Idade da Terra, ou as Idades da Terra



De acordo com a maior parte dos cientistas que estudam o passado geológico da Terra, o nosso planeta possui aproximadamente 4,5 bilhões de anos. Porém, não se trata de uma medição totalmente precisa, pois a margem de erro dessa datação é estimada em 10%. Várias vezes, anteriormente, a idade da Terra foi recalculada à medida que novas evidências eram encontradas e as técnicas melhoradas. O que se via é que, a cada medição feita, a Terra era mais velha do que se imaginava.
O método utilizado para calcular a idade da Terra é a datação dos átomos de Urânio, que se transformam em átomos de chumbo, liberando radiação. Com isso, após certo tempo, que é chamado de meia-vida, resta apenas metade desse urânio. Dessa forma, calculando a quantidade restante de urânio nas rochas mais antigas do planeta, é possível precisar a sua idade.
O interessante é observar que essa datação não é realizada sobre as formações rochosas oriundas da própria Terra, e sim a partir de fragmentos de meteoritos que caíram sobre o nosso planeta. Isso porque as rochas da Terra estão em constante transformação, através do ciclo das rochas, o que dificulta a precisão da medição de suas idades.
De acordo com essa medição e considerando os sucessivos períodos que marcaram as eras geológicas, podemos considerar que a história da humanidade é muito pequena em relação à história da Terra. Por esse motivo, costuma-se distinguir o tempo histórico do tempo geológico. O primeiro é sempre medido na escala dos milhares, e o segundo, na escala dos milhões e bilhões.
Para se ter uma ideia dessa diferença, se reduzirmos a história da Terra em 24 horas, os primeiros Homo Sapiens teriam surgido às 23 horas, 59 minutos e 57 segundos. A história do homem, portanto, seria de meros 3 segundos.
Hoje as pesquisas no país em geocronologia (estudo da idade de rochas e eventos geológicos) e geologia de isótopos (estudo da composição do material para determinar sua origem) dependem de processos demorados em laboratórios superlimpos, onde são feitas a dissolução química de grãos de minerais, rochas ou de material sedimentar e a conseqüente análise da composição de isótopos. E o que se obtém, em alguns casos, é uma média de idade do material, composto ao longo de eventos que demoraram milênios para acontecer. Quando se pretende fazer datações de fases individuais de crescimento dos cristais, a opção é mandar o material para análise em outros países — estima-se que US$ 200 mil por ano sejam gastos com o uso de microssondas desse tipo no exterior. Só existem dez desses equipamentos no mundo. O da USP será o primeiro na América Latina.
Com a sonda da USP, comporão uma rede de pesquisas, batizada de GeoChronos (rede nacional e estudos geocronológicos, geodinâmicos e ambientais), com a participação da Petrobras e do Serviço Geológico do Brasil. Um comitê vai definir os projetos a serem realizados. “Os laboratórios serão compartilhados em nível nacional e também por pesquisadores de outros países, sobretudo da América Latina, através de convênios científicos específicos”, diz o geólogo Ciro Jorge Appi, gerente executivo da GeoChronos. “Isso é importante tanto para a Petrobras quanto para o Serviço Geológico Nacional, que aprimorarão o conhecimento das potencialidades de todo o continente sul-americano. Hoje laboratórios estrangeiros onde encomendamos estudos dessa natureza desfrutam mais rapidamente das informações sobre nosso continente.”
A microssonda Shrimp da USP dispensa a dissolução química e submete os grãos a um bombardeio de um feixe de íons de oxigênio. O feixe é posicionado para atingir pontos específicos e minúsculos do grão rochoso e determinar a idade de cada um deles. O bombardeio provoca a fusão dos pontos desejados e libera íons de urânio e chumbo. O material passa por um espectrômetro de massa de alta resolução, capaz de separar até mesmo isótopos com massas muito próximas, e de alta sensibilidade, capaz de medir quantidades muito pequenas de elementos.
Células detectoras de íons recebem os isótopos separados e fornecem os dados necessários para o cálculo das idades de formação de cada um dos pontos, revelando a história do processo geológico daquele grão. A tecnologia consegue analisar uma grande quantidade de zircões, cristais depositados em bacias sedimentares de campos com potencial petrolífero e, assim, saber a história de sua formação e suas características. Isso auxilia na avaliação do potencial das reservas.
Também tem aplicação em datações de todo tipo de rochas, o que permitirá a elaboração de mapas geológicos mais precisos e em menor tempo. Será útil para as mineradoras, pois pode agilizar a descoberta de novos depósitos. “Com a microssonda será possível dar um salto de qualidade e aumentar o número de artigos brasileiros em revistas internacionais”, diz Colombo Celso Gaeta Tassinari, professor titular do Centro de Pesquisas Geocronológicas do Instituto de Geociências da USP, que articulou a compra do laboratório.