Sócio Economia – As crises são o motor da criatividade. Mas não no Brasil


Salário Mínimo e Desemprego no Brasil entre 2003-2015 1
A prefeitura estava com as contas capengando. Então tomou uma medida drástica para economizar no orçamento: acabar com a sua frota de carros oficiais. Para não sacrificar os funcionários que dependiam deles para se locomover durante o trabalho, fez um acordo com uma locadora de veículos. Uma locadora meio diferente, a Zipcar, que aluga seus carros por hora – e que você pode pegar e devolver em vários lugares, igual acontece com bicicletas em qualquer cidade grande pelo mundo.
Agora os funcionários públicos usam os ‘zipcars’, mas só no horário comercial. À noite, os veículos ficam à disposição da população, a preços mais baixos que o normal. Como parte do pagamento, a prefeitura libera vagas de zona azul para a empresa. Se deu certo? Bom, em um ano, economizaram 42% nos custos de transporte. Isso e um bônus de 36% menos emissões de CO2, já que os carros acabam rodando menos. Natural: o incentivo que você, funcionário público, tem para usar um carro pago com dinheiro do contribuinte para levar seu cachorro ao pet shop diminui quando o veículo em questão deixa de ser ‘seu’ – coisa que, aqui entre nós, ele nunca foi mesmo.
A única coisa frustrante nessa história é que o caso não aconteceu no Brasil, nem exatamente numa prefeitura. Foi na subprefeitura responsável pelo distrito de Croydon, em Londres. Mesmo assim, não se trata de algo marginal. Croydon tem 173 mil habitantes – o tamanho de uma cidade média no Brasil.
E o caso serve para ilustrar algo que o nosso país precisa aprender urgentemente: cortar gastos públicos não só com ‘responsabilidade’, mas abraçando inovações que já seriam boas com ou sem crise. É o que aconteceu em boa parte dos EUA depois da quebradeira econômica de 2008. O Estado americano de Utah, ao ver sua arrecadação indo para as cucuias, adotou uma jornada de trabalho alternativa: o atendimento ao público nas repartições passou a ocorrer apenas de segunda a quinta, com os funcionários trabalhando 10 horas por dia – sairia mais barato do que abrir o prédio de segunda a sexta. Com o atendimento começando agora às 7h, ninguém parece ter reclamado de ter um dia a menos para resolver as coisas com o governo. Os funcionários também acabaram gostando de ganhar um fim de semana de três dias sem diminuição de salário. A experiência foi copiada por pelo menos 200 cidades americanas nos anos seguintes.
A crise também acelera a busca por novas formas de arrecadação, e nem sempre elas são impopulares. O Estado de Washington, por exemplo, viu-se com uma receita extra de US$ 70 milhões depois de legalizar, e taxar, o consumo da maconha recreativa. Os pagantes do novo imposto não reclamaram, naturalmente.
Vários Estados dos EUA também estão aproveitando as vacas magras para cobrar mensalidade em universidades públicas – cobrar dos alunos ricos (e só deles). Outros Estados que sofrem com cortes de orçamento, como a Califórnia, empregam presidiários para pintar estradas. Mais barato que empreiteira.
Se crises servem de alimento para soluções criativas, enfim, o Brasil tem um banquete à sua disposição. Entre 2008 e 2014, os Estados brasileiros fizeram R$ 180 bilhões em novas dívidas. Com a recessão, que se encaminha para uma depressão, governos estaduais e municipais passaram a arrecadar menos em coisas como IPVA, IPTU e ICMS, que dependem bastante do consumo, em queda. Em algumas partes do País não há dinheiro nem para despesas básicas. A gravidade ficou clara no final de 2015, seja no caos da saúde no Rio de Janeiro, ou nos Estados e prefeituras que tiveram de parcelar o décimo terceiro dos funcionários.
Aqui, o receituário para enfrentar essas crises é previsível e pouco diversificado. Usam impostos – criando novos ou aumentando antigos – e aumentam tarifas. É exatamente o que está acontecendo agora: vide os reajustes nas passagens de ônibus, perpetrados em várias capitais, e os aumentos de impostos já engatilhados pelas prefeituras e governos do País todo. Inclusive do governo federal, que só consegue enxergar uma saída para o lodo com uma eventual volta da CPMF, o imposto que carcome o seu dinheiro a cada transação bancária – depositou o dinheiro da diarista na conta dela? Tome CPMF. A diarista mandou dinheiro para o filho dela pagar a faculdade? Mais CPMF.
É feudal. Medidas como essa são o oposto de qualquer significado aplicável à palavra ‘criatividade’. No fundo é o Estado comendo da própria carne. Também vale lembrar que a palavra ‘Estado’ é uma abstração. O dinheiro que vai para os cofres públicos pertence tanto aos governantes quanto um carro oficial pertence a um funcionário público. Ou seja: não pertence. Talvez um bom começo para que saiamos dessa Idade Média fiscal seja trocar o uso de termos como ‘orçamento estadual’ por ‘dinheiro do contribuinte’. É exatamente o que fazem na França, na Inglaterra ou em qualquer outra democracia madura – grana de governo nesses lugares é
taxpayer money, argent des contribuables. Dinheiro do contribuinte. Ponto. Ao transformar impostos e tarifas em fardos para o contribuinte, o governo força esse agente a consumir menos. Nisso, o coitado gera menos impostos. E ainda tem um bônus: essa mesma redução no consumo deprime a economia, fecha empresas e aumenta o desemprego, fazendo a arrecadação de impostos diminuir mais ainda, numa espiral acelerada rumo à barbárie econômica.
E agora? ‘Agora só com um imposto novo, senão o governo quebra’, responderiam alguns dos gênios eleitos por nós para usar sedãs ‘públicos’ de R$ 120 mil e só viajar de jatinho particular, com os R$ 100 mil que custam cada ida e volta sendo pagos com a prata do contribuinte. Isso sem falar nas mordomias para ocupantes de cargos eletivos, que tornam seus salários de R$ 30 mil mera fração dos seus ganhos, ou das superaposentadorias que sustentam uma casta bizarra de nobres. Aí complica, porque é preciso um solo fértil para que crises germinem na forma de soluções criativas. E enquanto não houver moralidade nem no uso ‘não corrupto’ do dinheiro do contribuinte, nosso solo continuará esse latifúndio improdutivo de sempre.

Mega Techs – Drone que cabe na palma da mão tem reconhecimento facial e desvia de obstáculos


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O ONAGOfly é um drone que tem como propósito fotografar usando a tecnologia de reconhecimento facial e de sorrisos e pesa apenas 140 gramas.
O drone tira fotos e grava com resolução HD, conta com um GPS de navegação e pode ser controlado via aplicativo para smartphones. Por lá, é possível acompanhar em tempo real as fotos e vídeos, identificar a localização do dispositivo e até assistir, via streaming, o trajeto do aparelho.
Caso se depare com algum obstáculo, o ONAGOfly se desvia automaticamente. De acordo com a desenvolvedora, a bateria do drone tem capacidade para até 15 minutos de voo.
O dispositivo está disponível para financiamento coletivo no Indiegogo por a partir de US$ 199. Até agora, a campanha já arrecadou US$ 1,9 milhão. A previsão de entrega do dispositivo é de março de 2016.

Genética – Edição gênica corta e muda DNA para combater doenças como a malária


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Já faz alguns anos que foi demonstrado ser possível modificar o mosquito transmissor da doença para se tornar resistente ao parasita que a causa; a grande questão era como espalhar essa mudança genética entre os insetos na natureza. Graças à técnica conhecida como Crispr-Cas9 isso passou a ser possível.
O estudo, encabeçado por Anthony James, da Universidade da Califórnia em Irvine envolveu introduzir e propagar um gene com ação dual nos mosquitos da espécie Anopheles stephensi, responsável por 12% da transmissão da doença na Índia.
Os alvos desse genes são duas proteínas essenciais produzidas durante o estágio infectante do parasita conhecido pelo nome científico Plasmodium falciparum.
A eficiência na propagação foi de 98% na linha de células germinativas (como óvulos e espermatozoides), isto é, capazes de transmitir informação genética para prole.
Nos insetos, simplificadamente, a engenhoca molecular funciona assim:

1) O ponto de partida são mosquitos geneticamente alterados conseguirem se livrar dos parasitas causadores da malária;

2) O problema é que ao cruzar com mosquitos selvagens, os mosquitos filhos serão, na melhor das hipóteses, híbridos, com um gene “exterminador” de parasitas e outro selvagem (normal), ou seja, parte da terceira geração perderá a capacidade de lidar com os parasitas (por herdar dois genes selvagens);

3) A ideia é manter as duas cópias alteradas, mesmo que o mosquito só tenha uma a princípio e é aí que entra a novidade: os insetos foram programados para sempre copiarem o gene “exterminador” no lugar do gene selvagem;

4) Basicamente é uma automatização da edição genética. Dessa forma, é possível perpetuar o gene “exterminador” e espalhá-lo na população selvagem com grande eficiência; reduzindo ou até acabando com a transmissão da malária.
O artigo com os achados foi publicado recentemente na revista científica “PNAS”.
Estudos com a técnica Crispr-Cas9 em células germinativas são polêmicos, pois com ela passou a ser possível “editar genes” em humanos. Há alguma relação, ainda que distante, com a eugenia, pseudociência que sugeria melhorar a espécie humana permitindo só a reprodução de pessoas “perfeitas”.
Bem menos preocupante, e eticamente aceitável, é empregar a técnica para corrigir mutações em pacientes doentes.
Por exemplo, pesquisadores no Reino Unido curaram uma criança de um ano de idade de leucemia ao editar os genes de células-T, que participam do sistema de defesa do organismo.
Em outro exemplo, três equipes independentes usaram a Crispr-Cas9 e mostraram que foi possível tratar uma distrofia muscular em camundongos (com isso abrindo a possibilidade de tratar uma doença hoje incurável em seres humanos).
A malária já chegou a causar, em anos relativamente recentes, a morte de mais de um milhão de pessoas por ano, especialmente na África, ao sul do Saara.
Em 2014, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a doença matou 580 mil pessoas. Um conjunto de medidas tem diminuído o número de mortes, como novas drogas, uso de mosquiteiros com inseticidas e mudanças no ambiente que impedem a proliferação de mosquitos.
Desde 2001, afirma a OMS, em torno de 3,3 milhões de vidas foram salvas graças a essas medidas, mas a doença continua longe de estar sob controle. Mosquitos transgênicos poderiam fazer a balança pender a favor do controle, ou mesmo erradicação.
Um consenso entre os pesquisadores da área é que não existe uma solução mágica para o problema, mas que para dominar a malária é preciso lutar em várias frentes, e a edição gênica com Crispr-Cas9 é a nova estrela do time.
A técnica surgiu por acaso, quando se notou uma até então desconhecida defesa das bactérias para impedir a contaminação por vírus.
Descobriu-se que a bactéria captura parte do material genético do vírus e o insere no seu próprio DNA, o que funciona como uma “vacina” contra o invasor.
Para fazer isso, a bactéria usa enzimas (nucleases) como tesouras genéticas para editar o DNA. Depois, essas enzimas “picotam” os vírus caso um deles reapareça.
A defesa natural da bactéria virou uma técnica de laboratório para editar genes a partir de 2012 e vem sendo aperfeiçoada desde então.
De certo modo, a “estratégia” se assemelha à utilizada pelo exército americano na Guerra do Vietnã: “seek and destroy” (“buscar e destruir”) -só que com melhor sucesso.
A Crispr-Cas9 vem sendo apontada como grande promessa e foi chamada de revolucionária pela revista “Nature” e eleita “técnica do ano” de 2015 pela revista “Science”.