Mas tentar domesticar a vida íntima dos cativos, não foi, de maneira alguma, uma manobra eficaz. Havia festas em que a bebedeira ia além do que a Igreja poderia prever, e fazia com que os escravos se permitissem acessos de luxúria, comessem em excesso, dançassem sem parar e cometessem toda espécie de pecado que “aproximava os homens do demônio”. Teólogos e moralistas viam essas reuniões como momentos de sacrilégios e blasfêmias.
Havia negros que guardavam dinheiro para comprar aguardente e, consequentemente, oferecer a bebida aos amigos, nas festas ou durante as refeições. Nestes casos, a cachaça cumpria a função social de reforçar os laços de solidariedade entre os cativos. Não por acaso, tanto os religiosos como a própria Coroa não mediam esforços para tentar resolver a “questão das aguardentes”. Diversas ordens e pareceres foram editados ao longo do século XVIII com o intuito de regular a produção, a distribuição, a troca e o consumo de bebidas alcoólicas, sobretudo na capitania mineira.
Por temerem revoltas, as autoridades estavam sempre atentas à circulação da bebida, que aproximava escravos e homens livres pobres nas tabernas (mineiras) e festas. Tanto que o rendeiro Francisco Machado de Souza, em 1738, teve que suplicar ao rei que libertasse seu escravo Thomas Mina, que havia sido surpreendido por oficiais quando foi comprar cachaça. Mesmo alegando que iria oferecer doses da bebida em uma festa de batizado da qual seria o padrinho, Thomas foi preso pelo simples fato de portar a substância. As visitações episcopais também se encarregavam da perseguição ao uso de bebidas estimulando a denúncia de ebriedade.
Um certo José Pereira também sofreu com a sentença que recebeu em 1773. Preso por embriaguez, ele foi solto com a condição de que apresentasse, a cada três meses, uma “certidão de bem-viver”. Sem o documento, que devia ser emitido pela comunidade – enfatizando que a embriaguez era prejudicial por perturbar o “sossego público” –, ele teria que ser enviado na mesma hora para a prisão mineira do Cuieté. Havia, portanto, um modelo cristão e moderador na sociedade, que verificava como devia ser o comportamento dos cidadãos em relação à bebida e que fiscalizava a sobriedade alheia.
A embriaguez, portanto, aparecia como uma manifestação de imoralidade e fonte de pecados e arruaças. Por isso, o poder colonial pressionava, perseguia e prendia os beberrões. Apesar dos embates travados por escravos, homens livres e povos indígenas contra as autoridades, talvez ainda sobreviva entre nós algo desta herança colonial da ideologia da moderação relativa às nossas formas de beber.

lei seca

Alcoolismo – Embriaguez e suicídio de indígenas na atualidade


alcoolismo indios
O corpo de Brasil Lopes, índio da etnia Caiuá, foi encontrado na manhã do dia 19 de maio de 2011 na aldeia Bororó, no Mato Grosso do Sul. Ele se enforcou depois de passar a noite embriagado. Longe de ser um caso isolado, o excesso do consumo de bebidas alcoólicas e o suicídio entre as populações indígenas têm chamado a atenção das autoridades públicas. Já em 2000, a Fundação Nacional do Índio (Funai) indicou, a partir de um estudo, que o alcoolismo estava entre as enfermidades mais comuns nos grupos indígenas brasileiros. A Comissão Especial sobre as Causas e Consequências do Consumo Abusivo de Bebida Alcoólica, da Câmara de Deputados Federal, chegou a organizar um debate, em junho, sobre a ingestão exagerada feita pelos índios. Uma das questões abordadas foi justamente a relação entre o abuso de álcool e o aumento de suicídios.
Segundo informações do Distrito Sanitário Especial Indígena dessa região, a média de suicídios entre índios do Alto Solimões, na Amazônia, chegou a ser quase oito vezes maior que a média nacional em 2008, que varia de 3,9 a 4,5 para cada 100 mil habitantes. Embora seja preciso levar em conta os aspectos culturais, como os sentidos da morte para os diferentes grupos, o elevado número de suicídios, que chegou a 38,32 para cada 100 mil habitantes na região, pode ter no consumo excessivo de álcool uma de suas causas. Reportagem do programa “Fantástico”, da Rede Globo, exibida em 30 de janeiro de 2011, apresentou diversos exemplos que indicaram o tamanho da questão, como o caso da índia Márcia Soares Isnardi, de 21 anos, da aldeia Bororó, que morreu depois de ter consumido bebida alcoólica.
Além dos suicídios, o alcoolismo também está diretamente ligado ao agravamento dos casos de violência nessas comunidades. Em outubro de2010, após seminário promovido pelo Ministério Público de Tocantins, foram criadas algumas normas para tentar coibir o consumo de álcool e drogas nas aldeias da nação Karajá daquele estado e do Mato Grosso. Foi instituída, por exemplo, a criação de uma polícia indígena destinada a proteger os integrantes das aldeias de pessoas violentas devido à embriaguez, bem como incentivos à prática de esportes. Tentativas de interromper o crescimento dessa estatística assustadora.

É mais difícil morrer usando estas drogas do que ingerindo álcool


alcoolDrogas são proibidas por lei pelo grande risco que causam à saúde. Mas não é segredo para ninguém que drogas permitidas por lei, como o álcool e o cigarro, também nos trazem grandes riscos. Os danos causados pelo cigarro são bem conhecidos, e a proibição de propagandas e os alertas nas embalagens ajudam a população a ter pleno conhecimento sobre os riscos do produto que está consumindo. Com o álcool, é um pouco diferente. Não há proibição da publicidade e o único alerta feito diz respeito à faixa etária permitida.
Por isso, a impressão que fica é que bebidas alcoólicas não representam um risco tão grande, mas isso não é verdade. O manual de orientação da Sociedade Brasileira de Pediatria sobre o álcool diz que a Organização Mundial de Saúde aponta que o consumo de álcool excessivo no mundo é responsável por 2,5 milhões de mortes a cada ano. O percentual equivale a 4% de todas as mortes, o que faz com que o álcool se torne mais letal que a Aids e a tuberculose.
O Brasil é um dos grandes consumidores de álcool do mundo. De acordo com um relatório da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), somos o terceiro país das Américas com o maior número de mortes relacionadas ao álcool entre os homens – e o mesmo estudo aponta que as Américas possuem uma taxa de consumo de álcool maior do que o resto do planeta. O relatório aponta que 73,9 homens a cada 100 mil morreram em 2010 no país devido ao álcool. As mulheres não ficam em uma posição muito melhor: somos o 11º país neste ranking. O álcool mata 11,7 em cada 100 mil mulheres – o número é muito menor que o dos homens porque o consumo entre eles é maior. Proporcionalmente, o número de mortes entre as mulheres brasileiras é alto também, considerando que o primeiro lugar na lista, a Argentina, tem 21,1 mortes por cada 100 mil habitantes.
Um estudo de 2010 feito por cientistas britânicos chegou até mesmo a colocar o álcool como a droga mais perigosa, a frente de substâncias como heroína e crack.
Existem várias maneiras de calcular o perigo de uma droga além de quantas pessoas ela mata – já que isso poderia desvirtuar a análise, uma vez que o álcool, por exemplo, é mais difundido, é legal e possui mais propaganda do que outras drogas e, portanto, chega a mais pessoas. Um método é medir a diferença entre uma dose efetiva da droga e uma dose letal. Considerando isso, as dez drogas listadas abaixo são menos mortais que o álcool tanto no número total de pessoas que matam quanto em relação à diferença entre uma dose letal e uma dose comum – há mais espaço entre uma dose efetiva e uma dose letal entre elas do que no álcool.
Cafeína
A cafeína é um estimulante do sistema nervoso central e é a única droga psicoativa que não é rigorosamente regulada. É preciso, antes de tudo, diferenciar a cafeína do café. Casos de overdose de cafeína geralmente acontecem com pílulas ou outros tipos de cafeína concentrada. A xícara média de café tem apenas cerca de 100 miligramas de cafeína. Seria preciso um exagero muito grande de café para arriscar uma sobredosagem. Se você pesa cerca de 68 quilos, você precisaria tomar mais de 50 xícaras de uma só vez para que o café seja letal.
A ciência não sabe exatamente qual seria uma dose letal de cafeína, já que pesquisas sugerem que a tolerância à cafeína é algo individual. O que sabemos com certeza é que mulheres são mais vulneráveis ​​aos seus efeitos do que os homens.
Casos de sobredosagem com cafeína noticiados na imprensa são raros e tendem a acontecer quando ela está em formas irregulares, como em pílulas ou em pó, e os indivíduos tomam uma quantidade excessiva muito rápido.

Cocaína
Só por que uma droga é menos perigosa do que o álcool não quer dizer que ela não seja perigosa, e a cocaína é definitivamente perigosa. Ela é o principal estimulante associado à sobredosagem e à morte, superando drogas como a anfetamina e a metanfetamina. Como a cafeína, a cocaína é um estimulante do sistema nervoso central. Ela funciona como um carro em uma via rápida em direção à via mesolímbica do cérebro, onde a sensação de recompensa é processada.
A cocaína funciona bloqueando a remoção de dopamina das sinapses do cérebro, deixando-a acumular, o que causa sentimentos de euforia intensa. Em excesso, a cocaína está associada a irregularidades de humor, alucinações, colapso do septo e psicose. Ela é menos mortal do que o álcool. Porém, quando tomada em conjunto com bebidas alcoólicas, ela cria algo chamado de cocaetileno. O cocaetileno é uma droga nova produzida por uma dose de uma só vez de cocaína e álcool, e seus níveis de toxicidade podem ser 30% maiores do que o da cocaína sozinha.

Óxido nitroso
O óxido nitroso, o famoso gás do riso, é um gás incolor e não inflamável. Ele possui um ligeiro odor metálico e a capacidade de causar uma intensa tontura. O óxido nitroso é famoso por seu uso médico como analgésico e anestésico. No entanto, ele também é usado de forma recreativa.
O óxido nitroso foi inventado no final do século 18 e logo tornou-se comum nas festas da classe alta da Grã-Bretanha, e somente depois de superar a resistência dos médicos da época passou a ser usado nos consultórios. Hoje, é possível encontrar óxido nitroso também como oxidante em foguetes e sendo usado para aumentar a produção do motor durante corridas de automóveis.

Ketamina
Conhecida como “Special K”, a ketamina, ou cetamina, é um tranquilizante de cavalos que também é usado como droga recreativa – apesar ou mesmo por causa disso. Ela é relativamente comum como anestesia pediátrica e veterinária e é considerada um anestésico disassociativo, causando efeitos parecidos de anestesia do que drogas como o PCP, ou pó de anjo, e a DXM, substância presente em xaropes para tosse, drogas que manipulam as percepções sensoriais de alguém.
Atualmente, pesquisas pioneiras sobre as propriedades químicas da cetamina sugerem que seus usos medicinais são mais amplos do que apenas um anestésico. Pesquisas mostram que ela pode ser útil no tratamento da depressão. Um estudo da Universidade de Yale mostrou que a cetamina, quando administrada corretamente, pode curar partes inteiras do cérebro desgastadas por anos de estresse e fadiga. Quando usada com abuso, ela traz riscos. O uso excessivo pode levar o usuário a uma síndrome clínica que se assemelha a uma psicose esquizofrênica.
Maconha
Não há dúvidas de que a maconha é muito menos tóxica para nossos corpos do que o álcool.
Além disso, a maconha possui efeitos medicinais comprovados para aqueles que sofrem de glaucoma, epilepsia, esclerose múltipla e ansiedade, entre muitos outros males.
A maconha é uma das drogas psicoativas menos ameaçadoras do planeta. É praticamente impossível morrer com uma overdose de maconha. Na verdade, é uma das poucas drogas sem sobredosagens relatadas. Isso não significa que fazer algo estúpido sob efeito da erva, como dirigir ou tentar pular em um rio, não o matará. Mas é impossível que o corpo consuma níveis elevados de THC, o ingrediente ativo na maconha, a ponto de causar overdose. Seria preciso ingerir centenas de quilos de maconha em poucos minutos para morrer.

Ecstasy
A metilenodioximetanfetamina, conhecida pela sigla MDMA e popularmente como Ecstasy, é um composto sintético produzido pela primeira vez por químicos alemães em 1912. Sua composição química é uma mistura entre a metanfetamina e a mescalina alucinógena. O ecstasy provoca diversas reações químicas no corpo, potencializadas pelo fato de que muitas vezes ele é tomado em conjunto com outras drogas. A droga catalisa uma onda de serotonina no cérebro, levando a sentimentos de euforia, empatia e serenidade que podem durar várias horas.

Quando ela começa a sair do nosso sistema, entretanto, desencadeia reações que causam sentimentos muito fortes de depressão e fadiga.
Overdoses de ecstasy, que geralmente ocorrem em raves e shows de música, levam a desidratação e, em alguns casos, insuficiência cardíaca. Mas o maior perigo da MDMA é que ela raramente é comprada em forma pura. Em vez disso, a droga é misturada a outros compostos que podem ser tóxicos para a saúde.

Codeína
Os EUA vivem atualmente uma epidemia de opiáceos, e a inclusão da codeína em xaropes contra a tosse desempenhou um papel nisso. A codeína é o único opiáceo que aparece nesta lista. Quando utilizados corretamente, os opiáceos ajudam a aliviar níveis moderados ou severos de dor. A codeína também é utilizada como supressora da tosse, muitas vezes em conjunto com acetaminofeno ou um fármaco antiinflamatório não esteróide (AINE).

Muitas pessoas vão atrás da codeína acreditando incorretamente que é uma droga mais segura do que outras, mais “pesadas” como a heroína.
A codeína no xarope contra a tosse é misturada com prometazina, uma substância que tem que tem um efeito sedativo. Como a codeína e a prometazina são depressores do sistema nervoso central, a overdose pode levar a uma insuficiência respiratória. Os adolescentes americanos são o subgrupo mais adepto à codeína. Um em cada dez entre eles admitiu usar xarope contra a tosse para fins recreativos em 2014.

LSD
O LSD, também conhecido como ácido, é a sigla em inglês para dietilamida de ácido lisérgico. O cientista suíço Albert Hofmann sintetizou o LSD em 1938 enquanto trabalhava com o ergot, um fungo encontrado em grãos. Cinco anos depois, ele acidentalmente engoliu algumas de suas criações. Hofmann experimentou formas e imagens estranhas, efeitos comuns do LSD. Três dias depois, ele tomou uma dose maior da substância, no que seria a primeira viagem intencional de LSD no mundo.
O LSD é um alucinógeno que dá a seus usuários novas sensações auditivas, visuais e sensoriais. Em termos de toxicidade, a overdose de LSD é quase tão improvável quanto a do THC. Para ter uma overdose, um indivíduo precisaria aumentar em 1000 vezes a dose média. No entanto, as pessoas certamente podem fazer coisas estúpidas e perigosas sob a influência do LSD.
Outra característica em comum entre o LSD e a maconha são seus fins medicinais. Cientistas estudam como utilizar o LSD como um remédio contra a depressão. Testes em laboratório e com acompanhamento médico já mostraram que essa e outras drogas alucinógenas podem ser muito eficientes nestes casos.

Psilocibina
Ao contrário do LSD, a psilocibina é um psicodélico natural. Ela pode ser encontrada em várias espécies de cogumelos, conhecidos coloquialmente como “cogumelos mágicos”. Os cogumelos contendo psilocibina têm sido utilizados por suas propriedades “mágicas” para fins religiosos há milhares de anos.

Em termos de toxicidade, a psilocibina pura, como o LSD, é quase impossível de causar overdose. Assim como com o LSD, a dose efetiva média teria que ser aumentada 1000 vezes para alguém morrer de psilocibina, o que a torna muito menos letal do que o álcool.
Quando a psilocibina foi introduzida na cultura ocidental, seu potencial uso para tratamento da saúde mental já foi observado. Hoje, os médicos estão estudando como a psilocibina pode ajudar aqueles que sofrem de uma variedade de doenças mentais, e os resultados por enquanto são bastante positivos.

Mescalina
A mescalina é mais um alucinógeno. Porém, ao contrário do LSD ou dos cogumelos, não é muito difícil ter uma overdose com ela. Seria preciso aumentar a dose efetiva média em “apenas” 24 vezes – algo ainda distante do perigo do álcool.
Como a psilocibina, a mescalina é um alucinógeno natural, principalmente encontrado no cacto peiote, comum no sudoeste dos EUA e em boa parte do México. A mescalina tem uma história antiga, sendo usada desde a era pré-colombiana. Os astecas usavam o peiote por suas qualidades “divinas”.
O mais irônico é que alguns especialistas acreditam que a mescalina e os outros alucinógenos poderiam ser a chave para uma cura para o alcoolismo. [Listverse]

Neurologia – Alcoolismo Prejudica a Memória


Nascemos programados para esquecer. Mais cedo ou mais tarde, cada um de nós apagará da lembrança informações recentes, compromissos, conceitos, habilidades. A perda da memória é gradativa e determinada geneticamente com a morte das células nervosas em diferentes áreas do cérebro, provocada por um inimigo certo e igual a todos: o envelhecimento.
Ao longo da vida, muito antes mesmo de ficarmos velhos, nossa memória é atacada de diversas formas, sem que tenhamos um controle sobre isso. Traumas, doenças, medicamentos, exposições a componentes químicos podem causar lesões irreversíveis no cérebro. Mas muitas vezes nos tornamos aliados dos nossos inimigos com atitudes que tomamos conscientemente e, algumas vezes, com muito prazer.
Um dos inimigos mais agressivos é o álcool. Nas células nervosas, essa substância toma o lugar da glicose, mas não é capaz de produzir o mesmo volume de energia.

“O álcool destrói as células nervosas. Por causa da dificuldade de absorção do intestino, devido à lesão causada pelo álcool, elas têm deficiência das vitaminas B1 e B12. E a deficiência dessas duas vitaminas vai provocar uma lesão adicional no cérebro, além da lesão que o próprio álcool produz”, esclarece Benito Damasceno.
De acordo com os especialistas, a má alimentação é o segundo grande inimigo da memória. E ela também faz parte da rotina de Henrique. Ele troca refeições por salgados fritos. Gordura e altos níveis de colesterol têm um efeito direto na degeneração das células. Comer pouco ou muito açúcar também faz mal para a memória. Deixar de ingerir vitamina B1 também prejudica o funcionamento do cérebro. E ela é encontrada principalmente nos cereais.
De acordo com especialistas, o excesso de comida, seja ela qual for, também compromete a capacidade dos neurônios, porque ingerimos mais energia do que gastamos. Mas o que pouca gente sabe é que a forma como os alimentos são processados também pode provocar a liberação de toxinas que prejudicam o aprendizado e a memória. Os cuidados devem ser redobrados principalmente na hora de preparar alimentos que tenham proteína, como carnes e queijos.

Cerveja é melhor que paracetamol para combater a dor (?)


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Para a dor de cabeça, paracetamol. Para a de cotovelo, cerveja. O hábito, tão comum entre nós, encontra respaldo tanto na medicina tradicional quanto na crença popular.
Mas alguns cientistas discordam.
Pesquisadores da Universidade de Greenwich, em Londres, publicaram um estudo afirmando que a cerveja é boa tanto para a dor de cabeça quanto para a de cotovelo.
Publicado no Journal of Pain, a pesquisa diz que o álcool contido em duas canecas de cerveja é mais eficaz que uma dose de paracetamol. É que, em quantidades razoáveis (não vale exagerar), a bebida pode aumentar a resistência à dor e se tornar mais eficaz que alguns medicamentos conhecidos.
Mas não se anime tanto. A pesquisa não muda em nada a recomendação da comunidade médica de reduzir ao máximo o consumo de qualquer bebida alcoólica.
E não custa lembrar: jamais beba antes de dirigir, nem que seja pra se livrar daquela dorzinha inocente.

Mega Memória – Fundação do Alcoólicos Anônimos


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10-06-1935
Em 10 de junho de 1935, em Nova York, dois alcoólatras em recuperação – um corretor e um médico – fundaram os Alcoólicos Anônimos (AA), um programa de reabilitação de 12 passos, que até hoje tem ajudado muitas pessoas a superar o alcoolismo.
Com base em técnicas psicológicas que suprimem traços perigosos da personalidade, membros da organização estritamente anônima controlam seus vícios através de discussões guiadas em grupo e confissões, confiando em um “poder superior” e em um retorno gradativo à sobriedade. A organização funciona através de grupos locais que não possuem regras formais além do anonimato, e também sem funcionários e taxas de cobrança. Qualquer um que tenha um problema com a bebida pode se tornar um membro. Hoje, existem mais de 80 mil grupos locais nos EUA, com um número estimado de quase 2 milhões de pessoas. Outras irmandades de apoio a viciados modelados nos AA incluem os Narcóticos Anônimos (NA) e os Jogadores Anônimos (JA).

Desculpa de Bêbado 2 – Tomar cerveja todos os dias ajuda a prevenir doenças do coração


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Um novo estudo da Universidade do Estado da Pensilvânia chegou à recomendação médica dos sonhos: beber cerveja todos os dias. Os cientistas comprovaram que o consumo moderado da bebida pode reduzir as chances de ter um infarto ou outras doenças do coração.
A pesquisa, apresentada em um encontro da Associação Americana do Coração, examinou 80 mil chineses adultos e saudáveis durante um período de seis anos e percebeu que o álcool reduziu o declínio natural dos níveis de HDL – conhecido como colesterol bom, que age como um “detergente natural” ao limpar as moléculas de gordura do sangue.
Ao longo da pesquisa, os participantes responderam questionários sobre seus hábitos alcoólicos e fizeram exames de sangue periodicamente para medir os níveis de colesterol. Aqueles que bebiam doses moderadas de álcool – duas por dia entre os homens e uma entre as mulheres – não viram seus percentuais de HDL despencar tão rapidamente (0.17mmol/por ano). Entre os voluntários mais boêmios ou abstêmios, essa manutenção das taxas de colesterol não foi percebida. As doses de cerveja foram medidas em “pints” (copo de 473 ml) – o volume de cerveja ingerido por um voluntário que bebe moderadamente não chega nem ao conteúdo de duas latas de cerveja.
Apesar dos cientistas terem feito a pesquisa com outras bebidas, os efeitos do consumo de cerveja foram mais perceptíveis. Os resultados do estudo são importantes, porque quanto maiores as concentrações de HDL, menores são as chances de desenvolver placas de colesterol “ruim” nas paredes das artérias e, consequentemente, obstruir o fluxo sanguíneo. Uma boa descoberta, visto que os problemas cardíacos estão entre as doenças que mais matam no Brasil e no mundo.
Mesmo assim, os pesquisadores afirmam que para determinar a relação colesterol bom–cerveja, são necessários outros testes em populações com hábitos diferentes da chinesa. Eles também alertam para os perigos que o excesso de álcool provoca no organismo, como aumento de peso, disfunções no fígado e o desenvolvimento de problemas no sistema nervoso. Ou seja, não é pedindo mais uma saideira que você vai evitar um possível infarto – mas talvez molhar o bico ajude.

Alcoolismo – As proteínas que podem salvar o fígado dos bêbados


ALCOOLICOS-ANONIMOS
Isso merece um brinde, mas trocadilhos a parte;
Não há a menor dúvida: o excesso do consumo de bebidas alcoólicas destrói seu fígado. Só que os pesquisadores nunca souberam explicar como exatamente isso acontece. Agora, um grupo de pesquisadores da Universidade da Califórnia, em San Diego, parece ter encontrado o ponto de partida da cirrose no organismo – o intestino. E o melhor: o achado pode ajudar a proteger seu corpo contra o desenvolvimento da doença.
Isso porque, sob efeito do álcool, duas proteínas responsáveis por eliminar bactérias deixam de ser produzidas no intestino. E parte desse excedente acaba migrando para o fígado. Aí o corpo reage: células brancas são enviadas para reduzir essa população de bactérias. O problema é que, acionadas durante tempo prolongado, essas células também agridem o tecido – é quando surge a cirrose.
Para chegar a essa conclusão, Bernd Schnabl, líder da pesquisa, injetou álcool em dois grupos de roedores. Metade deles havia sido geneticamente alterado para apresentar deficiência dessas duas proteínas específicas (lectinas REG3B e REG3G), enquanto a outra turma era perfeitamente normal. Oito semanas depois, os ratos modificados apresentaram 50% mais de bactérias do que os outros – e o fígado ficou bem mais estragado.
Em um segundo experimento, os pesquisadores aumentaram a produção dessas duas lectinas nos animais e repetiram as injeções diárias de álcool. Nenhum deles apresentou qualquer dano no fígado.
Schnabl e sua equipe já começaram a estudar a população de bactérias no corpo de alcoólatras e não alcoólatras. Ao que tudo indica, o fígado humano reage da mesma maneira que o de roedores. Quem sabe, em um futuro próximo, a descoberta se transforme no remédio mais eficaz contra a cirrose.

Psiquiatria – O alcoolismo e a Violência


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É fato conhecido que algumas pessoas, quando estão bêbadas, tendem a se comportar de uma forma mais agressiva e impulsiva. Agora, um estudo científico, realizado com pacientes finlandeses, revela a causa desse fenômeno.
De acordo com o artigo publicado pela revista “Translational Psychiatry”, o surgimento dessa espécie de Mr. Hyde durante a ingestão de álcool está relacionado à mutação no gene receptor da serotonina 2B, o qual condiciona o comportamento do bebedor, que se torna errático, propenso ao descontrole e aos transtornos do estado de ânimo.
A pesquisa revela dados sobre pacientes com alcoolismo, que foram entrevistados por um psiquiatra e responderam questionários sobre a personalidade e o comportamento, e os compara com um estudo, publicado em 2010 na revista “Nature”, sobre a mutação do receptor de serotonina 2B entre os finlandeses. Os autores do estudo afirmam que os portadores desse gene que exibem comportamentos preocupantes poderão receber um tratamento eficaz baseado em uma combinação de medicamentos, psicoterapia e abstinência alcoólica.
Além do efeito sobre a saúde da sociedade finlandesa, essa descoberta poderá ajudar na compreensão da função do receptor 2B de serotonina em todos os seres humanos.

Comportamento Social – Pessoas que trabalham mais também bebem mais


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O Instituto Finlandês de Saúde Ocupacional conduziu uma pesquisa que revelou que, quanto mais horas passamos no trabalho, mais bebemos. Para chegar a essa conclusão, foram analisados os hábitos de 333693 pessoas em 14 países.
O estudo mostrou que, se você trabalha mais do que a média, tem 13% a mais de chances de abusar no happy hour. Mas quanto é “mais”? De acordo com os cientistas, quem trabalha mais do que 49 horas por semana – divida esse número pelos dias em que você trabalha e, voilá, você descobrirá se tem risco de entrar para essa turma.
E o quanto eles consideram que seria beber mais do que a média? No estudo eles listam 14 drinks para mulheres e 21 drinks para homens a serem consumidos durante uma semana.
E aí, hora de tirar férias ou partiu pro boteco depois do serviço?