9215 – Mega Sampa – O Projeto Tietê


Lançado em 1992, durante o governo de Luiz Antônio Fleury Filho, o Projeto Tietê está na terceira fase e atingirá, no final de 2016, investimentos de 5,6 bilhões de dólares – o equivalente a 12,5 bilhões de reais. Sob responsabilidade da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), o Projeto Tietê tem o objetivo de elevar os índices de coleta e tratamento de esgoto na Grande São Paulo. Para 2016, a meta é passar dos atuais 84% na coleta para 87%, e o tratamento de 70% para 84%. Há 21 anos, o Projeto Tietê nasceu depois de um abaixo-assinado com 1,2 milhão de nomes. Paralelamente, uma movimentação política entre Fleury e o ex-presidente Fernando Collor de Mello conseguiu derrubar o projeto para controle de enchentes proposto pela prefeita Luiza Erundina ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). De olho na Eco 92, realizada em junho do mesmo ano, Fleury conseguiu aprovar os investimentos para o Projeto Tietê.
Desassoreamento do Rio Tietê
O projeto para retirar milhões de toneladas de lixo e sedimentos acumulados no leito do rio Tietê teve início após contrato firmado entre quatro empresas e o Departamento de Águas e Energia Elétrica (Daee), em 2008. O projeto foi orçado em 27,2 milhões de reais.

6890 – Poluição – Um Mergulho no Tietê


E aí, vai encarar?

Entrevista com um homem que faz um trabalho dificílimo: mergulhar no Tietê

Como é o seu trabalho?

R: Funciona assim: antes de a água sair da capital em direção ao interior, ela passa por uma barragem com uma grade que segura o lixo. e quando essa grade entope, a turbina da barragem começa a trepidar, porque não tem água chegando. É quando fazemos a limpeza. É tudo pelo tato, porque não dá para enxergar nada dentro do rio. Descemos sempre com uma guia, que pode ser a parede. e se você perder essa referência não vai saber onde está, se é em frente à barragem, para esquerda, ou direita. Aí precisa voltar para a superfície.

Quais as coisas mais bizarras que você tirou do rio?

R: Tem de tudo lá, fogão, geladeira, gente morta. sabe aquelas bolhas que saem do Tietê? É material orgânico em decomposição: cadáver, animal, porco. Numa das vezes em que amarrei a grade e subiram para limpeza, apareceu junto uma bolsa. E quando abriram, encontraram us$ 2 mil. Aí, depois disso, qualquer mala que puxavam do rio, o pessoal pulava para ver se era dinheiro. E numa dessas tinha uma mulher toda recortada, esquartejada lá dentro. Você identifica pelo cheiro: quando sai da água e bate o sol, fica um fedor incrível. E aí tivemos de ir até a delegacia. Há uns 8, 10 anos, quase todo dia tirávamos um corpo de lá. Agora melhorou, é mais raro.

Já mergulhou em algum lugar pior que o Tietê?

R: Uma vez mergulhamos numa estação de tratamento de esgoto. Esgoto mesmo. E até hoje não sei qual é pior, se isso ou alguns pontos do Tietê e Pinheiros, porque tem coisa demais lá dentro: cadáver, feto, tudo. Desculpe pela palavra, mas literalmente você fica na m*** nesses rios.

Quanto você recebe pelo serviço?

R: O salário é cerca de R$ 1 000, mais 30% de periculosidade e adicionais. E tem mais R$ 40 e poucos pelo desgaste orgânico. Antigamente acho que um trabalho desses rendia mensalmente em torno de R$ 5 mil. Hoje varia de r$ 2 a 4 mil. Isso se eu passar o mês todo mergulhando no Tietê, né?

Como é a sua roupa?

R: É americana, de PVC, com espessura de 1 a 2 milímetros e não pesa quase nada. Ela se molda ao punho e pescoço. Daria para entrar no rio até de smoking e sair do mesmo jeito, de tão impermeável. O problema é quando fura, quando pega um caco de vidro ou arame, aí temos de pedir logo para o pessoal puxar de volta para a superfície, ou então você fica em contato direto com a água do Tietê. Antigamente a gente descia com uma roupa comum de surfista, que molha. E nem sempre eu usei capacete, às vezes era uma válvula de mergulho comum. Naquela época tinha de ser cangaceiro, combatente mesmo. Mas era muito difícil, só trabalhava quem precisava mesmo, e o salário era maior. Até porque naquela época não tinha tanta gente disposta a fazer isso. Às vezes, alguém raspava o braço na grade e se machucava: muita gente tinha a mão ou pé necrosados.