História – Quanto Custou Brasília Para o Brasil


A construção de Brasília custou U$83 bilhões em valores atuais, cerca de mil arenas de Copa do Mundo, em um país com PIB mais de cem vezes menor que hoje.
Juscelino Kubitschek, embora lembrado por ter executado o projeto de Brasília, não foi seu idealizador. A vontade política para a construção de uma nova capital no interior do país vem desde 1808, com a ideia de elevação do status do Brasil como país e a simbolização do desenvolvimento pós-independência.

O caráter desenvolvimentista, ou então da busca pelo novo, foi base da argumentação da maioria dos defensores da mudança, cada um com uma vertente diferente. As primeiras teorias de planejamento urbano e territorial viam aglomerações de pessoas como um problema a ser resolvido. Não haveria, assim, motivo para tantas pessoas ocuparem espaços tão pequenos se o país tem um território tão extenso.

Ainda, em um processo de criação de uma nova cidade, seria possível a integração e desenvolvimento das regiões interioranas. A “Marcha para o Oeste”, política implementada por Getúlio Vargas na década de 30, também refletiu este pensamento, tendo levado à incorporação de Goiânia na década de 30, e discurso recorrente da revista “Brasília”, que documentou a construção da nova capital.

Embora estes argumentos reflitam as realidades das suas épocas, tanto do estado das coisas como do conhecimento técnico disponível, hoje estariam ultrapassados. Hoje se entende que mercados de trabalho criados através de aglomerações de pessoas — cidades — possuem ganhos de escala: se dispersássemos os mais de 200 milhões de brasileiros no território, teríamos uma sociedade mais pobre, ineficiente e improdutiva.

Associações de todo tipo, de governos a empresas, de clubes de futebol a bandas de rock, seriam inviáveis ou impossíveis sem cidades, dada a dificuldade de encontrar e juntar as pessoas certas para um determinado objetivo.

Cidades se desenvolvem de forma relativamente espontânea por este motivo: mesmo em países como a China, que tenta restringir a migração interna através do sistema hukou, movimentos migratórios ocorrem entre uma cidade e outra de forma não planejada, em uma espécie de concorrência por moradores.

Além disso, ao dispersar a população no território, o custo de implementação de qualquer sistema, seja ele de infraestrutura ou de serviços públicos, também encarece.
Juscelino Kubitschek, embora lembrado por ter executado o projeto de Brasília, não foi seu idealizador. A vontade política para a construção de uma nova capital no interior do país vem desde 1808, com a ideia de elevação do status do Brasil como país e a simbolização do desenvolvimento pós-independência.

O caráter desenvolvimentista, ou então da busca pelo novo, foi base da argumentação da maioria dos defensores da mudança, cada um com uma vertente diferente. As primeiras teorias de planejamento urbano e territorial viam aglomerações de pessoas como um problema a ser resolvido. Não haveria, assim, motivo para tantas pessoas ocuparem espaços tão pequenos se o país tem um território tão extenso.

Ainda, em um processo de criação de uma nova cidade, seria possível a integração e desenvolvimento das regiões interioranas. A “Marcha para o Oeste”, política implementada por Getúlio Vargas na década de 30, também refletiu este pensamento, tendo levado à incorporação de Goiânia na década de 30, e discurso recorrente da revista “Brasília”, que documentou a construção da nova capital.

Embora estes argumentos reflitam as realidades das suas épocas, tanto do estado das coisas como do conhecimento técnico disponível, hoje estariam ultrapassados. Hoje se entende que mercados de trabalho criados através de aglomerações de pessoas — cidades — possuem ganhos de escala: se dispersássemos os mais de 200 milhões de brasileiros no território, teríamos uma sociedade mais pobre, ineficiente e improdutiva.

Associações de todo tipo, de governos a empresas, de clubes de futebol a bandas de rock, seriam inviáveis ou impossíveis sem cidades, dada a dificuldade de encontrar e juntar as pessoas certas para um determinado objetivo.

Cidades se desenvolvem de forma relativamente espontânea por este motivo: mesmo em países como a China, que tenta restringir a migração interna através do sistema hukou, movimentos migratórios ocorrem entre uma cidade e outra de forma não planejada, em uma espécie de concorrência por moradores.

Além disso, ao dispersar a população no território, o custo de implementação de qualquer sistema, seja ele de infraestrutura ou de serviços públicos, também encarece.

Isto não significa que todo investimento público em cidades menores é inadequado, mas que não há motivos econômicos para subsidiar o desenvolvimento de algumas geografias de forma desproporcional ao resto do país.

Políticas de interiorização, na realidade, ajudam a manter cidadãos longe dos principais centros urbanos que, pela sua natureza intrínseca, potencializam a produtividade humana dado seu poder de nos conectarmos como sociedade.

Recentemente, em evento no Insper em São Paulo, ao discutir sobre “place based aid vs. people based aid”, ou seja, a comparação entre as políticas públicas para ajudar lugares e as políticas para ajudar pessoas, o economista Edward Glaeser comenta que “ao jogar dinheiro em locais [economicamente improdutivos], você está basicamente subornando as pessoas a morarem em lugares menos produtivos e frequentemente piores em providenciais de serviços sociais básicos”.

Este seria o custo indireto da construção de Brasília: a perda da eficiência urbana, transferindo artificialmente milhares de pessoas de cidades que elas tinham escolhido morar para uma cidade que, por decreto, agora iria não apenas existir, mas se tornaria a capital do país.

Somado a isso, é preciso incorporar o custo da transferência de setores governamentais e, ainda, o custo logístico agora recorrente para abastecer uma cidade isolada, de combustível a papel higiênico. Custos talvez dispersos e difíceis de contabilizar, mas enormes.

O custo direto da construção de Brasília, no entanto, das amplas rodovias às monumentais construções, foi estimado em U$83 bilhões em valores atuais. Para se ter uma ideia de grandeza, este valor é equivalente a mil arenas de futebol construídas para a Copa do Mundo, em um país com um PIB mais de cem vezes menor que hoje.

Estima-se que o gasto somente para a construção de Brasília teria sido 10% do PIB do Brasil em um determinado ano na época da sua construção. Para comparação, o gasto recomendado pelo Banco Mundial para investimento sustentável em toda infraestrutura do país é de 4,5% do PIB.

O governo brasileiro da época (ou talvez qualquer outro governo) não tinha os recursos disponíveis para um projeto estrondoso como o de Brasília. Assim, a estratégia adotada foi a da inflação: emitir mais moeda, desvalorizando-a como um todo.

Na época, a repercussão de uma inflação acelerada ainda não tinha sido amplamente estudada no campo da economia. A consequência foi a rápida desvalorização da moeda e, com isso, o poder de compra da população, afetando principalmente a população mais pobre.

A escala de gastos com Brasília levou a um dos maiores níveis de inflação até então, sendo uma das principais causas da instabilidade econômica do governo de João Goulart, que sucedeu JK. Nesta época, os desabastecimentos eram frequentes, um prelúdio ao período da hiperinflação dos anos 80 após a ditadura militar, que não aprendeu com o passado e replicou o impulso de expansão monetária como forma de financiamento de grandes projetos.

Juscelino Kubitschek, embora lembrado por ter executado o projeto de Brasília, não foi seu idealizador. A vontade política para a construção de uma nova capital no interior do país vem desde 1808, com a ideia de elevação do status do Brasil como país e a simbolização do desenvolvimento pós-independência.

O caráter desenvolvimentista, ou então da busca pelo novo, foi base da argumentação da maioria dos defensores da mudança, cada um com uma vertente diferente. As primeiras teorias de planejamento urbano e territorial viam aglomerações de pessoas como um problema a ser resolvido. Não haveria, assim, motivo para tantas pessoas ocuparem espaços tão pequenos se o país tem um território tão extenso.

Ainda, em um processo de criação de uma nova cidade, seria possível a integração e desenvolvimento das regiões interioranas. A “Marcha para o Oeste”, política implementada por Getúlio Vargas na década de 30, também refletiu este pensamento, tendo levado à incorporação de Goiânia na década de 30, e discurso recorrente da revista “Brasília”, que documentou a construção da nova capital.

Embora estes argumentos reflitam as realidades das suas épocas, tanto do estado das coisas como do conhecimento técnico disponível, hoje estariam ultrapassados. Hoje se entende que mercados de trabalho criados através de aglomerações de pessoas — cidades — possuem ganhos de escala: se dispersássemos os mais de 200 milhões de brasileiros no território, teríamos uma sociedade mais pobre, ineficiente e improdutiva.

Associações de todo tipo, de governos a empresas, de clubes de futebol a bandas de rock, seriam inviáveis ou impossíveis sem cidades, dada a dificuldade de encontrar e juntar as pessoas certas para um determinado objetivo.

Cidades se desenvolvem de forma relativamente espontânea por este motivo: mesmo em países como a China, que tenta restringir a migração interna através do sistema hukou, movimentos migratórios ocorrem entre uma cidade e outra de forma não planejada, em uma espécie de concorrência por moradores.

Além disso, ao dispersar a população no território, o custo de implementação de qualquer sistema, seja ele de infraestrutura ou de serviços públicos, também encarece.

O custo direto da construção de Brasília, no entanto, das amplas rodovias às monumentais construções, foi estimado em U$83 bilhões em valores atuais. Para se ter uma ideia de grandeza, este valor é equivalente a mil arenas de futebol construídas para a Copa do Mundo, em um país com um PIB mais de cem vezes menor que hoje.

Estima-se que o gasto somente para a construção de Brasília teria sido 10% do PIB do Brasil em um determinado ano na época da sua construção. Para comparação, o gasto recomendado pelo Banco Mundial para investimento sustentável em toda infraestrutura do país é de 4,5% do PIB.

O governo brasileiro da época (ou talvez qualquer outro governo) não tinha os recursos disponíveis para um projeto estrondoso como o de Brasília. Assim, a estratégia adotada foi a da inflação: emitir mais moeda, desvalorizando-a como um todo.

Na época, a repercussão de uma inflação acelerada ainda não tinha sido amplamente estudada no campo da economia. A consequência foi a rápida desvalorização da moeda e, com isso, o poder de compra da população, afetando principalmente a população mais pobre.

A escala de gastos com Brasília levou a um dos maiores níveis de inflação até então, sendo uma das principais causas da instabilidade econômica do governo de João Goulart, que sucedeu JK. Nesta época, os desabastecimentos eram frequentes, um prelúdio ao período da hiperinflação dos anos 80 após a ditadura militar, que não aprendeu com o passado e replicou o impulso de expansão monetária como forma de financiamento de grandes projetos.

Não é exagero dizer que tal instabilidade econômica provocado pela inflação para a construção de Brasília tenha contribuído para o crescimento da oposição que levou ao golpe militar de 64.


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