História – Taiwan – Uma nação ou uma província chinesa?



A questão de Taiwan teve origem com a vitória da Revolução Chinesa em 1949, a derrubada do governo de Chiang Kai-shek e a instauração do governo socialista de Mao-Tsé Tung. Chiang Kai-shek, que governou a China desde 1927, refugiou-se com seu Estado Maior e cerca de 2 milhões de chineses na ilha de Taiwan ou Formosa, situada a 130 km do litoral da parte continental da China e separada desta pelo estreito do mesmo nome. Formou-se na ilha um governo autônomo com o apoio dos Estados Unidos.
A partir desse período, a China seguiu dividida em duas: República Popular da China (a parte continental) e a China Nacionalista ou Taiwan (parte insular). Elas representavam os dois lados da Guerra Fria. A China Popular aliou-se à URSS até 1960 e depois seguiu seu próprio caminho. Desde então, as duas Chinas vivem numa situação de hostilidade, ocorrendo, inclusive, conflitos armados nos primeiros anos de sua divisão. A China Nacionalista, porém, assegurou sua existência através do estreitamento das relações com os Estados Unidos. Em 1954, os EUA e Taiwan assinaram um acordo de defesa mútua, após o intenso bombardeio do estreito de Formosa pela República Popular da China, , nesse mesmo ano. Ganhos e perdas de Taiwan Desde a década de 1970, Taiwan tem se destacado no cenário econômico mundial pelo desempenho invejável. Formava, ao lado de outros três países do Pacífico – Coréia do Sul, Hong Kong e Cingapura – o bloco dos primeiros “tigres asiáticos”, assim chamados por terem dado um salto no desempenho econômico, com taxas de crescimento excepcionais, além de uma política agressiva de disputa no mercado externo. Os taiwaneses conquistaram padrões de vida bem próximos aos dos países desenvolvidos, contrastando com a dura realidade vivida pela população da China continental.
Do ponto de vista geopolítico, porém, Taiwan acumulava derrotas. Em 1971 foi substituída pela República Popular da China na ONU e, em 1979, os Estados Unidos transferiram a sua embaixada de Taipé (capital de Taiwan) para Pequim (capital da China Popular), devido ao restabelecimento de relações diplomáticas com o país socialista. Nesse mesmo ano, os Estados Unidos anularam o Tratado da Defesa que mantinham com a ilha e desativaram a sua base militar. Apesar disso, o governo de Taiwan continuou contando com o compromisso de apoio e proteção militar norte-americana.
Nação ou província chinesa? Chinag Kai-Shek, líder do Partido Nacionalista (Kuomintang), governou Taiwan até 1975, com poderes ditatoriais. Mesmo após a sua morte, nesse mesmo ano, a ilha continuou a ser controlada pelo Kuomintang. Somente na década de 1990 o país passou por um processo de democratização, abrindo espaço para outras agremiações políticas. Em 2000, o Partido Democrático Progressista (PDP) conquistou o poder através de eleições livres, sob o comando de Chen Shui-bian. O PDP sempre manifestou posição favorável à independência em relação à China Popular, que lhe rendeu os votos da maioria da população taiwanesa e assegurou a reeleição de Chen, em 2004.
Taiwan tem governo próprio, eleito democraticamente, instituições independentes, moeda nacional, forças armadas, participa ativamente do comércio internacional e é membro da APEC (Cooperação Econômica Ásia-Pacífico). Para efeitos práticos, é um Estado soberano, mas apesar disso não é reconhecido pela ONU e pelas principais organizações internacionais. Mantém relações diplomáticas com 26 países apenas.
A China Popular considera Taiwan uma província rebelde, uma parte inalienável do seu território. Nos últimos anos, tem se empenhado ostensivamente no projeto de reunificação, inclusive recorrendo ao uso da força, caso isso seja inevitável. Desde a década de 1990, tem realizado manobras militares no estreito de Taiwan, no sentido de reforçar a sua disposição de impedir qualquer tentativa de independência.
Um país, dois sistemas Em busca de uma solução pacífica, contudo, Pequim propõe o conceito de “um país, dois sistemas”: o socialista no continente e o capitalista em Taiwan. Em tese, isso permitiria a Taiwan adotar as suas políticas econômicas e manter as suas instituições, com relativa autonomia.
Do outro lado do estreito, o atual presidente taiwanês não ousa declarar publicamente a independência ou tomar qualquer decisão contra a reunificação com a parte continental. No entanto, tem manifestado que qualquer atitude a esse respeito dependerá de um processo livre e democrático, cuja deliberação cabe a 23 milhões de pessoas que vivem em Taiwan, em sua maioria simpática à causa separatista. A perspectiva de uma só China no futuro, declara Chen, deverá ser fruto de negociações em bases iguais.
Taiwan conta, ainda, com o apoio dos Estados Unidos que consideram a ilha estratégica para sua influência na região da Ásia-Pacífico. Além disso, é determinação do Congresso norte-americano defender a ilha de qualquer ameaça militar externa.
Lei Anti-Secessão Em março de 2005, um novo agravante tem colocado em risco as delicadas relações entre as duas Chinas. A Assembléia Nacional Popular, parlamento da China Continental, aprovou uma lei anti-secessão. Essa lei autoriza o uso da força contra Taiwan, caso esta declare a sua independência formal. A iniciativa reforça as hostilidades entre os dois governos e coloca os Estados Unidos em situação delicada. Não está nos planos dos americanos um conflito direto com a China, que, por outro lado, não deverão ficar impassíveis a China invada Taiwan e busque a reunificação por meios bélicos.
Desde 2004, o governo norte-americano vem fortalecendo a cooperação militar com Taiwan e tem feito pressões sobre a União Européia para que não suspendam o embargo à venda de armas à China continental, imposto desde o massacre da Praça da Paz Celestial, ocorrido em 1989, quando a população chinesa saiu às ruas para exigir liberdades democráticas. O governo de Washington procurou, também, envolver e comprometer o Japão na defesa de uma Taiwan independente: os japoneses têm interesses estratégicos no estreito, por onde circula boa parte das mercadorias negociadas por este país no mercado internacional.
A maioria dos analistas acredita que a Lei Anti-Secessão é mais um jogo de cena da China Popular. Essa lei não acrescenta nada além do que o governo chinês sempre declarou neste pouco mais de meio século de tensão entre as duas China. Existe ainda um outro componente que funciona como bloqueador de ações beligerantes: as intensas relações e interesses econômicos existentes entre todos os países que poderiam ser envolvidos pelo agravamento da questão taiwanesa.

História – Hong Kong e a China



Hong Kong fica a leste do estuário do Rio das Pérolas, na província de Guangdong, no Sul da China. O território é um dos mais densamente povoados do mundo, com uma população de quase 7.5 milhões de habitantes vivendo numa área de 1.104 km2: possui, deste modo, uma densidade de 6.300 pessoas por Km2 (World Population Review, 2019).
A 1º de julho de 1997, Hong Kong deixou de estar sob a jurisdição britânica e passou para a jurisdição chinesa, tornando-se numa Região Administrativa Especial (RAEHK) da República Popular da China (RPC). No ato oficial de transferência de soberania, o Chefe do Executivo do novo Governo de Hong Kong, Tung Chee Hwa, formula publicamente a política de um país, dois sistemas, defendida em 1978, por Deng Xiaoping, na 13ª sessão do 11° Comité Central do Partido Comunista Chinês (PCC). Garantia-se, deste modo, a perduração do modo de organização capitalista neste território asiático, pelo que, segundo as autoridades da RPC, passariam a coexistir no território chinês o socialismo com características chinesas e o capitalismo.
Porém, uma vez feita a transferência de soberania, os britânicos deixariam naquela que foi uma colônia sua desde 1842, organizações e mecanismos que lhes permitiriam manter e estender o apoio e suporte ideológico-financeiro a uma guerra estratégica que, até hoje, se trava contra a RPC.
Com efeito, Hong Kong tem tido, desde 1997, períodos de contestação social, os quais são apresentados pelos grandes grupos da mídia hegemônica como uma luta dos hongkongueses pela democracia, contra a opressão chinesa. Tal apresentação dos factos constitui, no entanto, uma manipulação da realidade, uma vez que, por detrás das mobilizações em Hong Kong, se encontram estruturas organizadas por centros imperialistas externos, os quais têm como objetivo a desestabilização da China, a partir do seu próprio interior.
Nessas manifestações foram surgindo, com cada vez maior frequência, bandeiras britânicas e estadunidenses, os primeiros aparecendo como os promotores de uma democracia que, desde 1997, dizem ter sido abandonada.
A Guerra do Ópio: quando o capital vindo do Ocidente entra na China
No século 19, a Grã-Bretanha despoletou duas guerras do ópio contra a China. O conflito tinha um objetivo político muito preciso: enfraquecer militar e economicamente a China, forçando-a a abrir-se às potências estrangeiras e a tornar-se dependente do comércio do ópio.
A história do comércio e do consumo do ópio, na China, remonta à Dinastia Tang (618-907), quando mercadores árabes o introduzem no território. É, então, utilizado, sobretudo, para fins medicinais, apesar de as suas propriedades narcóticas serem já conhecidas. Mais tarde, no final do século 16, também os portugueses comercializam ópio, o qual entra no território chinês através de Macau. Contudo, é no início da dinastia Qing (1644-1911) que os habitantes das zonas costeiras (nomeadamente de Fujian e de Guangdong) vão aperfeiçoando a forma de o consumir, fazendo com que, gradualmente, o consumo de ópio se estenda a todo o território chinês. Foi, aliás, devido ao seu crescente consumo, que a Corte Imperial chinesa interdita, em 1729, o comércio do ópio, excepto para fins medicinais.
Estamos, já então, no século 18, num momento em que os Estados colonialistas europeus, onde o modo de organização capitalista se impunha, olham com uma ganância crescente para o vasto território chinês e para as suas evidentes possibilidades comerciais e geoestratégicas, assim como para as receitas que poderiam advir do tráfico do ópio.
O cultivo de papoila (cultivada na Pérsia e na Turquia) é introduzido em Bengala, no século 18, pela Companhia Britânica das Índias Orientais. É, assim, esta Companhia que obtém o monopólio comercial do ópio, por parte do Império britânico, nesta parte do mundo (sobretudo graças ao facto de ter financiado a conquista das Índias pela coroa britânica), tornando-se o comércio do ópio, a partir de 1813, numa fonte de receitas fundamental para o Império britânico. O início da revolução industrial, no final do século 18, vai, contudo, fazer com que industriais de Manchester, de Birmingham, de Midlands e de Yorkshire se organizem para exigir o livre comércio e, assim, conquistar novos mercados e rentabilizar investimentos. Isto faria com que, gradualmente, a Companhia Britânica das Índias Orientais se visse obrigada a abandonar o seu monopólio (o que, de facto, se concretizaria em 1833) e assistisse ao desenvolvimento dos Country Trade. Reunindo empresários privados anglo-saxões estabelecidos na Índia, os Country Trade permitiam a comunicação da rede comercial da Companhia das Índias com os canais de comércio na Índia e com os traficantes britânicos de ópio, estabelecidos em Cantão.
É, assim, a partir deste momento, que o ópio entra, de facto, de forma massiva, no território chinês, provocando graves problemas de saúde pública e causando um profundo desgaste à economia do país. A Corte Imperial Qing decide, então, banir, definitivamente, o ópio da China.
Em 1839, a China confisca mais de 20.000 caixas de ópio a traficantes, sediados em Cantão, e exige aos mercadores estrangeiros que assinem um documento no qual renunciem ao tráfico do ópio. Na sua maioria britânicos, os traficantes exigiram, então, que a China lhes pagasse o valor total das suas mercadorias, o que o Império asiático recusou fazer.
Perante a previsão de perdas de importantes fontes de receita que o ópio permitia arrecadar (e que eram incomparavelmente superiores àquelas que as autoridades portuguesas, instaladas em Macau, alcançavam), a Grã-Bretanha desencadeia uma resposta militar à proibição lançada pela Corte Imperial e despoleta a primeira Guerra do Ópio. O Império britânico exige obter um pedido de desculpas da China, uma compensação pelo ópio confiscado e garantias para a segurança dos comerciantes britânicos, as quais seriam materializadas pela posse de uma ilha. Um dos primeiros atos de guerra britânicos constou, aliás, da ocupação de Hong Kong, uma ilha pouco habitada do sudeste chinês.
Depois de três anos de uma guerra em que sai perdedora, a China depara-se com uma situação econômica bastante frágil. Para terminar com o conflito armado, a China vê-se obrigada a assinar, em 1842, o Tratado de Nanking, no qual consta a entrega da ilha de Hong Kong aos britânicos, assim como uma compensação de guerra de US$ 21 milhões, a abertura de cinco portos ao comércio (Cantão, Fuzhou, Xiamen, Ningbo e Shanghai) e a limitação das tarifas alfandegárias. Ainda que o tratado nada referisse em relação ao ópio, o seu comércio era, de fait, autorizado. A ilha de Hong Kong foi, desde logo, declarada como um porto livre, um estatuto que daria início ao crescimento econômico posterior. No topo da administração do novo território colonial encontrava-se o Governador, autoridade máxima escolhida por Londres.
As instituições religiosas cristãs logo se aproveitaram da nova colônia britânica e missionários cristãos (anglicanos, congregacionistas e metodistas) instalaram-se, confortavelmente, no novo território dominado por traficantes e pelo maior Império de então. Hong Kong tornar-se-ia, assim, na base asiática mais importante para instituições católicas e protestantes.
Depois do Tratado de Nanking, os britânicos continuaram a pressionar a China no sentido de esta legalizar o ópio e recusavam cessar a sua importação. É, assim, lançada uma segunda guerra, pelo Reino Unido e pela França, em 1856, finda a qual, em 1860, é assinado o Tratado de Pequim. Legaliza-se, a partir de então, o comércio do ópio e os chineses vêem-se obrigados a abrir novos portos ao comércio com o estrangeiro e a entregar um novo território aos britânicos: a ilha de Kowloon.
Em 1880, o tráfico do ópio representava 39% das importações chinesas, sendo que, em 1905, se estimava que 10% dos homens adultos chineses fossem opiómanos. Em Hong Kong, em 1918, 46.5% das receitas governamentais advinham do comércio de ópio, ao mesmo tempo que uma crescente população chinesa, no território, se tornava, também ela, dependente daquele narcótico. Vale a pena lembrar que seria apenas depois da Segunda Guerra Mundial, em 1945, que o Império britânico tornaria ilegal o ópio, em Hong Kong.
Em 1898, os Novos Territórios são cedidos, por aluguer, à Grã-Bretanha, por um período de 99 anos, juntando-se aos territórios coloniais de Hong Kong e de Kowloon.
As leis discriminatórios em Hong Kong e a insalubridade de uma cidade asiática
Desde 1911 que a China exige a revogação dos tratados desiguais que se viu forçada a assinar; contudo, não obteve sucesso¹. Entretanto, o Império britânico impunha a sua lei nos territórios chineses que, em 1842, 1860 e 1898 se haviam tornado numa colônia.
Ao longo do século 20, Hong Kong vai-se tornar num paraíso para os bancos, com um governo autocrático e colonialista. Esta situação tinha, no entanto, o reverso da medalha, com a população asiática a viver, na sua maioria, em condições de miséria e de precariedade extremas.
Com efeito, logo no início da colonização de Hong Kong, os britânicos promulgaram uma legislação que, na prática, criava uma lei para europeus e outra para chineses. Foram, assim, aprovadas leis para garantir que nenhum chinês moraria nas áreas mais desejáveis ​​de Hong Kong, as quais os britânicos pretendiam preservar como exclusivas. Num território onde a grande maioria da população falava, sobretudo, cantonês, o inglês constituía, no entanto, a língua oficial, ainda que incompreendida pela grande maioria da população. O chinês, aliás, só se tornaria língua oficial, conjuntamente com o inglês, num estádio avançado do colonialismo, em 1974.
Relatórios oficiais do final do século 19 apresentam-nos uma cidade sem condições sanitárias, sem saneamento básico, com infraestruturas precárias e onde as famílias se concentravam em espaços diminutos. Em 1860 e 1861, o cirurgião colonial descrevia o horror das condições sanitárias em que viviam os chineses, em Hong Kong, assim como as prisões sobrelotadas da colônia.
Hong Kong tornara-se num território de consumo e de comércio de ópio, de salas de jogo (o jogo é legalizado em 1867) e de traficantes, com uma vasta população a viver em condições insalubres.
Entretanto, outro tráfico prosperava neste território colonial: o tráfico de mulheres e de crianças.
Mulheres chinesas eram raptadas, sobretudo, de Cantão, e trazidas para Hong Kong, sendo obrigadas a prostituir-se nesta colônia, ou em outros territórios fora de Hong Kong. Para muitos outros habitantes chineses de Hong Kong, as extremas condições de miséria em que viviam obrigavam-nos a vender as próprias filhas. As mui tsai tornavam-se, assim, propriedade de chineses abastados e, sobretudo, de britânicos, num processo de venda de seres humanos que apenas tem paralelo com o tráfico de escravos.
O fim deste tráfico apenas seria legislado em 1923, ainda que todas as mui tsai que tivessem sido compradas, até essa data, continuassem propriedade daqueles que as compraram.
Mulheres e crianças tornavam-se, deste modo, nos novos escravos do Império britânico.
A escravatura escamoteada estendia-se, ainda, a outros âmbitos, ainda que essa designação não fosse arvorada. Dois anos após o término da guerra na África do Sul (Guerra Anglo-Boer, entre 1898 e 1902), é necessária uma numerosa mão-de-obra para as minas de diamantes e de ouro sul-africanas. Parte da mão-de-obra necessária foi enviada a partir do porto livre de Hong Kong, com navios transportando milhares de chineses. Estima-se que, entre 1904 e 1910, mais de 63 mil chineses tivessem sido enviados para as minas sul-africanas.
Neste contexto de tráfico de seres humanos, dependência de ópio, tráfico de ópio, numa cidade insalubre (que daria, aliás, origem a uma epidemia de peste bubônica, em 1894, e onde, posteriormente, os excrementos humanos se tornariam fonte de comércio), onde um apartheid legislativo separava os bairros dos brancos europeus da restante população asiática (em 1904, um ato legislativo proibia os chineses de possuir terra ou de residir no Peak) e onde chineses sofriam castigos físicos (como o açoitamento), permitidos pela lei, assistimos à conformação de instituições que permitem a consolidação do capital financeiro e que tornariam Hong Kong, no início do século 20, num dos centros financeiros mundiais.
Um centro financeiro que prosperaria, mas onde a pena de morte apenas seria abolida em 1993.
Hong Kong era, aliás, a única colônia britânica que tinha enforcamentos públicos. Antes da sua abolição, a pena de morte aplicava-se aos crimes de assassinato, traição e pirataria com violência.
O regime legislativo de apartheid que vigorou durante o século 19, e parte do século 20, daria uma posição privilegiada a europeus, sobretudo a expatriados britânicos residindo no território. As posições mais importantes no governo seriam, aliás, até 1997, ocupadas por britânicos. Lembremos, por exemplo, que, em 1994, dos dez juízes do mais importante Tribunal de Hong Kong – Court of Appeal –, apenas um deles não era britânico. Vários relatórios elaborados sobre a administração pública, em Hong Kong, corroboram, aliás, o facto de os expatriados serem promovidos para as mais importantes tarefas e cargos do governo: “Os europeus recebiam moradia gratuita do governo ou um subsídio de moradia, obtinham a reforma aos sessenta anos de idade, sendo que vinte por cento do seu salário anual incluía juros que eram pagos na reforma, recebiam viagens gratuitas (até seis pessoas) de volta à Europa, de dois em dois anos, e obtinham um pagamento parcial das mensalidades pagas para as crianças frequentarem escolas particulares, na Europa” (Klein, 1995).
E não é preciso recuar muito no tempo para assistir à repressão de todos aqueles que lutaram pelo reconhecimento do chinês, como língua oficial.
Em 1972, a polícia de Hong Kong forçou a entrada no local de um jornal estudantil e prendeu todos aqueles que se preparavam para organizar um protesto contra a secundarização a que estava votada a língua chinesa, no território.
Em 1964, em plena Guerra do Vietnã, a China protesta contra a presença de navios de guerra estadunidenses no porto de Hong Kong. Numa nota de 15 de maio de 1967, a China denuncia “o complot do governo britânico que colabora com o imperialismo americano contra a China” e que “continua a oferecer Hong Kong aos EUA como uma base para a sua agressão contra o Vietnã” (apud Fischer, 1968, p. 317).
Três anos depois, em maio de 1967, sucedem-se várias lutas operárias, enquadradas pelo Hong Kong Federation of Trade Unions (união de sindicatos próxima do PCC, que se posicionava contra o domínio colonial), fortemente reprimidas pelo governo colonial, que deixou um legado de 51 mortos. Sucedem-se, neste contexto, incidentes na fronteira, protestos e um ultimato de Beijing. Um relatório do PCC, desse ano, afirmava o seguinte: “O imperialismo britânico chegou à China através de navios piratas, provocou a criminosa guerra do ópio, massacrou numerosos chineses e ocupou o território chinês de Hong Kong. Mais tarde, apropriou-se do território chinês de Kowloon e dos Novos Territórios. Esta é uma enorme dívida de sangue que os britânicos têm para com os chineses” (apud Klein, 1995, p. 241).
Com efeito, o desenvolvimento industrial que se tinha verificado em Hong Kong, na segunda metade do século 20, baseou-se numa política de baixos salários e de extensas jornadas de trabalho.
Em 1959, 14 anos depois da Segunda Guerra Mundial, a legislação colonial aplicada a Hong Kong afirmava que o trabalho das mulheres e dos jovens, com menos de 18 anos, poderia estender-se até 10h por dia e 48h por semana. Paralelamente, não legislava nenhuma pausa semanal obrigatória, nem limitava a duração de trabalho dos homens com mais de 18 anos. O trabalho das crianças era proibido, apenas, para os menores de 14 anos. Ainda assim, em 1967, 17.000 crianças abandonaram a escola para integrar o mercado de trabalho. Segundo um deputado trabalhista britânico, “as condições de trabalho [em 1967] são de tal forma inimagináveis que elas se encontram em contradição com os princípios que levaram o governo trabalhista ao poder” (apud Fischer, 1968, p. 326). Ora, é neste contexto de exploração feroz que os trabalhadores, mormente operários, se revoltam, obrigando o governo colonial britânico a ir ao encontro de algumas das suas reivindicações.
Para além das reivindicações laborais, havia uma reivindicação da população de Hong Kong que nunca seria acolhida pelo poder colonial: a plena cidadania britânica.
Com efeito, os habitantes de Hong Kong eram considerados sujeitos da Coroa britânica, contudo não gozavam de todos os direitos, nem da completa cidadania de que gozavam os britânicos do Reino Unido.
Em 1948, num momento em que as colônias, no plano mundial, progressivamente, adquiriam a sua autonomia, o Reino Unido decide que os membros da Commonwealth, ainda que pudessem permitir uma cidadania própria a cada domínio, guardariam o estatuto comum imperial de “sujeitos britânicos”. O colonialismo escondia-se, deste modo, por detrás de um neocolonialismo difuso, mascarado sob o desígnio de “cidadão da Commonwealth” (CUKC – Citizen of the United Kingdom and Colonies). Esta passa, então, a ser a designação para os habitantes asiáticos, nascidos em Hong Kong.
Porém, se, até 1962, ainda que gozando de direitos distintos dos cidadãos de pleno direito britânico, os CUKC poderiam entrar e sair do Reino Unido, sem restrição, esta situação altera-se a partir de 1962, quando os CUKC (e, portanto, os CUKC de Hong Hong) passam a ser sujeitos a restrições de movimento e de estadia.
Em 1981, o Reino Unido cria novas categorias de cidadania. A partir de então, num revés linguístico que pretendia escamotear, na realidade, a perduração de uma situação colonial, os britânicos substituem a denominação de “territórios coloniais britânicos” por “territórios dependentes britânicos”. O estatuto de cidadania CUKC desaparece e é substituído por novas categorias. Para além da categoria de cidadão britânico (apenas para residentes do Reino Unido e de dependências da Coroa britânica), estabelecia-se o estatuto BDTC (Cidadão Britânico dos Territórios Tependentes) e o estatuto BOC (Cidadão Britânico Ultramarino). Esta última categoria constituía uma classe de nacionalidade não hereditária para todos aqueles que não poderiam aceder nem ao estatuto de cidadão britânico, nem ao estatuto de BDTC. A lei estabeleceu, ainda, que todos os CUKC de Hong Kong e todos aqueles que nascessem no território, depois de 1983, tornar-se-iam BDTC. Porém, uma vez passada a soberania para a China, os BDTC perderiam este estatuto e passariam a ser, apenas, cidadãos chineses.
Assim sendo, em 1985, o Reino Unido cria uma categoria de cidadania adicional – BN(O) (Nacional Britânico Ultramarino) – que se aplicava, apenas, a Hong Kong, à qual poderiam aceder os BDTC. Esta categoria estender-se-ia para além de 1997, contudo, continuava a não permitir aos seus detentores os direitos plenos de cidadania de que gozavam os cidadãos britânicos, não sendo, tampouco, hereditária.
Assim sendo, os BN(O) não possuíam/possuem o direito de viver ou de trabalhar no Reino Unido e não são considerados cidadãos britânicos pela União Europeia. Atualmente, estima-se que 170.000 hongkonguenses possuam BN(O) válidos.
Não deixa, assim, de ser anacrônico, que, nas manifestações que se verificaram ao longo de 2019, se vissem frequentemente bandeiras britânicas hasteadas pelos manifestantes.
Perante as históricas desigualdades que os habitantes de Hong Kong, de origem chinesa, sofreram no território, a atitude daqueles deveria ser de repulsa e de vergonha perante a bandeira de um país que sempre os considerou como cidadãos de segunda.
Vale a pena recordar que, no século 20, houve um longo período em que, em Hong Kong, anúncios à entrada de estabelecimentos diziam: “Proibida a entrada a chineses ou a cães” (“No Chinese or dogs inside”).
A interferência e o financiamento exterior dos protestos
Hong Kong é, pois, um território que herdou o legado do remanescente imperialismo europeu. Paralelamente, este território encontrava-se numa posição privilegiada para dar apoio ao governo de Tawain, pelo que eram numerosas as organizações (sindicais, cívicas, cristãs) que, ao longo do século 20, operavam em Hong Kong, não apenas sob o controlo britânico, mas igualmente estadunidense.
Os esforços da Grã-Bretanha (coadjuvada pelos EUA) de manter influência em Hong Kong fazem-se sentir, com uma particular intensidade, pouco tempo antes da transferência da soberania.
Com efeito, após 150 anos de nomeações de altos funcionários, por Londres, para o território de Hong Kong, a Grã-Bretanha estabeleceu, pouco tempo antes da passagem de soberania, e de forma apressada, em 1991, eleições para o Legislative Council of Hong Kong (a Assembleia Legislativa do território) – ainda que a maioria continuasse a advir de nomeações. Seria a primeira vez na história colonial de Hong Kong que membros daquela Assembleia seriam eleitos de forma direta. Paralelamente, o Reino Unido estabeleceu e financiou partidos políticos, compostos por leais futuros colaboradores.
Assim sendo, milhões de dólares foram canalizados para uma rede de organizações, de partidos políticos, de órgãos de comunicação social, de organizações estudantis e juvenis e de sindicatos. Das organizações sindicais, saliente-se a criação, em 1990, do Hong Kong Christian Industrial Committee (HKCIC), uma organização parcialmente financiada e apoiada pela Igreja que, hoje, se reivindica do autodenominado campo “pró-democrata”. Aliás, o seu secretário-geral, Lee Cheuk Yan é um dos fundadores, em 2011, do Partido Trabalhista de Hong Kong.
Em 14 de maio de 2014, a Fundação Nacional dos EUA para a Democracia (National Endowment for Democracy– NED) organizou um painel de discussão realizado, em Washington DC, que contou com a presença de quatro membros que se reclamavam do campo “pró-democrata”: Martin Lee, Nathan Law (fundador do partido Demosisto, juntamente com Johua Wong), Lee Cheuk Yan e Mak Yin-Ting.
Um mês depois começavam os protestos em Hong Kong. Estas reuniões pré-protestos não parecem ser ocasionais.
Já em abril de 2014, cinco meses antes do início dos protestos “Occupy Central”, também um painel de discussão fora realizado, por iniciativa do NED, em Washington DC, com membros “pró-democratas”, os quais se reuniram, igualmente, com autoridades estadunidenses.
Ora, por que razão o NED é tão influente?
O NED apresenta-se como uma “fundação privada, sem fins lucrativos, dedicada ao crescimento e fortalecimento de instituições democráticas em todo o mundo (…), incluindo partidos políticos, sindicatos, mercados livres e organizações empresariais”. Financiada, maioritariamente, pelo Congresso dos EUA, o NED desempenhou um papel importante em inúmeras operações de mudança de regime, da Líbia ao Iraque, passando pela Ucrânia e pelo Afeganistão, financiando grupos venezuelanos, kosovares ou chineses. Desde a sua fundação, em 1983, pelo Presidente Ronald Reagen, que o NED financia, na realidade, partidos da oposição, separatistas e extremistas nas áreas mais turbulentas do mundo, com o objetivo de estabelecer governos pró-EUA.
Vale a pena acrescentar que a Hong Kong Confederation of Trade Unions recebe subsídios do NED. Em Outubro de 2014, documentos da Wikileaks revelam, aliás, que o Departamento de Estado dos EUA, através do NED, financiara o movimento “Occupy Central”.
O fato de que vários líderes dos protestos de Hong Kong, em 2019, tenham viajado para Washington DC, nem sempre simultaneamente, para participar em eventos que apoiam os protestos, ilustra os interesses externos, e os certos financiamentos, pela agitação de que Hong Kong foi alvo em 2019.
NED, Fundação Ford, Fundação Rockefeller, organizações financiadas por Soros, assim como inúmeras outras fundações corporativas e igrejas cristãs estão por detrás de uma rede que financia e organiza os protestos de Hong Kong.
Neste contexto, não é de estranhar que, na linha da frente das manifestações que se realizaram quer em 2014, quer em 2019, se encontrassem organizações cristãs. Algumas das principais faces dos jovens líderes dos movimentos de 2014 e de 2019 vêm, aliás, de escolas cristãs, mormente protestantes. Os meios de comunicação social hegemônicos não escondiam este facto, antes apresentando-o como uma vontade daquelas organizações de buscar uma (nunca definida) democracia.
Joshua Wong, a face mais conhecida dos jovens manifestantes de Hong Kong, de 2019, membro ativo do Umbrella Mouvement, em 2014, secretário-geral da organização política Demosisto e fundador do grupo de estudantes Scholarism, estudou na United Christian College, uma escola privada protestante que diz pretender “ajudar os alunos a identificar e a desenvolver as suas habilidades e talentos, dados por Deus”. Quando tinha, apenas, 18 anos a revista Time, em 2014, considerou-o o adolescente mais influente e nomeou-o para Person of the Year. Um ano depois, a revista Fortune considerou-o “um dos maiores líderes do mundo” e, em 2018, foi nomeado, juntamente com outros membros do Umbrella Mouvement, para o Prémio Nobel da Paz.
A revista Fortune é uma revista de negócios estadunidense, que, juntamente com as revistas Time, Life e Sports Illustrated, pertencia ao grupo Time Warner, o qual foi, até 2000 (momento em que o grupo foi adquirido pela AOL), o maior conglomerado de mídia do mundo. Quanto à promiscuidade das revistas Fortune e Time com a administração estadunidense, relembre-se, por exemplo, que o editor-chefe, entre 2006 e 2013, da revista Time, foi Richard Stengel, que, em 2014, foi nomeado, pelo Presidente Obama, como Sub-Secretário do Departamento de Estado do Governo, para a Diplomacia e Assuntos Públicos.
Também Wong foi convidado a Washington DC, pela subsidiária do National Endowment for Democracy (NED), a Freedom House, para receber um prêmio pelo seu papel na liderança dos protestos.
Em setembro de 2019, Nancy Pelosi dava uma conferência de imprensa, lado a lado com membros do Demosisto, como Joshua Wong e Nathan Law, dizendo que o capitólio se orgulhava de acolher os “campões da democracia e da liberdade expressão”, antecipando a aprovação, pelo Congresso estadunidense, do Hong Kong Human Rights and Democracy Act.
Não é, assim, estranho que um jovem de uma escola anglicana seja mundialmente projetado pelos mídia de maior influência no mundo.
Os protestos em Hong Kong: terrorismo financiado e democracia coxa
Aproximando-nos do final deste artigo, queremos salientar que assistimos a vários protestos que ocorreram em Hong Kong, em 2019.
E que ficamos estupefatos. Com efeito, pudemos observar a montagem de longas mesas, na rua, durante os protestos, a qual era concomitante com a chegada de dezenas e dezenas de caixas, empilhadas por detrás daquelas. Destas caixas era retirado o material que seria posto em cima das mesas, para que, quem quer que fosse, se servisse à vontade: disponibilizava-se um conjunto de artefactos necessários para fazer coktails molotov ou pequenas bombas caseiras. Estavam, assim, disponíveis, nas ruas, em plenos protestos, kits para fabricação de pequenos explosivos, máscaras de proteção, álcool, proteção plástica para os olhos, gotas de soro, luvas.
Perguntamo-nos, então: Quem pagava este material? Quem o transportava? Quem o distribuía?
Das vagas reivindicações que os jovens hongkonguenses levavam para as ruas, nenhuma, no entanto, tinha em consideração as reivindicações dos sectores mais empobrecidos da população, sobretudo das populações emigrantes superexploradas no território.
Em Hong Kong, trabalham, aproximadamente, 100 mil Indonésios (80% a 90% dos quais são mulheres) e 130 mil filipinos (mais de 90% são mulheres).
Ora, num território onde as mulheres filipinas e indonésias são mão-de-obra barata para trabalhar em casa de famílias dos estratos médios e altos da sociedade hongkonguense – em situações que, em muitos casos, roçam a escravatura, e em que são frequentes maus tratos e situações de subnutrição – os meninos e as meninas de Hong Kong chegavam, certamente, a suas casas, depois de um protesto no qual arvoravam bandeiras de um outro tempo, comendo o seu jantar feito pela empregada filipina ou indonésia, tiravam as suas roupas caras, transpiradas, lavadas no dia anterior pela sua empregada filipina ou indonésia, dormiam tranquilos nas suas casas, nos seus quartos lavados pela sua empregada filipina ou indonésia, enquanto a sua empregada filipina ou indonésia terminava o seu dia de trabalho que, certamente, se iniciara há mais de 12 horas, ansiando dormir no cubículo que lhe é destinado, na casa do patrão – que é o pai, a mãe ou o pai e a mãe do menino e da menina -, empregada filipina ou indonésia para quem oito horas de sono são, certamente, um sonho.
E, no dia seguinte, preparando o pequeno-almoço para o jovem que usa a roupa que ela lavou, secou e passou, vê o jovem colocar a sua máscara preta e a sua mochila de marca às costas, dirigir-se para as ruas, ficando ela a cuidar da casa, num dos seis dias por semana que trabalha, com um salário de HK $4.630 mensais (aprox. 552 euros), numa cidade que, em 2020, foi considerada, não apenas uma das cidades mais caras do mundo (The Economist Intelligence Unit (EIU)), como também a cidade mais cara do mundo para quem trabalha no exterior (HR consultancy Mercer).
Parece, pois, que os pró-democratas de Hong Kong não são, apenas, desmemoriados, esquecendo o que foi a cruel e imperial colonização britânica, mas também fazem jus à democracia da Antiga Grécia: democracia, sim, para alguns.

Hong Kong

Tecnologia – Trem Chinês Chega a 600 km/h



A China revelou um novo trem de levitação magnética capaz de atingir velocidade máxima de 600 km/h, de acordo com informações da mídia estatal do país.
O veículo é do tipo “maglev” que utiliza a força de imãs para ficar suspenso, evitando contato entre a carroceria e os trilhos.
De acordo com a agência Reuters, a velocidade máxima do trem bala tornaria este o veículo de solo mais rápido do mundo.
Por enquanto, o trem “maglev” chinês está em fase de testes na cidade de Qingdao.
2,5 horas de Xangai a Pequim
Uma viagem entre Xangai e Pequim com este trem levaria apenas 2,5 horas para rodar os 1.000 quilômetros de distância.
A China tem usado a tecnologia por quase duas décadas em uma escala muito limitada. Xangai tem uma pequena linha “maglev” que vai de um de seus aeroportos à cidade.
Países como Japão e Alemanha também estão procurando construir redes “maglev”, embora os altos custos e a incompatibilidade com a infraestrutura de vias atual continuem sendo obstáculos para o rápido desenvolvimento.

Dica de Livro – A China Antes e Depois de Mao Tse Tung


China C Rossi
Trechos do ☻Mega Foram Usados Para Escrever o Livro
Este livro junta artigos de Ernest Mandel, S. Wu, Carlos Rossi, Pierre Rousset, Roland Lew acerca da evolução da Revolução Chinesa.
O crescimento demográfico aliado aos fenômenos de urbanização, industrialização e disseminação dos padrões de consumo das nações mais desenvolvidas em direção às nações menos desenvolvidas tem exacerbado o conflito redistributivo em nível mundial. A globalização da economia e a monopolização dos mecanismos de mercado como forma de alocação de recursos e decisão sobre o que produzir e consumir expõe as enormes contradições abrigadas dentro do sistema via os impactos ambientais e o preço das “commodities” agrícolas e minerais, aí incluso o petróleo.
Quando Mao Tsé-tung morreu, em 1976, a China era um país rural de 1 bilhão de habitantes, pobre, quase paupérrimo, com 85% de sua população vivendo no campo numa economia de subsistência, com uma parca dieta vegetal, sem meios de transporte além de pernas, bicicletas e de seus animais.
A maior fonte de energia disponível era primária, tirada deles próprios ou da natureza sem nenhuma sofisticação industrial. A infraestrutura de energia e transporte era quase inexistente para o tamanho de sua população, e os padrões de consumo, tão frugais que seria impossível a um ocidental imaginar como eles podiam viver daquela maneira. O sonho de consumo de um chinês era um rádio e uma bicicleta, e a moda, ano após ano, eram os indefectíveis terninhos tipo Mao, com o mesmo design e cores, distribuídas duas ou três peças por habitante. Tudo era racionado, da comida ao sabonete. Os níveis de consumo da China, principalmente de alimentos, beiravam o limite da sobrevivência, daí a grande criatividade dos chineses nos ingredientes de sua culinária, principalmente no que tange a proteína animal.
O impacto da China no mercado mundial de commodities agrícolas, minerais e energia era zero, assim como seu impacto no mercado de bens industrializados. Embora já dispusesse de um razoável poderio militar e inclusive detentora de bombas nucleares, do ponto de vista do impacto econômico no mundo e pressão sobre recursos naturais e emissão de poluentes, tudo se passava como se a China e suas centenas de milhões de habitantes não existissem! Era um enorme ponto no mapa mundial despertando mais curiosidade do que qualquer preocupação. A China de Mao, em 1976, não era muito diferente da China vista por Marco Polo ao final do século 13 ou por Lorde MacCartney ao final do século 18. A China era um imenso país igualitário, vivendo na pobreza absoluta.
Em 2012, apenas 36 anos depois, a China de Hu Jintao, em termos mundiais, era a segunda maior economia, a primeira nação industrial e maior exportador de bens industriais. O país é hoje o maior produtor e consumidor mundial de aço, alumínio, cimento, automóveis, eletrodomésticos, computadores, roupas, sapatos, para nomear alguns itens. Maior consumidor mundial de alimentos, energia e commodities minerais. Nesse curto espaço de tempo, a China deixou de ser uma bucólica nação agrícola e rural para se tornar uma nação industrializada, quase urbana com mais de 50% de sua população vivendo nas cidades.
Nossa civilização ocidental desenvolveu um modelo econômico baseado na abundância relativa, isto é, os recursos do mundo são para todos e devem ser comercializados livremente pelas forças de mercado, mas os padrões de vida e consumo, não. Assim caberá a algumas nações e povos trabalharem mais e fornecerem os recursos. E a outras consumirem. Umas viverão na abundância e outras na penúria! Parafraseando Clausewitz, que dizia que “a guerra é continuação da política sob outros meios”, atrevo a dizer que “a globalização dentro da visão ocidental é a continuação do colonialismo e da escravidão sob outras formas”.

Depois de séculos de exploração colonial, a pregação pela abertura comercial e dos benefícios da economia de mercado, propagados à exaustão pelas nações abastadas do centro como modelo a ser seguido pelas nações pobres da periferia, parece não estar resistindo a seu grande teste que é o crescimento chinês. Imaginem se os demais 4,7 bilhões da população mundial seguirem o mesmo caminho da China! O crescimento acelerado da China era tudo que as nações ocidentais não sabiam que não queriam!

mao tse tung

Economia – Pela 1ª vez, China compra um quarto de todas as exportações brasileiras


china parceira
A China nunca teve tanta importância para o comércio exterior brasileiro. Nos primeiros seis meses deste ano, 25% de tudo o que o Brasil exportou teve como destino o país asiático.
Esse percentual é recorde e é mais uma marca da ascensão da segunda maior economia mundial no Brasil. No primeiro semestre de 2007, a fatia chinesa nas exportações brasileiras era de 6,7% —os EUA eram líderes, com 16,4%.
Alimentada pela demanda por soja, minério de ferro e petróleo, a compra chinesa de itens do Brasil somou US$ 26,9 bilhões de janeiro a junho, um aumento de 36% em relação ao mesmo período do ano passado.
Na média, as vendas brasileiras para o resto do mundo cresceram 19%.
Sozinhos, os asiáticos compraram mais do Brasil do que os três demais principais compradores do Brasil: EUA, Argentina e Holanda, pela ordem.
Fazia mais de dez anos que nenhum país era tão dominante na compra de produtos brasileiros. No início do século, os EUA chegaram a responder por mais de um quarto das exportações.
Mas, enquanto os americanos eram grandes clientes de produtos manufaturados (que tem preços mais estáveis), o que os chineses querem mesmo é matéria-prima e alimentos, cujas cotações costuma flutuar mais.
Ter um cliente tão poderoso tem seus benefícios, já que há um mercado quase cativo para os produtos, porém, os riscos são mais expressivos.
Uma desaceleração forçada da China teria forte impacto para as exportações, um dos raros pontos de destaque da economia brasileira neste começo de ano.
Seria muito difícil encontrar um mercado que conseguisse dar conta de tamanha demanda: 45% da soja comprada pelos chineses vem do Brasil, além de 21% do minério de ferro —considerando dados de janeiro a maio.
Além disso, uma crise em um “player” tão importante geraria, sem dúvida, uma queda abrupta nos preços.
Ou seja, o produtor brasileiro não só venderia menos como por um preço menor.
Uma freada mais forte da economia chinesa foi apontada recentemente pelo FMI como um dos principais riscos externos para o Brasil, só atrás de um aperto nas condições financeiras globais.

Teletransporte: Engatinhando, mas é assim que começa – Cientistas teletransportam partícula da Terra para o espaço


teletransporte-williammpark-shuttersock.com_
Equipe chinesa que lançou o satélite Micius anunciou que conseguiu usar a rede quântica do dispositivo para teletransportar uma partícula da superfície terrestre para a atmosfera pela primeira vez.
A técnica utilizada consiste em um estranho fenômeno conhecido como “entrelaçamento”, que pode acontecer quando partículas quânticas, como os fótons, se formam ao mesmo tempo e no mesmo ponto do espaço, dividindo a existência. Em termos técnicos, eles são descritos com a mesma função de onda — o interessante é que a experiência continua mesmo quando os objetos estão distantes no Universo. Logo, quando um é afetado o outro também é.
Apesar de a informação já ser conhecida há anos, uma experiência como a chinesa nunca havia sido realizada. Isso porque a técnica é muito frágil, pois as partículas interagem com a matéria na atmosfera ou dentro de fibras óticas, o que faz com que a relação entre elas seja perdida. No caso do experimento, os fótons continuaram se relacionando, mesmo estando a 500 km de distância.
“Experimentos anteriores de teletransporte entre locais distantes foram limitados a cem quilômetros, devido à perda de fótons em fibras ópticas ou canais terrestres livres”, afirmou a equipe em entrevista ao MIT Technology Review. Por isso o feito dos chineses foi tão surpreendente.
O time de cientistas mandou milhões de fótons para o espaço durante 32 dias, mas só obtiveram 911 respostas positivas. “Relatamos o primeiro teletransporte quântico de qubits independentes de um único fóton a partir de um observatório terrestre até um satélite na órbita terrestre — através de um canal de ligação ascendente — com uma distância de até 1,4 mil km”, afirmaram.
O feito coloca os chineses em posição de liderança da área, que era até então dominada pela Europa e pelos Estados Unidos. “Esse trabalho estabelece a primeira ligação ascendente terra-satélite para o teletransporte quântico ultra-longo, um passo essencial para a internet quântica de escala global”.

Sustentabilidade – Em um ano, China mais que dobrou a capacidade em energia solar


paineis-china
Quem iria imaginar que o maior emissor de carbono do mundo iria se tornar líder em produção de energia renovável? A China, que também tem o pior índice de poluição do ar, segundo dados de 2016 da Organização Mundial da Saúde, agora está no topo da lista dos países que mais produzem energia solar.
De acordo com o relatório da Administração Nacional de Energia (NEA) divulgado no último final de semana, a capacidade fotovoltaica chinesa mais do que dobrou: subiu para 77,42 gigawatts no final de 2016, com um acréscimo de 34,54 gigawatts ao longo do ano. Considerando que 1 gigawatt seria o suficiente para abastecer uma cidade com 1,5 milhão de habitantes, é uma façanha e tanto.
Entre as províncias que tiveram o maior aumento na capacidade estão Shandong, Xinjiang e Henan. Já as regiões de Gansu, Qinghai e o interior da Mongólia alcançaram potência máxima no fim do ano.
Com os EUA perto de recuar em acordos climáticos, a China parece estar pronta para assumir a liderança mundial em energia limpa. Até 2020, segundo o plano de desenvolvimento traçado por sua Agência Nacional de Energia, a China pretende instalar mais de 110 gigawatts em sua capacidade de energia solar, investindo mais de US$ 360 bilhões no projeto.

Momento crítico
O investimento em energias renováveis acontece em um momento em que a China enfrenta problemas sérios de poluição atmosférica. Em dezembro de 2016, dez cidades decretaram alerta vermelho, apresentando níveis de partículas tóxicas até 30 vezes maiores do que o limite permitido, segundo a Organização Mundial de Saúde.
A névoa poluente, chamada de “smog”, reduziu a visibilidade a quase zero e cancelou centenas de voos em Pequim. Cerca de cem milhões de chineses foram orientados a ficar em casa. De acordo com a OMS, tais partículas poluentes podem causar ataques cardíacos prematuros, câncer de pulmão, acidente vascular cerebral e problemas respiratórios.

Poluição – 80% da água subterrânea da China está contaminada


ar-china2
“Arpocalipse” na China

Resultado da super ocupação humana, água e ar contaminados na China.
Em meio à poluição atmosférica que assola a China, o país enfrenta outra crise ambiental silenciosa e, muitas vezes, invisível: a contaminação das águas subterrâneas.
Produtos químicos, tais como o manganês, flúor e triazóis (usados em herbicidas) foram detectados na maioria dos 2.103 poços subterrâneos testados em um novo estudo divulgado pelo governo daquele país, relata o The New York Times.
Os resultados são alarmantes: a qualidade da água foi classificada como de Grau 4 em 32,9% dos pontos avaliados, o que significa que é somente segura para ser utilizada em processos industriais; em outros 47,3% deles, a classificação foi de Grau 5, o que significa que ela é ainda menos segura para uso.
As origens dessa poluição são velhas conhecidas, com raízes em práticas que afetam tanto o campo como as cidades. Desde 1990, a China tornou-se o maior consumidor de fertilizantes nitrogenados do mundo, que, apesar de ajudarem no crescimento rápido do cultivo, aumentando a oferta de alimentos, também deterioram o solo e poluem lençóis freáticos.
As indústrias com seus resíduos da produção,especialmente as têxteis (que geram metais pesados, tóxicos e substâncias cancerígenas) são outra fonte significativa de poluição no país.
Atento ao problema, em 2011, o Ministério da Proteção Ambiental lançou um programa que deveria mitigar a poluição da água subterrânea até 2020. O plano era fortalecer a gestão da água, melhorar os regulamentos e implementá-los por meio da aplicação da lei e da educação pública. Ao que parece, o intento não foi bem sucedido.
“As pessoas nas cidades veem a poluição do ar todos os dias, o que cria uma enorme pressão pública. Mas nas cidades, as pessoas não veem quão ruim a poluição da água é. Do meu ponto de vista, isso mostra como a água é o maior problema ambiental na China”, afirmou Dabo Guan, professor da Universidade de East Anglia, ao The New York Tiimes.
Segundo o diretor do Instituto de Assuntos Públicos e Ambientais de Pequim, Ma Jun, a água testada foi encontrada principalmente em poços subterrâneos rasos, que não são utilizados no abastecimento de água potável nas cidades (em vez disso, elas normalmente recebem água de reservatórios profundos).
No entanto, ele observou que, em muitos lugares, os moradores ainda estavam bombeando água dos poços que foram testados, expondo-se a graves problemas saúde. Além disso, como a água segue um ciclo, a piora de sua qualidade eventualmente acabará por comprometer a oferta nas cidades.

Mega Estatísticas – Números Chineses


bandeirachina
DADOS PRINCIPAIS

ÁREA: 9.536.499 km²

CAPITAL: Pequim

POPULAÇÃO: 1,4 bilhão de habitantes (estimativa dezembro de 2014)

MOEDA: Iuan

NOME OFICIAL: REPÚBLICA POPULAR DA CHINA (Zhonghua Renmin Gongheguo).

NACIONALIDADE: chinesa

DATA NACIONAL: 1 e 2 de outubro (Dia da Pátria, Proclamação da República Popular da China).

DIVISÃO ADMINISTRATIVA: 22 províncias, 5 regiões especiais (Hong Kong e Macau), 5 regiões autônomas e 4 municipalidades.

GOVERNO: Estado Unipartidário

PRESIDENTE: Xi Jinping
GEOGRAFIA DA CHINA:
MAPA DA CHINA

LOCALIZAÇÃO: leste da Ásia

FUSO HORÁRIO: + 11 horas em relação à Brasília

CLIMA DA CHINA: de montanha (O e SO), árido frio (N, NO e centro), de monção (litoral S)

CIDADES DA CHINA (PRINCIPAIS): Xangai, Pequim (Beijing), Tianjin; Shenyang, Wuhan, Guangzou (Cantão), Nanquim

REGIÃO ESPECIAL ADMINISTRATIVA: Hong Kong

COMPOSIÇÃO DA POPULAÇÃO: chineses han 91,6%; grupos étnicos minoritários 5,1% (chuans, manchus, uigures, huis, yis, duias, tibetanos, mongóis, miaos, puyis, dongues, iaos, coreanos, bais, hanis, cazaques, dais, lis), outros 3,3% (dados de 2012).

IDIOMAS: mandarim (principal), dialetos regionais (principais: min, vu, cantonês).

RELIGIÕES: sem religião (40,1%), crenças populares chinesas (28,9%), budismo (8,6%), ateísmo (7,5%), cristianismo (9%), crenças tradicionais (4,3%), islamismo (1,6%) – dados do ano de 2013.

DENSIDADE DEMOGRÁFICA: 145,6 hab./km2 (estimativa dezembro de 2014)

CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO: 0,6% por ano (entre 2010 e 2015)

TAXA DE ANALFABETISMO: 4,9% (dados de 2014).
RENDA PER CAPITA: US$ 7.428 (ano de 2014).

IDH: 0,727 (Pnud 2014) – índice de desenvolvimento humano alto

11.205 – Último tigre da China Vira Churrasco


ambiente_2

A imprensa chinesa noticiou no fim de dezembro de 2013, que um cidadão foi condenado a doze anos de prisão por crime ambiental. Seu delito foi matar a tiros – e comer, em animada companhia de amigos – o que se acredita ser o último exemplar que restava na China do tigre da Indochina. A última vez que se viu essa subespécie de tigre em território chinês foi em 2007. Testemunhas afirmam que o animal morto era o mesmo avistado naquela ocasião. Duas outras subespécies de tigre subsistem na China (uma delas, o tigre do sul da China, com menos de vinte exemplares). O tigre da Indochina está agora restrito a cinco países do Sudeste Asiático. O condenado alega que atirou no animal em legítima defesa, mas admitiu ter feito churrasco do felino. Na medicina chinesa tradicional, persistem crendices como a que atribui poderes terapêuticos a órgãos de certos animais. Os testículos do tigre são recomendados como uma iguaria afrodisíaca.

11.048 – ☻Megacurtíssima – Brócolis realmente eliminam toxinas


Essa é a conclusão de um estudo* feito na China. Os voluntários que tomaram suco de brócolis conseguiram expelir 61% mais benzeno e 23% mais acroleína (substâncias cancerígenas contidas no cigarro) na urina.
*Fonte: Rapid and Sustainable Detoxication of Airborne Pollutants by Broccoli Sprout Beverage: Results of a Randomized Control Trial in China. Patricia Egner e outros, Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health.

10.733 – Lugares Exóticos – Zhangye Danxia


Parque geológico
Parque geológico

É um parque geológico que está localizado no sudoeste da China e contém algumas características muito particulares. Provavelmente, o mais surpreendente são as montanhas multicoloridas conhecidas como acidentes geográficos Danxia. A coloração surreal vem de arenito vermelho e depósitos minerais naturais que se formaram ao longo de 24 milhões de anos. Cada “faixa” é constituída de um mineral diferente e, ao longo dos tempos, elas formam diversas camadas, resultando em um paisagem que se parece com um arco-íris.
A China é o único lugar no mundo com este tipo de formação mineral, e inclusive algumas das formas terrestres tornaram-se Patrimônio Mundial da UNESCO.

10.731 – Programa Espacial Chinês – China lança primeira missão de ida e volta à Lua


foguete chines

A China lançou a primeira sonda espacial de ida e volta à Lua, mais uma etapa de um ambicioso programa espacial que pretende enviar astronautas ao satélite da Terra. “A primeira fase da viagem foi um sucesso”, anunciou a Administração Estatal de Ciências, Tecnologia e Indústria para a Defesa Nacional (SASTIND) em um comunicado.
O lançamento da missão Chang’e-5-T1 ocorreu na base espacial de Xichang, ao sudoeste da província de Sichuan. A sonda deve chegar à Lua, dar a volta no satélite e retornar à Terra em nove dias. No total, a sonda deve percorrer 413.000 quilômetros da Terra até o ponto mais distante em oito dias de missão. O pouso está previsto para a região chinesa da Mongólia interior, segundo a agência estatal Xinhua.
Esta é a primeira vez que os cientistas chineses têm como meta o retorno de um módulo orbital, que precisará resistir na reentrada da Terra, em particular às elevadas temperaturas provocadas pela fricção do contato com a órbita terrestre. A nave atingirá no retorno à Terra uma velocidade de 11,2 quilômetros por segundo, antes de reduzir a aceleração. A missão pretende testar a tecnologia que será utilizada na missão prevista para 2017, que deseja coletar mostras da superfície lunar.
Meio século depois do programa Apollo dos Estados Unidos, a China tem a Lua como objetivo.O desejo de Pequim é ser o primeiro país asiático a enviar um ser humano ao satélite natural, provavelmente depois de 2025. Em dezembro de 2013, o país conseguiu levar a sonda Chang’e-3 a pousar na Lua e deixar na superfície lunar um veículo teleguiado batizado de “Coelho de jade”, uma missão que foi considerada um êxito total.

Coelho de Jade
Coelho de Jade

10.686 – Poluição Ambiental – Cidade chinesa entra em alerta laranja, contra ar irrespirável


poluicao-china-clima

Pela primeira vez neste ano a qualidade do ar atingiu “níveis perigosos” por 50 horas seguidas. É o período mais longo em que este fenômeno acontece. A visibilidade é de 500 metros.
Imagens de satélite mostram que uma espessa nuvem de poluição veio de áreas do sul da capital chinesa, incluindo a parte sul da província de Hebei, onde se concentram siderúrgicas e outras indústrias pesadas. E as condições do tempo estão exacerbando o problema.
A Organização Mundial de Saúde estabeleceu um limite de PM2.5 (a chamada matéria fina particulada, que penetra mais fundo nos pulmões) de 25 microgramas por metro cúbico em um período de 24 horas. Depois de 50 horas seguidas, verificadas ontem, a conta passou de 250 microgramas.
Com o alerta de poluição passando do amarelo para o laranja, as fábricas mais sujas foram obrigadas a cortar 30% de suas emissões. A nuvem cobriu outras cidades próximas – principalmente nas províncias de Hebei e Xangai, incluindo Xingtai , Shijiazhuang , Dingzhou e Yangquan, e dezoito estradas da região tiveram de ser fechadas, de acordo com a Administração Metereológica da China.
Beijing se encontra sob enorme pressão para enfrentar o problema. Além do aumento dos protestos públicos, a cidade irá hospedar em duas semanas a conferência de cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico.
Grupos ambientais criticaram as autoridades chinesas por não usarem um alerta vermelho, o mais alto, para proteger as crianças vulneráveis à poluição. Ela deverá continuar até amanhã, quando será dispersada por uma frente fria, informa o South China Morning Post.

10.675 – Mega de ☻lho no Mundo – Poluição na China


"Arpocalipse" na China
“Arpocalipse” na China

Como se já não bastasse trabalhar quase de graça, comer insetos e carne de cachorro, que tal respirar um arzinho lá da China?
Difícil de enxergar. Difícil de respirar. Nos últimos dias, os níveis de poluição em várias cidades chinesas, incluindo a capital Pequim, superaram em 20 vezes o limite considerado seguro pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
As cenas do “arpocalipse” se repetem há pelo menos três dias. Na megalópole, pessoas caminham com máscaras de proteção em meio aos prédios, ruas, praças e monumentos engolidos pela espessa mistura de fumaça e poeira, que tampa o sol e faz o dia parecer noite.
O principal vilão do ar são as chamadas PM2,5, partículas finas e inaláveis de poeira com diâmetro inferior a 2,5μm resultantes da combustão incompleta de combustíveis fósseis utilizados pelos veículos automotores e das usinas a carvão (a China é o país mais faminto por carvão para suprir suas necessidades energéticas, seguida pelos EUA).
Devido ao pequeno diâmetro, essas partículas ficam em suspensão no ar e penetram profundamente no aparelho respiratório, instalando-se nos alvéolos pulmonares e bronquíolos, podendo causar sérios danos à saúde.
No dia 10/10/2014, véspera do jogo Brasil X Argentina pelo troféu Clássico das Américas, em algumas regiões, a concentração de PM 2,5 no ar chegou a 445 microgramas por metro cúbicos. Segundo da OMS, é nociva a exposição ao longo de 24 horas a concentrações superiores a 25.
Um estudo publicado em 2013 indicou que a poluição reduzirá em 5,5 anos a expectativa de vida de quem mora no Norte do pais, em comparação aos vizinhos do Sul. Combinados, os 500 milhões de habitantes da região deverão perder mais de de 2,5 bilhões de anos de vida pela exposição à poluição.

10.611 – ☻Mega Byte – Ali Babá e os 250 bilhões de dólares


alibaba

Ali Babá, no conto árabe, é um lenhador pobre que fica rico ao encontrar um tesouro. No portal chinês Alibaba, esse tesouro às vezes tem caras estranhas. Nele e em suas subdivisões é possível encontrar pepino do mar congelado (US$ 12 o quilo), peras em formato de buda (US$ 10 por três), cabelos de “jovens virgens” (US$ 16 a mecha) – ou uma centrífuga para produzir urânio enriquecido (US$ 9 mil). E mais uma montanha de produtos falsificados: são cerca de 800 milhões de artigos piratas, oferecidos por 8 milhões de vendedores chineses. No ano passado, o Alibaba movimentou US$ 250 bilhões.
Na festa de dez anos do Alibaba, em 2009, 15 mil funcionários se reuniram num estádio para comemorar e ver shows de música pop chinesa. Até que o palco se abriu e, vestindo roupa de couro, óculos escuros e uma peruca com cabelos brancos até a cintura e um grande moicano roxo, o ex-professor universitário Jack Ma virou o centro das atenções. Ninguém diria que ali estava o terceiro homem mais rico da China, com uma fortuna pessoal de US$ 10 bilhões.
Vejamos a história dele:
Nascido na área rural da China, ele conheceu um turista americano quando era criança, ficou fascinado, e resolveu ir atrás de outros estrangeiros. Passou a ir de bicicleta até o hotel da cidade, pedalando uma hora e meia, só para encontrar gringos e tentar aprender inglês. Fez isso todos os dias por nove anos, até que aprendeu. Virou professor do idioma, ganhando o equivalente a US$ 12 por mês. Em 1995, arranjou um trabalho como tradutor em um projeto e viajou para os EUA, onde viu um computador pela primeira vez e acessou a internet. Ficou maravilhado.
Ao voltar para a China, montou a primeira empresa de internet do país: um site chamado China Pages, que listava os contatos de empresas locais. Mas o governo comunista estranhou. Muitos dos oficiais nunca tinham nem visto um computador, e por isso colocaram vários obstáculos contra a empresa de Jack, que acabou desistindo. Quatro anos depois, em 1999, resolveu tentar de novo. Reuniu 17 amigos e os convenceu a trabalhar de graça na criação do Alibaba. No começo, o site era voltado para comércio entre empresas, com negociações de minério de ferro, máquinas e equipamentos. Deu certo, mas havia um problema. O site não conseguia ganhar dinheiro, pois anunciar nele era (e ainda é) gratuito. Foi então que Jack teve a ideia que o tornaria bilionário: cobrar para dar destaque aos anúncios. Foi o que transformou o Alibaba num gigante, que hoje tem 24 mil funcionários. “Ele não tem nenhum conhecimento de tecnologia, mas sua grande qualidade é montar times com pessoas sem experiência, e motivar essas pessoas”, diz o executivo Porter Erisman, que trabalhou dez anos no site, onde chegou a vice-presidente, e é o diretor de um novo documentário sobre a empresa, Crocodile in the Yangtze (“Crocodilo no Yangtze”, ainda sem versão em português). O filme é apenas um dos que abordam o Alibaba – há pelo menos mais sete a respeito.
Jack Ma é mesmo um ídolo na China, onde é conhecido pela capacidade de convencer qualquer pessoa de qualquer coisa
Conforme foi crescendo, o site também se tornou mais polêmico – e de modo tipicamente chinês. Como qualquer pessoa ou empresa pode anunciar no Alibaba, e são centenas de milhões de produtos, fica difícil saber o que é original e o que não é. Na China, a falsificação também não carrega o estigma que tem no Ocidente. “Uma empresa pode fabricar uma cópia de um produto, ou fazê-lo de maneira levemente diferente, sem que isso seja considerado pirataria.
Oficialmente, o Alibaba proíbe a venda de artigos falsificados, e há casos de anúncios que foram deletados do site por causa disso. O portal também criou o site Tmall.com, que é voltado para o mercado interno chinês e só vende produtos oficiais de marcas conhecidas, como Nike, Adidas, GAP, Apple e Ray-Ban. Outro site criado pelo grupo é o AliExpress, que oferece artigos baratos, como roupas, cosméticos e bugigangas eletrônicas, para o mercado internacional. Ele tem versão em português, e faz sucesso entre os brasileiros – que são seus terceiros maiores clientes (só atrás dos americanos e dos russos). O frete é grátis, mas a entrega é um problema: chega a demorar meses.

Um grande negócio (?)
A nova investida do grupo Alibaba é o AliPay, um serviço que atua como intermediário nas compras e vendas. Ele retém o dinheiro pago pela mercadoria, e só o entrega ao vendedor depois que o comprador recebe o produto e confirma que está tudo OK. Mais ou menos como o MercadoPago e o PagSeguro, no Brasil, e o PayPal, nos EUA. Só que os chineses resolveram dar um passo além. Aproveitaram a popularidade do AliPay para criar um fundo de investimentos, o Yu¿e Bao (algo como “tesouro sobrando”, em chinês), no qual qualquer pessoa pode aplicar seu dinheiro com poucos cliques. Deu muito certo: em apenas dez meses, 81 milhões de chineses investiram no fundo, que já soma US$ 92 bilhões e paga juros de 5,5% ao ano – muito mais que os 0,35% anuais oferecidos pelos bancos. Um negócio irresistível. O sucesso foi tão grande que levou outras empresas chinesas de internet a criar seus próprios fundos de investimento. E está irritando os bancos chineses, que recentemente publicaram um artigo defendendo que o governo imponha regras para conter o Yu¿e Bao. O Alibaba pode acabar sendo atrapalhado pelo próprio sucesso. Ou, se sua oferta de ações der certo, se consolidar como quarta maior empresa de tecnologia do mundo – só atrás de Apple, Google e Microsoft.

10.559 – China vai gastar U$ 16 bilhões para incentivar carros elétricos


SAMSUNG

 

A China está planejando investir U$ 16 bilhões em financiamento para construir estações de carga de veículos elétricos e incentivar a demanda por aqueles movidos com todos os tipos de tecnologia verde, de acordo com fonte governamental.

As políticas serão anunciadas em breve. A fonte não quis fornecer detalhes sobre o plano, sobre sua duração ou se as estações de carga serão compatíveis com os carros fabricados pela Tesla. Seu sócio majoritário, o visionário Elon Musk, visitou este ano o país para reuniões com autoridades do governo, de olho nas possibilidades de um mercado de enorme potencial.

O aumento do financiamento estatal vai ajudar em muito as montadoras preocupadas com o comportamento dos consumidores, em relação a preços, confiabilidade e conveniência dos veículos elétricos. E o setor vai contar ainda com incentivo fiscais anunciados pela China, o maior emissor de gases de efeito estufa do mundo, em mais uma medida para combater a poluição.

“Terá de ser um processo gradual, para aumentar tanto as vendas dos carros quanto o número de estações de carga. Os veículos ainda não são muito atraentes quando comparados a carros convencionais,” disse Ashvin Chotai, diretor da empresa de pesquisa de mercado Intelligence Automotive Asia.

Os incentivos irão cobrir também outras tecnologias verdes, como plug-ins híbridos e a de células de combustível. E daqui por diante a frota oficial terá de adotá-los.

O governo considera ainda incluir outras empresas que não as montadoras na fabricação de  carros elétricos para aumentar a produção e a competitividade, segundo informou em junho o Centro de Pesquisa de Tecnologia Automotiva da China, segundo o Tree Hugger.

10.132 – A China exporta nuvens de poluição para o resto da Ásia


china_antes

A China exporta suas nuvens de poluição para o resto da Ásia. É o que mostram as duas imagens acima. A de cima foi obtida em 20 de fevereiro. Mostra uma nuvem de poluição na região de Pequim (Beijing). Na imagem de baixo, de 25 de fevereiro, a névoa suja já se desloca para fora da China, chegando às Coréias e ao Japão. As imagens são da Nasa, agência espacial americana.
As nuvens são formadas por partículas tóxicas das indústrias na região de Pequim. A inversão térmica (fenômeno que atinge outras cidades como São Paulo) evita que o ar sujo suba para as altas camadas da atmosfera e se disperse mais facilmente. Mas não impede que se desloque para os países vizinhos. Um estudo recente afirma que resíduos da poluição chinesa chegam até a costa americana.
Os níveis de material particulado em Pequim chegaram a 444 microgramas por metro cúbico em 25 de fevereiro, segundo a agência Associated Press. O recomendado pela Organização Mundial da Saúde é de no máximo 25 microgramas. Viver em Pequim nesses dias de poluição é pior do que morar num fumódromo. Ativistas dizem que o país está criando “cidades do câncer” com sua falta de controle de poluição.
Essas partículas podem entrar nos pulmões. Podem gerar crises de asma ou irritação respiratória. A longo prazo, estão associadas a ataques cardíacos e câncer.

china_depois

9687 – Um Dragão Chinês com Fome de Energia


China bate recorde mundial de instalação de energia solar

Em 2013, a China bateu recorde mundial de instalação de projetos fotovoltaicos, que somaram 12 gigawatts (GW). Isso é quase a capacidade solar total instalada dos Estados Unidos.
Nunca um país no mundo adicionou mais do que 8 GW em um único ano. Os dados são de uma análise preliminar da Bloomberg Energy Finance (Bnef).
Com os novos projetos, o mercado solar chinês superou o da Alemanha, que seguia intrépida na liderança no setor. No ano passado, a capacidade instalada na China mais que triplicou, saltando dos 3.6 GW, de 2012, para 15.6 GW.
O desempenho do país respondeu por 28% das instalações mundiais no ano passado, que somou 39 GW. Para 2014, a China planeja instalar mais 14 GW. Graças ao desempenho do mercado chinês, as empresas geradoras de energia estatais do país, a China Power Investment Corporation , China Three Gorges e China Huadian Corporação, tornaram-se as maiores proprietárias do mundo de bens solares.
Em março, a Bnef deve soltar o levantamento consolidado sobre a expansão da energia solar em 2013. É possível que o desempenho chinês surpreenda ainda mais.
Segundo os analistas, os desenvolvedores do país correram para completar os projetos no fim de 2013, antes da expiração de um incentivo público que dava 1 iuene para cada quilowatt-hour. Essa corrida deve ter adicionado 2 GW extras que não foram incluídos nos 12 GW totais.
Segundo a Bnef, os projetos de energia solar da China estão fortemente concentrados em suas províncias ocidentais, nas regiões ensolarados de Gansu (com 24% de todas as instalações de 2013), Xinjiang (18%) e Qinghai (17%).

8868 – Economia & Geo-Política – Desaceleração da economia da China nos anos 2010


Na primeira década dos anos 2000, o forte crescimento econômico da China e das principais economias asiáticas, somado à crise econômica nos EUA e Europa, foram fatores que geraram uma nova ordem econômica no início do século XXI, período em que muitas empresas transnacionais sobreviveram investindo em países emergentes com forte impulso econômico como a China.
No continente asiático, o Japão foi pioneiro como grande economia nos anos 1950 e 1980. Nos anos 1990, foi a vez do surgimento dos “tigres asiáticos”, como Taiwan, Coreia do Sul, Hong Kong e Cingapura. A partir dos anos 1990 e 2000, a China se solidificou como forte economia emergente. Atualmente, a China é a economia aberta mais globalizada do planeta, porém, desde 2010, tem registrado desaceleração econômica.
O ritmo da economia chinesa tem impactado diretamente na economia de todo mundo, pois importa muitas commodities e investe em outros países. Os principais investimentos iniciam no próprio país para aumentar a capacidade produtiva a partir de incentivos à educação, construção de indústrias, infraestrutura logística e novas cidades.
A atual desaceleração da economia chinesa diminui também o ritmo de crescimento dos demais países emergentes e das altas economias tradicionais. Essa pisada no freio do PIB chinês visa atender prioridades do governo frente à crise econômica mundial iniciada em 2008 e ao conjunto de adequações às questões socioeconômicas internas.
Dentre os principais objetivos do governo chinês, podemos destacar:
Manter a moeda nacional mais barata para o país exportar mais;
Manter as baixas taxas de juros;
Sobreviver à demanda mais baixa dos EUA e Europa;
Superar a saturação de seus mercados exportadores;
Não endividar a China perante um mundo que compra menos em tempos de crise.
Depois de um processo de explosão de consumo entre os chineses, a China agora trabalha para reequilibrar suas contas internas e suas questões sociais. Tradicionalmente, o forte crescimento chinês se deve à demanda interna por mão de obra barata, super explorada e necessitada de algumas assistências por parte do estado.
Apesar da explosão do consumo entre o chinês, na média, o que é gasto por um chinês em sua casa é equivalente a um terço do que é gasto pela economia de todo o país. Porém, caso o consumo médio dos chineses aumente e os investimentos econômicos do país se mantenham estagnados, o país poderá gerar inflação e saturação em alguns setores. A desaceleração da economia chinesa pode ser uma maneira de dar um passo para trás e, depois, dar dois para frente.