Neste artigo, vamos ver como estas duas áreas tendem a se aproximar, inexoravelmente, entre a “mecanização” do homem e a “humanização” das máquinas, tanto fisicamente quanto “espiritualmente”. Vamos ver os progressos mais significativos desses dois campos de pesquisa, que devem impactar profundamente o nosso modo de vida nas próximas décadas.
O Cyborg : a fronteira entre o homem e a máquina
Chamamos de “cyborg” todo ser vivo – geralmente humano – o que teria sido “reforçado” por adições mecânicas em seu corpo. Aliás, o termo “cyborg” é a contração de “cybertenic organism” (organismo cibernético) e apareceu na década de 60 durante as primeiras explorações espaciais. Os pesquisadores refletiam sobre o conceito de um ser humano “evoluído” que pudesse sobreviver em ambientes extraterrestres.
Mas esse conceito surgiu bem antes. Voltemos para meados do século XIX, nos livros de Edgar Allan Poe, autor que já descrevia um homem com próteses mecânicas em seu conto “The man that was used up” (O Homem que foi refeito), publicado em 1839. Desde então, a ideia ganhou terreno e os cyborgs e robôs tornaram-se muito populares com obras e personagens tais como Terminator, Robocop, O homem de seis milhões de dólares, os Cybermen Dr Who, ou o recente I, Robot. Se esses filmes ou séries famosas levantaram a questão dos limites da humanidade, partindo do humano, obras como a série Robots, de Isaac Asimov, buscam o limite entre o homem e a máquina, questionando a noção de “consciência artificial”, a do robô, com todas as questões filosóficas e éticas envolvidas.
Hoje fala-se cada vez mais de cyborg, não em termos de ficção, mas como evoluções científicas. Com os avanços e a miniaturização das tecnologias, percebe-se qua as próteses, cada vez mais discretas e eficientes, são capazes de substituir perdido ou superar um membro perdido ou a falência de um órgão. Frequentemente, o termo “transhumanismo” é usado para definir estes desenvolvimentos técnicos. O transumanismo é um movimento que reúne cada vez mais adeptos e que consiste em atenuar as “fraquezas” do homem (recursos físicos, doenças, invalidez, velhice, morte), graças aos progressos tecnológicos e aos enxertos mecânicos capazes de tornar o homem mais “poderoso”. Alguns falam até mesmo de pós-humanidade, prevendo a generalização destas práticas em todos os seres humanos.
Homens cuja capacidade física ou mental dependem de máquinas? Daí a falar de cyborgs, há apenas um passo.
Nós já somos “cyborgs” ?
A questão pode parecer irônica, mas tudo vai depender do ângulo em que é tratada. Se um cyborg é um homem cuja capacidade foi aumentada pelos avanços tecnológicos, então uma boa parte da humanidade pode ser definida como tal. Segundo alguns pesquisadores, nós já entramos na era dos cyborgs, com a proliferação de aparelhos eletrônicos, que invadem nossas vidas até se tornarem indispensáveis. Televisores, telefones, satélites, Internet: todas essas ferramentas nos permitem interagir com o mundo e, assim, aumentar o abrangência de nossas ações e ideias. Para a maioria das pessoas, essa explicação é muito “fictícia”, pois a evolução é uma característica própria do homem e as ferramentas tecnológicas que ele utiliza, não podem alterar a sua condição primária de “animal pensante”. Falemos sim de um homem “aumentado”.
Assim, vamos enfatizar uma definição mais real de cyborg, que consiste em mudar o corpo do homem para dar-lhe novas possibilidades físicas ou mentais. A fusão entre o homem e a máquina, através de transplantes ou implantes de chips no organismo.As pesquisas no campo são inúmeras e envolvem vários setores, incluindo a medicina, robótica, cibernética, nanotecnologia, biotecnologia, NTIC (Novas Tecnologias de Informação e Comunicação), ciência cognitiva, etc. E o progresso é rápido. Os transplantes mecânicos já existem há muito tempo, como os marca-passos, e membros artificiais, mas isso não significa criar seres diferentes. Poderíamos até falar dos óculos ou aparelhos auditivos como melhorias técnicas do homem. Melhor do que ser humano “aumentado”, falaremos aqui de ser humano “consertado”. É óbvio que ainda não atingimos a fase de cyborg como foi explicado acima, inúmeras são as pesquisas neste sentido.
Atualmente procura-se atuar na parte interna do corpo humano, seja em termos genéticos ou mecânicos, através de chips implantados, por exemplo.
Hoje, chegamos a um real limite entre o homem e a máquina. Nos acostumamos a um mundo ultra-conectado, onde os nossos aparelhos fazem parte integrante de nossas vidas e face aos quais nos tornamos cada vez mais dependentes. Implantar esses dispositivos diretamente em nosso corpo pode vir a ser uma solução do futuro, embora essa ideia levante importantes questões técnicas e sociais.
Quando observamos os avanços tecnológicos, podemos pensar que isso poderia se concretizar em um futuro, cada vez mais próximo. Hoje, já existem: o doping químico, implantes de dispositivos eletrônicos (principalmente medicais) ou próteses, tão avançadas que podem corresponder ou superar um membro humano.
Em paralelo, é interessante notar que, damos cada vez mais características humanas aos robôs, aprimorando os movimentos físicos e, acima de tudo, a inteligência artificial, que está crescendo na velocidade da luz. Estamos assistindo a uma aproximação cada vez maior entre os dois mundos.
O futuro à nossa porta
A tecnologia e a medicina estão evoluindo rapidamente e mudaram, radicalmente, o estilo de vida do homem, sempre em busca de poder. O virtual lhe permitiu alavancar sua capacidade de comunicar com os outros, com vantagens (partilha de conhecimentos e ideias, economia de tempo, desejo de criatividade) e desvantagens (desvios, manipulação de massa, violação de privacidade) inerentes.
Também melhorou a qualidade de vida dos seres humanos através de avanços da medicina, que nos permitem viver uma vida mais longa e saudável. Tudo se conecta, cada vez mais rapidamente e a maioria das pessoas não conseguem acompanhar o rítmo. Se antes, foram necessários muitos anos para uma tecnologia se expandir (como o telefone ou a televisão), hoje adotamos novas tecnologias com uma velocidade estonteante, quase mecânica, compulsiva. Não temos mais dificuldades em pensar que o homem poderia aceitar, sem muita resistência, se conectar interiormente a dispositivos eletrônicos, para se tornar, finalmente, um cyborg.
Mas onde nos encontramos, exatamente, hoje? Quais são os avanços mais marcantes? E o que podemos imaginar para a humanidade nas próximas décadas? Exceto uma catástrofe global, é provável que nossa evolução veja uma séria aceleração “graças” às novas ferramentas tecnológicas.
Os braços biônicos
Dentre os avanços mais significativos, estão as novas próteses ligadas ao sistema nervoso, acionadas por vários motores, capazes de reproduzir todos os movimentos do membro original. Hoje em dia, somos capazes de criar mãos, pés, braços ou pernas com um realismo impressionante mas, mais interessante ainda, com alta eficiência, chegando a ultrapassar os membros em carne e osso. Estes avanços anunciam novas possibilidades em termos de desempenho e estética. Podemos ver o exemplo de Aimee Mullins, atriz e atleta americana, nascida sem pernas, que ficou famoso no meio esportivo e de modelagem graças à próteses sofisticadas. Aliás, ela faz muita publicidade a fim de promover essas próteses expondo a nova perspectiva que podemos trazer para as pessoas portadoras de deficiência.
Mais impressionante ainda, este jovem austríaco que, depois de um acidente de trabalho, perdeu o uso de seu braço esquerdo. Há poucos meses atrás, ele decidiu amputá-lo para substituí-lo por um braço biônico, diretamente ligado ao seu cérebro. Os comandos do seu braço artificial são ativados por sinais elétricos do cérebro, e parece estar bem no ponto, como o mostra este vídeo realizado pela BBC. Substituir um membro inválido por uma prótese biônico parece ser uma ideia perfeitamente aceitável, mas isso poderia ser usado também em indivíduos perfeitamente válidos. Uma ideia subliminar nas palavras de Aimee Mullins, durante uma entrevista: “A amputação voluntária, eu acho que ainda vai acontecer […] Os atletas farão de tudo para obter o melhor desempenho possível”.
Aqui temos o exemplo de próteses para pernas ou braços, mas essa ideia é totalmente válida para determinados órgãos, como os rins, coração ou olhos. Não é ilusório pensar que nossos corpos poderão ser, um dia, “consertados” como um carro, cujas peças precisariam ser trocadas. Obviamente, algumas partes do corpo são mais complexas do que outras. Não se pode imaginar, por exemplo, substituir a totalidade ou parte do cérebro após um acidente grave. O olho também é um órgão difícil de ser reproduzido e, sobretudo, ligar ao cérebro humano. Os últimos avanços são encorajadores e preveem o primeiro olho biônico explorável dentro de dois anos. Para enfrentar os elementos mais delicados, outras ciências veem sendo exploradas, como a nanotecnologia ou os microchips.
Os chips implantados
Além de “consertar” ou “aumentar” o ser humano, muitos experimentos foram realizados a fim de conectá-lo às máquinas diretamente pelo pensamento, ou mais concretamente, por sinais elétricos enviados pelo cérebro, já que todas as nossas ações são controladas pelo nosso cérebro. As pesquisas se dividem em dois métodos: o primeiro, o mais suave, consiste em colocar uma tampa coberta com eléctrodos, que capta as ondas emitidas pelo cérebro, e que, em seguida, são analisadas por um computador, antes de acionar a máquina à qual ele está ligado.
O método tem evoluído, mas também tem se mostrado pouco preciso e muito lento. É por isso que certos cientistas teem estudado um método alternativo, visando implantar um chip diretamente no cérebro. Isso aumenta a precisão, mas cria riscos significativos de infecção; assim sendo, os testes em seres humanos são muito limitados atualmente. Mais uma vez, esses estudos são destinados, principalmente, para pessoas com deficiência, que não podem contar com seus corpos para realizar ações, daí o interesse de uma interface homem-máquina controlada pelo pensamento.
Mas outros estudos tentam tornar o homem um verdadeiro controle remoto, capaz de interagir com as máquinas com um simples movimento do braço ou, mais ambiciosamente, pelo pensamento. Entre os pesquisadores mais influentes no campo, Kevin Warwick, professor de cibernética da Universidade Reading, no Reino Unido, tornou-se conhecido por ter feito implantes no seu próprio corpo. Em março de 2002 ele implantou um microchip no nervo do braço para controlar máquinas simples com um simples movimento (mão robótica, lâmpada). Ele vê o progresso tecnológico como uma forma de melhorar o ser humano e não apenas para tratá-lo. Ele até conseguiu transmitir um sinal para uma mão mecânica, do outro lado do planeta, pela Internet.
Esta experiência criou algum desconforto, porque podemos imaginar possíveis abusos de tal poder (dirigir objetos à distância, no comando). Kevin Warwick pretende ser o primeiro representante de uma “nova espécie” pós-humana, um cyborg, por assim dizer. Seu próximo passo: implantar chips em seu próprio cérebro para se comunicar com o cérebro de outro indivíduo, também equipado com um chip.
Uma experiência que visa, nada mais, nada menos, a telepatia entre os humanos e, que deveria, segundo o cientista, se concretizar nos próximos dez anos. Experiências que continuam a ser altamente especulativas e que, provavelmente, enfretarão muitas críticas devido aos riscos envolvidos.
Hoje, além de reparar, as pesquisas levam a “melhorar” o homem, para torná-lo um ser híbrido de carne e metal. Estas pesquisas causam muitos controvérsia porque elas desafiam a própria identidade do homem, até separá-lo, gradualmente, do seu ambiente natural para criar, no final, totalmente artificial. Alguns anos atrás, foram publicados artigos anunciando o aparecimento de úteros artificiais.
Sem falar das experiências de reprodução assistida, que fornecem bebês “à la carte” (cor dos olhos, pele, características físicas, sensibilidade às doenças, etc) graças as manipulações genéticas. Pesquisas que enfrentaram grande controvérsia, da parte de grupos religiosos, ou mesmo alguns cientistas, que apontam o dedo para os problemas éticos associados a essas práticas.
A revolução da nanotecnologia
Além dos chips, a nanotecnologia poderia ter um papel importante no futuro. Se a técnica é aplicável a muitas indústrias, ela também é importante em medicina. Muitas equipes estão trabalhando para desenvolver micro-robôs (metálicos ou orgânicos) capazes de analisar e reparar o nosso corpo por dentro. Melhor ainda, deveria ser possível, a médio prazo, substituir as partes defeituosas do nosso corpo, tais como a retina. As nanotecnologias atuam a nível molecular, o que permite a intervenção, de uma maneira focada, sobre o corpo humano, entregando medicamentos, por exemplo, e, assim, eliminando ou retardando doenças da velhice, ou mexendo no código genético dos nossos cromossomos.
As nanotecnologia interessam muito os militares do exército americano, que tem investido centenas de milhões de euros em pesquisa e exploração dessas micromáquinas, para melhorar o desempenho dos soldados. O objetivo é produzir “super soldados” capazes de resistir aos ferimentos e até mesmo se auto-reparar, através destas nanomáquinas.
Além da evolução da Biotecnologia e a Robótica, esses avanços poderiam dar origem a super-soldados geneticamente modificados, a fim de superarem os exércitos inimigos. Nas Forças Armadas, assim como no meio civil, essas mudanças tecnológicas futuras deveriam cavar um pouco mais o fosso entre ricos pobres, como o fosso digital atual.
Até aqui nós falamos de cyborgs, ou seja, homens “aumentados”, mas existe uma outra área que merece nossa atenção especial: a inteligência artificial (IA). Esta ciência procura reproduzir artificialmente a capacidade intelectual dos seres humanos, e transpô-la através de programas usados em sistemas de criptografia, videogames, motores de busca, softwares (aprendizagem, tradução, reconhecimento facial, etc ), a robótica ou a medicina, com sistemas de órgãos autônomos. A inteligência artificial é a fonte de muitas fantasias ilustradas pela ficção científica, com robôs dotados de consciência artificial, quase ou totalmente, indistinguível de uma consciência humana, dotados de uma inteligência própria e, até mesmo, de “emoções”.
IA, ou a independência das máquinas
A inteligência artificial é uma vasta área de pesquisa, que envolve muitos pesquisadores e industriais de todos os setores, pois suas aplicações são enormes. As pesquisas na área tem como objetivo desenvolver programas capazes de executar tarefas específicas de maneira, parcial ou totalmente, autônoma.
O termo “inteligência artificial” é muitas vezes debatido entre os especialistas, que questionam a noção de inteligência, que continua muito vaga. Falamos de “inteligência” para descrever a capacidade de compreender e relacionar os conceitos, a fim de se adaptar a uma determinada situação. Existem vários níveis de complexidade, do simples reflexo face ao perigo, até a elaboração de códigos de comunicação, podendo levar a raciocínios complexos que, se continuarmos a pensar, levam à emoções e à consciência de si mesmo . Assim sendo, tendemos a resumir o conceito de inteligência à tomada de consciência de sua existência e sua relação com o grupo, permitindo a sua adaptação ao meio ambiente, e obedecendo aos seus códigos (potencial físico, contexto social, etc).
Da IA baixa para a IA alta
Evocamos assim dois tipos de Inteligência Artificial: a fraca e a forte. A primeiras busca simular a inteligência com algoritmos capazes de resolver problemas pouco complexos. Ela pode ser encontrada, por exemplo, em softwares de conversa, estes robôs que tentam imitar a conversa humana, mas que ainda teem uma certa dificuldade para convencer a grande maioria dos testes, como o famoso Teste de Turing. Essa é a grande dificuldade desse tipo de pesquisa, que quer reproduzir o raciocínio humano: ela é sempre mal compreendida pelos cientistas, que continuam a debater sobre os mecanismos da consciência humana e a comlexidade do seu raciocínio.
A IA fraca também está presente em muitos robôs virtuais (que digitalizam a web à procura de informações específicas, antes de processá-las com um objetivo dado), como nos algoritmos do Google ou robôs de conversação. Também podemos citar os robôs industriais ou os veículos autónomos. Aliás, esta área tem se beneficiado dos avanços espetaculares, como mostra este vídeo que deu a volta na web, há alguns meses, durante um demonstração técnica do Google, que está na primeira linha de muitas pesquisas sobre a IA.
Por outro lado, a IA forte, que alimenta todas as fantasias, implica, além de um comportamento inteligente, em ter uma real consciência de si, o que implica na presença de emoções e sentimentos. Claro que, tal grau de inteligência não existe atualmente em nossas máquinas mas, para a maioria dos cientistas, isto é só uma questão de tempo. Partindo do princípio que a nossa inteligência e a nossa consciência são o resultado de interações biológicas e materiais, poderia ser possível, um dia, criar uma inteligência consciente em um outro suporte material, que não seja o biológico.
Se essa ideia era impensável durante os primeiros frutos da IA, nos anos 50, ela parece muito mais realista hoje em dia. Estima-se que o poder de cálculo do cérebro humano, constituído de trilhões de neurônios, é equivalente a 2 x 1014 operações lógicas por segundo. O mais poderoso supercomputador atual pode calcular a 8 petaflops, ou seja, 8×1015 operações por segundo, e o progresso é muito rápido na área (recorde de 7 teraflops, dez anos atrás, ou seja, 1000 vezes menos).
Aplicativos cada vez mais ambiciosos
Hoje em dia, muitos aplicativos que fazem uso da inteligência artificial já fazem parte de nosso cotidiano: motor de busca, robôs de suporte, softwares de tradução ou jogos de vídeo. É nesta última área que o progresso é mais impressionante, onde os desenvolvedores tentam dar ainda mais realismo e credibilidade a esse mundo virtual, começando pelos personagens. Além dos gráficos e da animação, o comportamento dos personagens desempenha um papel importante na credibilidade da coisa. Vamos tentar usar scripts ou sistemas multi-agentes que se baseiem nas possíveis ações dos personagens conforme as situações.
Assim, é possível dar um comportamento super realista, já que não é real, a personagens virtuais que também beneficiam de uma modelagem cada vez mais trabalhada, o que nos aproxima gradualmente do conceito da “Uncanney Valley” (Vale da estranheza), muito conhecido por causa dos seus jogos super modernos. Um conceito que se aplica igualmente aos robôs humanóides, às vezes, extremamente realista.
As pesquisas em matéria de inteligência artificial progridem rapidamente e, muitas vezes, surpreendem a todos com o desenvolvimento de programas, capazes de suplantar os seres humanos em determinadas áreas. O caso mais divulgado foi o do Deep Blue, um supercomputador especializado em xadrez, que em 1997, derrotou o campeão mundial de xadrez Garry Kasparov, depois de várias partidas.
Muitos criticarão esta vitória do Deep Blue lembrando do cansaço de Kasparov depois de seis paridas consecutivas. Um ponto a ser considerado é, que uma das vantagens da máquina sobre o homem, é que ela não conhece o cansaço – físico ou psicológico – pelo menos se estivermos falando de IA fraca. Mais profundamente, o o programa Watson, desenvolvido pela IBM, derrotou dois adversários humanos em um quiz da televisão americana, respondendo às questões formuladas em linguagem natural. Melhor ainda, o Watson poderá vir a ajudar os médicos, como um “consultor” do serviços de clientes ou para cuidados médicos.
Mas o mais impressionante na IA, é quando ela é aplicada aos autômatos. Fazem décadas que os homens sonham com robôs capazes de imitar o comportamento humano, ou torná-los capazes de realizar as tarefas mais árduas. De maneira mais ambiciosa e, também, mais sonhadora, sonhamos com humanóides, ou seja, robôs com aparência humana, com quem poderíamos viver em perfeita harmonia, misturando-os com a população humana, atribuindo-lhes diferentes funções, do serviço até a pessoa, passando pelos robôs sexuais. Um cenário visto em vários filmes de grande sucesso como o “AI: Inteligência Artificial”, que situa a ação na segunda metade do XXI século, onde os “mecas”, os humanóides, vivem entre os humanos e serão, aliás, os únicos a sobreviver com as mudanças climáticas. Um cenário que levanta muitas questões sobre o futuro da humanidade e, que revela um futuro bastante provável diante dos avanços que temos visto.
Mais voltado para o risco de tais “máquinas” entre nós, o filme iRobot é baseado na série Robots do Asimov, e imagina, em 2035, a compra em massa de robôs humanóides, particularmente avançados, para casas do mundo inteiro, com as vantagens e os abusos que tal situação possa gerar. Um desses robôs ainda consegue desenvolver uma consciência própria, com sentimentos que imaginamos humanos, tipo: medo, raiva, tristeza, compaixão, etc.
A Inteligência Artificial e as máquinas
Hoje em dia, em 2011, ainda estamos longe desses robôs, mas estamos progredindo rapidamente. Estamos nos referindo, é claro, à domótica e aos dispositivos, mais ou menos úteis, para nos ajudar em nosso cotidiano, em nossa casa, pelo menos. Soluções que se integram gradualmente em nossas casas, assim como os computadores e as telas de alta definição e, que deveriam se generalizar em uma década. Podemos mencionar também o Aibo da Sony, abandonado em 2006 por falta de rentabilidade.
Quanto aos robôs humanóides, não podemos deixar de ficar impressionados com a velocidade com que as equipes de pesquisa estão progredindo em seus respectivos campos. Alguns modelos particularmente inovadores também têm sido apresentados na mídia, como o caso do famoso Asimo, da Honda, hoje capaz de andar em baixa velocidade, reconhecer pessoas e ter uma “discussão” básica. A versão mais recente, publicada em 2007, traz a conexão Wi-Fi, que permite que vários Asimos dividam suas tarefas entre si, ou se substituam, quando outros teem que recarregar suas baterias. Entre os robôs mais populares citemos também o Nao, desenvolvido por uma empresa francesa, a Aldebaran Robotics, e que deveria ser lançado em 2012, em supermercados. Um pouco parecido com o I, Robot. A sua gama de programação permite um grande número de utilizações possíveis para o Nao: robô de companhia, parceiro de jogos, assistência pessoal, etc.
Obviamente, a IA interessa muito as forças armadas. Em 2010, a Força Aérea dos EUA pediu a concepção de um programa capaz de identificar os setores mais vulneráveis do inimigo, em vista de um ataque. E mais preocupante ainda, o exército americano, provavelmente seguido por outras nações, quer se equipar com armas autônomas, capazes de localizar e atacar o inimigo por sozinhas. Assim, em 2020, mais de mil bombardeiros e aviões de caça, da última geração, começarão a ser equipados de modo que, até 2040, todos os aviões de guerra americanos serão controlados por inteligência artificial, além dos 10 000 veículos terrestres e dos 7000 aparelhos aéreos já controlados remotamente. Vendo isto, e indo ainda mais longe, não podemos deixar de pensar nas cenas apocalípticas de alguns filmes futuristas como “Matrix”.
A ciência que já não é quase mais uma ficção
É claro que, atualmente, é impossível ter-se uma visão clara do que nos aguarda nos próximos dez, vinte ou cinquenta anos. Este artigo foi uma oportunidade para mostrar as muitas possibilidades exploradas em termos de cibernética, biotecnologia e inteligência artificial (e muitas outras ciências que giram em torno). Não seria correto insistir quanto à gravidade de diversos cenários utilizados pelos filmes de ficção científica, porque a realidade é, muitas vezes, mais complexa e difícil de prever, especialmente em áreas tão em evolução, como estas.
O professor Kevin Warwick já explicou, muitas vezes, que o homem vai evoluir junto com as máquinas para não serem superado. Temos uma certa dificuldade para pensar que os seres humanos seriam imprudentes o bastante para deixar as máquinas assumirem o poder sobre nossa espécie de alguma maneira. Mas a sede de poder e a curiosidade dá lugar a todas as possibilidades.
Vamos concluir este artigo com uma citação do professor Irving John Good, estatístico britânico famoso, que trabalhou com inteligência artificial e “lógica robótica”; ele morreu em 2009:
“Suponhemos que exista uma máquina que supere, em inteligência, tudo o que o homem é capaz de fazer, mesmo sendo extremamente brilhante. Como a concepção de tais máquinas faria parte das atividades intelectuais, esta máquina poderia, por sua vez, criar melhores máquinas do que ela mesma. Isto seria, sem dúvida, uma reação em cadeia do desenvolvimento da inteligência, enquanto que a inteligência humana permaneceria praticamente no mesmo ponto. Resultaria então que, a máquina ultra-inteligente seria a última invenção que o homem precisaria criar, desde que a dita máquina fosse dócil o suficiente para continuar a obedecê-lo permanentemente”.
Você está surfando no ☻Mega